São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002 |
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COLAPSO DA ARGENTINA País teria ameaçado não pagar US$ 2,7 bilhões de dívidas em julho se instituição não der ajuda Argentina ameaça FMI com possível calote
JOÃO SANDRINI DE BUENOS AIRES A Argentina ameaça dar calote nos organismos multilaterais de crédito pela primeira vez em sua história para apressar o fechamento de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) até 15 de julho. Nessa data, o país tem que pagar US$ 1,7 bilhão ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Também em julho, o país precisa honrar outro empréstimo de US$ 1 bilhão com o próprio FMI. Desde o começo desta semana, o ministro Roberto Lavagna (Economia) já não garantia a utilização das reservas internacionais para pagar esses compromissos. Na última quarta-feira, as reservas do país caíram pela primeira vez abaixo dos US$ 10 bilhões, para um total de US$ 9,97 bilhões. O atual patamar das reservas é considerado perigoso pelo governo, que teria pouco poder de fogo para conter possíveis altas do dólar. Preocupado, Lavagna teria, segundo a imprensa local, formalizado a ameaça de dar calote no FMI em conversa com o chefe da missão que está no país, John Thornton, na última quinta-feira. Para Lavagna, o FMI estaria bastante rigoroso, fazendo exigências impossíveis de serem cumpridas no curto prazo. Entre as exigências, Thornton pediu que o presidente Eduardo Duhalde vete quatro artigos do projeto aprovado no Congresso que eliminou a lei de Subversão Econômica. No entanto, o governo e os parlamentares chegaram a acordo para vetar só um artigo. O FMI também quer alterações no decreto que flexibiliza as restrições bancárias do curralzinho com o objetivo de evitar a fuga de recursos dos bancos e, consequentemente, um aumento da pressão sobre o dólar. O Fundo ainda exige a assinatura de acordo formais, e não cartas de intenção, com as Províncias para a redução do déficit fiscal em 60%. Além disso, o organismo também pede a reestruturação dos bancos estatais Nación e Província, os dois maiores do país, e uma emissão mais cautelosa de moeda para ajudar os bancos. Para o governo, teria ficado claro que Thornton pretende manter as políticas rigorosas que o FMI tem adotado desde o final de 2001, mesmo com a maior possibilidade de contágio da crise em outros países da América Latina. "A negociação não vai ser breve nem fácil", disse o chefe de gabinete, Alfredo Atanasof, que se reuniu ontem com Thornton. O porta-voz da Presidência, Eduardo Amadeo, declarou pela primeira vez que a missão do Fundo que está no país é técnica, e não negociadora. "Argies" O jornal "Clarín" procurou ilustrar de maneira irônica a dureza que o britânico Thornton está impondo às negociações. Segundo o jornal, o funcionário, que não é conhecido em Washington pelo tato político, teria o costume de se referir aos argentinos nos corredores do FMI como os "argies". O termo foi utilizado pelos britânicos durante a guerra das Malvinas (1982) para denominar o inimigo. Imóveis O preço em dólares dos imóveis caiu 75% na Argentina neste ano. O desaquecimento da demanda também provocou a redução em até 90% da construção de novas casas nos últimos meses. Para protestar contra essa situação, centenas de trabalhadores da construção fizeram um protesto e bloquearam o trânsito ontem nas imediações da praça de Maio (centro de Buenos Aires). Texto Anterior: Luís Nassif: A estratégia da Volks Próximo Texto: Para banco, queda na Copa pressiona câmbio Índice |
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