São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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PACOTE CALMANTE

Banco Central aumenta de 10% para 15% a alíquota de recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo

Compulsório tira R$ 6,5 bi de circulação

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de 24 horas depois de o governo anunciar um minipacote econômico com o objetivo de conter o nervosismo do mercado, o Banco Central precisou atuar de maneira agressiva, desde a manhã de ontem, numa nova tentativa de acalmar os investidores.
O BC vendeu dólares no mercado para segurar as cotações e retirou R$ 6,5 bilhões do mercado para conter a especulação, mas não conseguiu frear a alta da moeda norte-americana.
Pouco depois do início das operações no mercado de câmbio, o BC já anunciava o aumento, de 10% para 15%, da alíquota de recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo. Isso quer dizer que, de agora em diante, de cada R$ 100 que os bancos captam por meio de CDBs (Certificado de Depósito Bancário), R$ 15 precisam ser depositados no BC.
A medida deve retirar cerca de R$ 6,5 bilhões do mercado. Com menos dinheiro em caixa, os bancos terão menos recursos disponíveis para, por exemplo, comprar dólares, o que pode frear a alta da cotação da moeda. Segundo o chefe do Departamento de Operações Bancárias do BC, José Antônio Marciano, o objetivo da medida é retirar dos bancos recursos que "poderiam ser usados em ações especulativas".
A mesma medida já havia sido adotada em outubro de 2001. Na época, a cotação do dólar chegou a ultrapassar os R$ 2,80, e o BC elevou a alíquota do compulsório de zero para 10%.
Além de reduzir a pressão sobre a cotação do dólar, o aumento do compulsório provoca a alta dos juros praticados pelos bancos: com menos recursos disponível, as instituições financeiras passam a cobrar taxas maiores para fazer empréstimos.
Ainda de manhã, segundo operadores, o BC já havia feito sua primeira intervenção no câmbio desde dezembro, quando eram vendidos diariamente US$ 50 milhões. A venda de dólares só foi confirmada pelo BC no final da tarde. O valor da intervenção deve ser divulgado na quarta-feira.
Mesmo com a ação do BC, o dólar encerrou a manhã cotado a R$ 2,718, praticamente estável em relação a quarta-feira.
À tarde, o BC passou a atuar com títulos públicos pós-fixados, comprando papéis que vencem entre 2004 e 2006 e substituindo-os por outros que vencem em outubro deste ano. Desde 1999 o governo não vendia títulos pós-fixados com vencimento tão curto.

Recuperação
Ao trocar papéis com vencimento em até quatro anos por outros de prazo mais curto, o BC tenta estimular a recuperação das cotações dos títulos públicos que vencem a partir de 2003. Esses títulos têm se desvalorizado, em parte, por causa da ansiedade trazida ao mercado pelas eleições.
A preocupação com o cenário político tem dificultado a rolagem da dívida pública, pois o mercado está exigindo juros muito elevados para investir em papéis do governo. Ontem, o Tesouro cancelou o leilão semanal de títulos públicos que deveria ser realizado na próxima terça-feira. Em nota divulgada no final da tarde, o Tesouro informou que o cancelamento foi decidido por causa "da volatilidade que o mercado financeiro vem apresentando".
A uma hora do encerramento dos negócios, o BC anunciou ainda que irá fazer um leilão de linha externa na próxima segunda-feira. Esse tipo de leilão faz parte do conjunto de medidas anunciadas pelo governo na última quarta.



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