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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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SONHO DISTANTE

Inadimplência cresce nos colégios particulares, e cai o percentual dos alunos matriculados em escolas pagas

Só 40% dos universitários pagam em dia

DA REPORTAGEM LOCAL

O desemprego crescente, a renda em baixa e a pressão das tarifas administradas, entre outros fatores, afetaram até aquela que sempre foi prioridade para a classe média: a educação dos filhos. Os principais efeitos são a elevada inadimplência e a transferência de colégios particulares para públicos. Nas universidades, só 40% pagam em dia.
A curva do calote está em ascensão de cinco anos para cá. Durante o ano de 1998, o percentual de contas pendentes nas escolas pagas foi de 3,9% na cidade de São Paulo. O número saltou para 4,5% em 2002, segundo pesquisa da Corus Consultores, que ouviu 60 colégios da capital.
"A alta é consequência das condições cada vez piores para pagamento de compromissos em geral, como crédito arrochado e juros altos", analisa Eugênio Cordaro, diretor da empresa, especializada em fusões e incorporações de estabelecimentos de ensino.
A situação, acredita ele, começou a se complicar a partir de 2001, quando a recessão nos Estados Unidos e a crise na Argentina afetaram a economia brasileira.
Neste primeiro quadrimestre de 2003, a taxa foi de 12%. O percentual é tradicionalmente maior em início de ano, mas confirma tendência de alta em relação ao mesmo período de 2002: no ano passado, o número foi de 10,5%.
"É muita coisa para as margens de lucro apertadas das escolas", diz o presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva.
O Sieeesp, assim como outras associações de escolas particulares, pressiona o governo para a mudança em uma medida provisória editada em 99, que dá a alunos inadimplentes o direito de permanecer estudando até o fim do período letivo.

Terceiro grau
O problema é particularmente preocupante nas escolas de terceiro grau: o percentual de alunos inadimplentes mesmo após o período de renovação de matrícula é de 7% no país. Há dez anos, o índice era de cerca de 1,5%, segundo a consultoria especializada Hoper.
Ryon Braga, presidente da empresa, afirma que as pendências do dia seguinte são muito maiores: de 60%. Passado um mês do vencimento, a taxa ainda é alta, de em média 30%.
Segundo ele, após a edição da medida provisória, as classes A e B passaram a dar prioridade para o pagamento de outras dívidas. Nesse caso, a conta do celular, por exemplo, é paga porque senão o serviço é cortado.
"No caso das classes C e D, que chegaram às faculdades nos últimos anos, o pagamento da mensalidade é prioridade, mas não é efetuado por falta de dinheiro mesmo", diz Braga.

Troca
Com menos dinheiro no bolso, os pais de classe média vem trocando com mais frequência colégios pagos por escolas públicas ou por particulares mais baratas.
De acordo com dados da Corus, há seis anos o percentual de alunos matriculados em escolas pagas era de 16% no Sul e no Sudeste do país. Hoje, o índice é de 13%.
"Essa transferência da particular para a pública aconteceu em todas as etapas do ensino, com exceção do terceiro grau, por causa da queda de renda. Mas não foi um movimento muito forte", analisa Cordaro.
A crise afetou com força o número de matrículas nos últimos anos de forma indireta. Segundo especialistas, o achatamento da renda nos últimos anos determinou redução das famílias.
"Além de fatores culturais, como mais mulheres trabalhando fora, a crise econômica inibiu a natalidade", diz João Nogueira, diretor do Ipso (Instituto de Pesquisas Setoriais e Objetivas).
Dados da entidade, que faz pesquisas e presta assessoria na área de educação, mostram que o número de alunos estudando em escolas particulares sofreu uma forte queda de oito anos para cá.
O principal tombo ocorreu no ensino médio, cuja retração de 96 a 2002 foi de 27,3%.
Mas os colégios particulares que oferecem ensino fundamental também sofreram: da primeira a quarta série, a diminuição no período foi de 12%; da quinta à oitava, de 8%. (MAELI PRADO)

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