São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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Aversão a risco reduz "colchão de liquidez"

Investidor aplica menos em títulos do Tesouro, e estoque da dívida pública federal recua pelo segundo mês consecutivo

Débito volta a ficar abaixo de R$ 1 trilhão; governo diz que não é mais possível ficar cinco meses sem captar recursos no mercado


JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo segundo mês seguido, a volatilidade no mercado financeiro dificultou a rolagem da dívida pública federal em títulos, o que fez o estoque de papéis cair 0,4% em maio e ficar pouco abaixo da marca psicológica de R$ 1 trilhão. A aversão ao risco também espantou investidores estrangeiros, que passaram a aplicar menos em títulos vendidos pelo Tesouro Nacional.
No mês passado, a dívida mobiliária (títulos públicos) ficou em R$ 999,1 bilhões, por causa de resgate líquido de R$ 17,4 bilhões. Isso significa que o apetite do investidor por títulos federais diminuiu devido às incertezas, e o Tesouro foi obrigado a retirar do mercado mais papéis que o volume ofertado.
"A volatilidade permaneceu acentuada. O Tesouro foi mais conservador tanto nos volumes ofertados quanto nos prazos médios", explicou o coordenador-geral da Dívida Pública, Ronnie Tavares. Em abril, já haviam sido retirados do mercado R$ 26,9 bilhões em títulos em decorrência da crise nos mercados globais.
Com os dois meses consecutivos de resgates líquidos, Tavares admitiu que o chamado "colchão de liquidez" diminuiu e já não é mais suficiente para o governo suportar cinco meses sem captar recursos. "Tivemos que usar um pedaço do colchão, que ainda é bastante confortável." Cauteloso, ele acrescenta que o Tesouro pode enfrentar novos movimentos de forte volatilidade e precisa estar preparado para atuar.

Investidor estrangeiro
Os dados divulgados ontem mostram que houve queda expressiva nas aplicações de estrangeiros no mercado (primário) de títulos públicos. No período fevereiro/março, logo após a edição da MP que isentou os estrangeiros de IR nas aplicações em títulos públicos, esse investidores aplicaram R$ 8,4 bilhões em papéis.
Em abril/maio, esse volume caiu para R$ 1,3 bilhão. "Com a volatilidade no mercado externo, houve menos direcionamento para os mercados emergentes", justificou Tavares.

Diferenças
Apesar do mesmo grau de nervosismo do mercado, Tavares pontuou duas diferenças básicas na situação da dívida em maio em comparação com abril. No mês passado, houve um vencimento expressivo de papéis corrigidos pela Selic (LFT) -R$ 27,5 bilhões- e, como não houve emissão desse tipo de título, a sua participação na composição da dívida caiu.
A outra diferença notada em maio foi a necessidade de o Tesouro entrar no mercado de NTN-B (papéis corrigidos pelo IPCA) para evitar que esse segmento se tornasse inviável. No mês, o Tesouro interveio três vezes em leilões simultâneos de compra e venda de papéis. O objetivo foi dar referência de preço e garantir liquidez para os investidores.
O mercado de NTN-Bs é menos estruturado, e a aversão ao risco fez com que as taxas desses papéis disparassem no mercado secundário. Com isso, houve perda de liquidez.


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