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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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CRISE NO AR

Documento afirma que redução atingiria 22,58% dos funcionários; empresas negam que haja estudo definitivo

Fusão Varig/TAM pode cortar 5.343 vagas

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A fusão da Varig com a TAM, que está em fase acelerada de elaboração, pode resultar na demissão de 5.343 dos 23.659 trabalhadores das duas companhias. O corte, que seria um dos maiores já realizados no Brasil, representaria a eliminação de 22,58% da mão-de-obra utilizada hoje pelas duas companhias, conforme cópia de documento obtida pela Folha.
O documento tem circulado nos altos escalões das administrações da Varig e da TAM. As 5.343 dispensas estão bem acima das 3.500 inicialmente previstas pela Apvar (Associação dos Pilotos da Varig), que obteve a cópia do documento repassado à Folha.
"O estudo das dispensas prevê que todos os 13.250 trabalhadores da Varig serão demitidos, para depois 10.331 serem recontratados pela nova empresa que resultar na fusão. O objetivo disso é reduzir os salários", afirma Marcelo Branco, presidente da Apvar.
Os salários da TAM são em média menores que os da Varig. Daí o interesse, segundo Branco, de recontratar funcionários da empresa com ordenados mais baixos. A TAM, por sua vez, transferiria diretamente 8.926 dos seus 10.400 trabalhadores para a nova empresa.
O porta-voz para assuntos de fusão da Varig e da TAM, Roberto Müller Filho, não confirma nem desmente as demissões previstas no estudo obtido pela Folha. Segundo ele, "muitos exercícios sobre dispensas nas duas companhias já foram realizados e nenhum é definitivo".

Projeto definitivo
Segundo Müller, a Varig e a TAM somente saberão mesmo quantos trabalhadores dispensarão após contratarem uma empresa especializada em recursos humanos. "O documento que dirá que o processo de fusão é irreversível terá uma cláusula onde as duas empresas se comprometem a contratar essa companhia."
A assinatura do documento de irreversibilidade do processo de fusão deve ocorrer nos próximos dias. Com ele, a Varig receberá imediatamente um empréstimo de US$ 120 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a fim de permitir que ela sobreviva até a fusão, prevista para setembro.
"A cláusula sobre a contratação da empresa de recursos humanos deixará claro que terá de ser criado um PDV [programa de demissões voluntárias]", diz Müller.
Na sexta-feira passada, a Varig anunciou um PDV para seus funcionários com mais de 52 anos que queiram se aposentar antecipadamente. A empresa diz que o objetivo é reduzir o número de empregados por causa da redução da frota de aviões desde março, quando começou o compartilhamento de vôos com a TAM.
O PDV da Varig garante aos funcionários que o aderirem o pagamento de dois salários brutos. O trabalhador também receberá 70% de seu salário em notas promissórias até que complete 55 anos.
Esse PDV, no entanto, não tem relação com o que deve ser apresentado pela Varig e TAM depois do acordo definitivo para a fusão.
Para o vice-presidente da Apvar, Márcio Marsillac, o documento sobre as 5.343 demissões chama ainda a atenção porque estão previstos gastos trabalhistas de R$ 550,6 milhões nas dispensas de todos os funcionários da Varig. A "New Air", nome usado no documento para a nova empresa resultante da fusão, recontrataria 10.331 empregados.
"Os R$ 550,6 milhões previstos para as dispensas gerais na Varig são muito dinheiro. Com ele, seria possível resolver os problemas da empresa sem a fusão", afirma Marsillac.
Além dos US$ 120 milhões que o BNDES deve liberar para a Varig nas próximas semanas, o banco deve oferecer mais US$ 480 milhões para a nova empresa operar. O dinheiro serviria de lastro, por exemplo, para a compra de querosene da BR Distribuidora.
Marsillac afirma que obteve informações de que a nova companhia somente deve começar a ter lucro em 2008.

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