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LUÍS NASSIF
A estratégia da Volks
O presidente da Volkswagen do Brasil, Herbert Demel, às vezes se perde pela língua, como em alguns episódios
pelos quais foi alvo de críticas
aqui. Mesmo com esse passivo
verbal, conseguiu alguns feitos
que merecem uma análise mais
apurada.
Houve uma revolução na unidade da Anchieta, que começou
a ser pensada em 1997. Os fatores
desfavoráveis à Anchieta eram o
custo da mão-de-obra, a inflexibilidade da jornada de trabalho,
os custos fixos elevados devido à
verticalização da produção, a dificuldade de implantação de novos conceitos operacionais e a dificuldade de implantação de um
novo modelo em paralelo ao sistema antigo. A favor, havia o
complexo de logística consolidado, a estrutura da fábrica nova,
a estamparia interna e a mão-de-obra qualificada.
Desde o início da Autolatina
(a tentativa de fusão com a
Ford) até recentemente, os diversos presidentes da Volkswagen
eram dotados de visão estritamente financeira. De 1980 a 1995
praticamente não ocorreram investimentos na fábrica Anchieta
nem se mudaram os processos.
Recentemente, consultores de
gestão que passaram por lá se
mostravam surpresos com a dicotomia entre qualidade de engenharia e anacronismo de processos.
A fábrica transformou-se em
um castelo de fantasmas. Mas tirar prédios e máquinas imprestáveis significaria tirar do inventário e dar baixa contábil, gerando gastos.
A decisão de ficar foi tomada
no segundo semestre de 1997,
quando se adotou o Masterplan,
projeto de Demel, que antes havia passado pela Audi. O foco do
projeto visava melhorar a produtividade, reduzir drasticamente a complexidade da operação, reduzir custos operacionais
e logísticos e adequar a estrutura
a processos mais modernos. Foram criados cinco grupos de trabalho: de produtividade, "outsourcing", custo logístico, infra-estrutura e layout da fábrica, baseado no Toyota System.
Para ser autofinanciável, começaram a vender outros ativos,
como prédio no Jabaquara e a
fábrica de caminhões da
Chrysler. Também foram demolidos 37 pequenos galpões menores que 5 mil m2.
Na teoria, teria sido melhor fechar a fábrica, diz Demel. Mas
não havia condições políticas
para tanto. Decidiu-se então
reestruturar e reinvestir na fábrica depois de finalizar Curitiba.
Como não poderia parar a
produção, a fábrica foi dividida
em duas. A antiga continuou
operando e a nova começou a ser
montada. Com o tempo a parte
velha vai morrer. A parte velha
foi compactada em metade da
fábrica. Depois se reconstruiu a
parte de dentro e se introduziram as novas linhas.
O novo processo
A partir de 1997 uma equipe foi
incumbida de viajar o mundo
inteiro, para absorver todas as
iniciativas pioneiras da VW e
dos concorrentes e desenvolver
um projeto moderno. O sistema
de produção foi preparado para
trabalhar com o conceito de módulos básicos, fáceis de serem
montados.
Ao todo, o carro tem cinco módulos: o cockpit, (painel, pedaleira, colunas), a dianteira, o agregado mecânico, o agregado motriz e as portas. Os módulos sobem do primeiro para o segundo
andar, já prontos, são encaixados e parafusados automaticamente, tudo monitorado por sistemas de consumidor. A segunda geração do Gol tinha 1.300
itens montados; a do Polo quatro portas, apenas 450. A quantidade de itens pré-montados caiu
de mil para vinte.
Quando mudaram o sistema,
a previsão era que o Masterplan
traria economias da ordem de
R$ 170 milhões. Já chegou aos R$
144 milhões. O investimento total chegou a R$ 2 bilhões.
A estratégia da Volkswagen é
ousada. Sua meta é buscar as
faixas médias de renda. Segundo
sua visão, os carros mais acessíveis só vendem porque são mais
acessíveis, não por ser objeto de
desejo. Como existe um poder de
compra limitado, o desejo do
consumidor é saltar de faixa assim que melhorar a renda, diz
Demel. A estratégia custou a liderança do mercado, em termos
de unidade vendida, mas melhorou o faturamento e o lucro.
Apesar das reclamações sobre
o nível de salários no ABC, é certo que a VW conta com um aliado de peso: a racionalidade que
domina as ações do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC. E com
um adversário de peso: a dificuldade para a economia deslanchar e melhorar a renda familiar.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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