São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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PACOTE CALMANTE

Cai de US$ 2 bilhões para US$ 1,4 bilhão o volume de recursos de fora que entraram no país no mês passado

Cai investimento estrangeiro em maio

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O total de investimento direto estrangeiro no Brasil atingiu a cifra de pouco mais de US$ 1,4 bilhão em maio, um volume 30% menor do que os US$ 2 bilhões registrados em abril.
Nos primeiros cinco meses do ano, o total de investimento direto estrangeiro (IDE) soma cerca de US$ 8,1 bilhões.
A informação foi confirmada ontem à Folha pelo diretor de Política Econômica, Ilan Goldfajn. Segundo ele, apesar da queda em relação a abril, o número de maio pode ser considerado positivo, já que, se esse valor for mantido mensalmente até o final do ano, será atingida com folga a meta de US$ 18 bilhões projetada pelo Banco Central.
Goldfajn acha que as turbulências observadas no mercado financeiro nas últimas semanas não devem se refletir nos números do IDE. Segundo ele, um investidor estrangeiro quando decide pôr dinheiro no país não pensa no curto prazo, mas num horizonte mais longo. Por isso, ele acha que o volume de entrada de recursos para investimentos diretos não deverá cair.
O economista Paulo Leme, da Goldman Sachs, considera o número de US$ 1,4 bilhão um ponto fora da curva traçada para o IDE deste ano. Segundo ele, o IDE poderá se recuperar à medida que o presidenciável do PSDB, José Serra, reduzir a distância que o separa do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas eleitorais. Ele acha que essa distância deve encurtar em breve.
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica), diz que o número de IDE de maio, apesar de ser um sinal de queda, não compromete sua previsão de US$ 17,7 bilhões para este ano.

Adiamentos?
Para Lacerda, o mais importante é saber como irão se comportar os investimentos diretos, a partir de agora até as eleições. Ele acha que, se o mercado continuar agitado, é possível que investimentos externos sejam adiados.
Apesar da queda dos investimentos diretos em maio, o resultado ainda não compromete a expectativa de que o Brasil não terá problemas para fechar as contas externas no final do ano.
O Brasil apresenta déficit na chamada conta de transações correntes, que registra o resultado de todas as operações feitas com o exterior.
Por isso, a conta de investimentos diretos é importante para o Brasil. Além do impacto positivo que têm sobre o setor produtivo da economia, esses recursos ajudam a compensar o déficit em transações correntes e a equilibrar o balanço de pagamentos.
Segundo Sandra Utsumi, economista-chefe da BES Securities, o déficit em transações correntes brasileiro acumulado em 12 meses deve ter atingido US$ 20,9 bilhões em maio.
Com o US$ 1,4 bilhão de investimentos diretos recebidos de fora no mês passado, o fluxo total desses recursos alcança US$ 23,75 bilhões nos últimos 12 meses. O resultado é suficiente para cobrir o rombo das transações correntes.
Nas contas de Alexandre Schwartsman, economista-chefe da BBA Corretora, ainda que seja mantida uma média de US$ 1 bilhão de investimentos diretos de agora até o fim do ano, as contas externas do país ficam cobertas.
O perigo, advertem especialistas, é que esse valor entre numa trajetória de forte queda daqui para a frente.



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