UOL


São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SONHO DISTANTE

Demissões afetam operadoras, já que 70% dos contratos são coletivos; preços subiram 247% desde o Real

4 milhões perdem planos de saúde, e fila do SUS cresce

DA REPORTAGEM LOCAL

Quase 4 milhões de brasileiros perderam a proteção de planos de saúde nos últimos quatro anos. Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 1998 havia 38,7 milhões de usuários desses planos no país, o equivalente a 24,5% da população. Neste ano, segundo estimativa da ANS (Agência Nacional de Saúde), esse número caiu para 35 milhões.
A onda de reestruturações de empresas e enxugamento de quadros que varreu o país nos últimos anos expulsou os usuários desses planos, grande parte deles oriunda da classe média.
As empresas de medicina de grupo, que em 2000 contabilizavam 18,4 milhões de usuários, agora estão com 16,2 milhões. "Cerca de 70% dos planos de saúde são coletivos, contratados pelas empresas para seus empregados. Como o desemprego aumentou, perdemos esses usuários", diz Arlindo Almeida, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo).
Segundo Almeida, alguns assalariados que terminaram na economia informal ou abriram pequenos negócios conseguiram comprar planos individuais. Mas, afirma ele, "a maioria dos que perderam o emprego ficou sem cobertura".
A redução do número de planos individuais é um sintoma de que a classe média passou a cortar também esse tipo de gasto. Só as empresas de medicina de grupo perderam 500 mil usuários de planos individuais nos últimos dois anos. Dos 4,1 milhões de beneficiários de planos pessoa física que existiam há dois anos, restam hoje 3,6 milhões.
Nas seguradoras, o número de pessoas cobertas por seguro-saúde caiu de 6,1 milhões para para 5,2 milhões -um recuo de 14,7%, segundo a Fenaseg. Uma das modalidades mais atingidas foi a de seguros individuais. "Há cinco anos, metade dos nossos segurados tinha apólices individuais. A modalidade hoje representa 30% dos negócios", diz João Alceu Amoroso Lima, diretor de Saúde da Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização).
De acordo com Lima, parte dos clientes das seguradoras migrou para planos mais baratos e outros terminaram na fila do SUS.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, enquanto caía o número de beneficiários de planos de saúde, crescia o número de atendimento nos ambulatórios públicos.
De 4 milhões de procedimentos realizados em 1998, o movimento saltou para 5,5 milhões no ano passado. O ministério não tem uma avaliação sobre a causa desse crescimento. Também não dispõe de estatísticas sobre o perfil socioeconômico dos atendidos nas suas unidades em todo o país.

Custo elevado
Os preços cada vez mais altos das mensalidades dos planos de saúde, aliados à pauperização da classe média, também explicam a redução do número de usuários desses planos. Os contratos de assistência médica subiram 247% desde o início do Plano Real até o mês passado, de acordo com dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
O peso desses gastos no orçamento da classe média dobrou em dez anos, segundo a última pesquisa disponível realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Dados desse pesquisa mostram que em 1987 os planos de saúde representavam 17% dos gastos com saúde das famílias com renda mensal acima de 30 salários mínimos.
Em 1996, esse percentual havia saltado para 32%. O estudo baseou-se em informações da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE, realizada naqueles anos. (SANDRA BALBI)


Texto Anterior: Crise transforma personal trainer em "group trainer'
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.