São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Para analistas, turbulência deve diminuir

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As medidas adotadas pelo BC ontem tiveram impactos positivos e ajudaram a diminuir a turbulência nos mercados, avaliam analistas ouvidos pela Folha. Eles dizem que, apesar de o BC ter uma capacidade limitada de atuação, a autoridade monetária conseguiu diminuir o nervosismo, ainda que temporariamente.
O dólar fechou em alta, num dia relativamente mais calmo. "As medidas devem começar a ter efeitos mais fortes na próxima semana", diz José Berenger, diretor do banco BBA.
"Apesar de não terem contido o dólar, [as medidas" acalmaram o mercado. Isso fica claro se observamos que a turbulência no mercado internacional foi bem maior e não foi acompanhada pelo mercado interno", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
O BC vendeu dólares, aumentando a oferta da moeda, para tentar conter a queda do real. Houve também um leilão de swap cambial -papéis atrelados ao câmbio. A oferta desses títulos também ajuda a conter a alta da moeda norte-americana. Quando os investidores temem a desvalorização cambial, a procura por dólares aumenta. Um leilão de papéis que protegem contra as oscilações da taxa de câmbio atende à demanda por proteção, evitando uma alta do dólar.
A intervenção por meio da venda de dólares foi pequena. "O BC está tentando conter um pouco as turbulências. Mas a capacidade de intervenção é limitada", diz João Luiz Mascolo, da consultoria Foresee. Ele lembra que, em 1998, tentando defender o câmbio fixo, o governo perdeu mais de US$ 25 bilhões em reservas em apenas um mês. "O BC não pode arriscar muito. Se o nervosismo for muito grande, ele [o BC" pode se dar mal", diz Mascolo.
O governo trocou títulos que venciam nos próximos três anos por papéis que vencem em outubro. Com essa medida, a equipe econômica tenta reduzir o temor do mercado em relação a um possível calote, já que os novos papéis vencem durante o governo atual.
Com a troca, o governo começou a reduzir o prazo médio da dívida pública, ou seja, os vencimentos ficam mais curtos. A medida pode dificultar a rolagem (refinanciamento) dos papéis, mas é considerada adequada pelos analistas, que dizem que ela é imprescindível para tranquilizar os investidores. "[O encurtamento do prazo da dívida" é uma consequência inevitável do cenário atual", diz Berenger.
O BC aumentou também os requerimentos de depósitos compulsórios -a quantidade de recursos que, obrigatoriamente, os bancos têm de deixar depositada no BC. A medida é uma tentativa de enxugar a liquidez no mercado brasileiro, ou seja, reduzir a quantidade de dinheiro e crédito disponível. Com menos recursos, diminuiria a capacidade de bancos e investidores comprarem dólares, o que pode ajudar a amenizar a pressão no câmbio.



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