São Paulo, Terça-feira, 15 de Junho de 1999
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TELEFONIA
Atento nasce como maior empresa de telemarketing do país, irritando concorrentes e intrigando acionistas
Novo negócio da Telefônica cria polêmica

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

Ao anunciar ontem um novo empreendimento no Brasil, no setor de centrais de atendimento telefônico, a Telefônica de Espanha criou mais uma polêmica em torno de si.
Com um investimento de US$ 70 milhões, a Atento Brasil, pertencente ao grupo espanhol, nasce como a maior empresa de telemarketing e serviços de atendimento do país -"call center"-, irritando as demais empresas do setor e deixando desconfiados os acionistas minoritários da antiga Telesp.
As concorrentes reclamam que a Telefônica é sua única provedora de linhas de telefone em São Paulo enquanto a empresa "espelho" não começa a operar, o que torna desleal a participação da Atento no mercado.
"A Atento poderá ter acesso a informações privilegiadas sobre nosso tráfego de ligações", diz Alexandre Jau, presidente do Sindicato das Empresas de Telemarketing de São Paulo (Sintelmark).
"Isso seria antiético por parte da Telefônica. Nós não temos acesso a informações de dentro dela", rebate Agnaldo Calbucci, diretor comercial da Atento.
O sindicato também teme que a Atento tenha condições de oferecer preços mais baixos. Calbucci diz que a empresa pagará tarifas de mercado.
A disputa é acirrada e a justificativa é simples. O que está em questão é uma das atividades que mais crescem hoje no país. O segmento de "call centers" tem crescido a uma taxa de 30% ao ano no Brasil desde 94 e em 98 gerou negócios da ordem de R$ 44 bilhões- incluindo prestadoras de serviços e centrais próprias de empresas.
Só em São Paulo existem hoje 300 empresas prestadoras desse serviço, que empregam 36 mil pessoas. No país, são 50 mil empregos.
Além de incomodar a concorrência, a abertura da Atento deixa os acionistas minoritários da Telefônica brasileira "atentos".
Isso porque a Atento passará a operar boa parte dos serviços de atendimento da própria Telefônica, como 102, 103 e outros.
A Atento não tem vínculo acionário algum com a Telefônica brasileira. Ela é uma empresa da Atento Holding, que, por sua vez, tem 100% do seu capital controlado pela Telefônica na Espanha.
Assim, alguns analistas têm questionado se a terceirização dos serviços de atendimento não representaria uma transferência de resultados para uma empresa 100% da matriz espanhola, em prejuízo dos acionistas minoritários da Telefônica brasileira, que detêm 80% do seu capital.
A assessoria de imprensa da Telefônica contesta essa tese e diz que o efeito será o oposto. "O objetivo da terceirização do serviço com a Atento é o de reduzir custos, entre 25% e 30%. O acionista minoritário sairá ganhando", informa.
O analista de telecomunicações do Banco BBA, Carlos Constantini, concorda que deve haver preocupação do minoritário, mas alerta para avaliações precipitadas.
"Pode haver transferência de lucro para a Atento, mas pode ser que isso não ocorra", afirma ele.
Segundo Constantini, isso só poderá ser avaliado quando a Telefônica publicar resultados que levem em conta a nova estrutura. "Aí será possível avaliar se a Telefônica está gastando com a terceirização um preço justo ou superfaturado."
O Sintelmak diz que a contratação da Atento para os serviços de atendimento como 102 fere a legislação do setor, pois a Telefônica deveria ter ido a mercado.
Segundo analistas do setor, a legislação fixa critérios para a contratação de fornecedores de equipamentos, mas não há nada específico sobre a contratação de serviços periféricos.
A Telefônica argumenta que a Atento é uma empresa brasileira, que contratará mão-de-obra local. "E isso é o que conta pelos critérios da Anatel (agência fiscalizadora do setor)", diz a assessoria de imprensa da empresa.
A Anatel não atendeu ao pedido de entrevista da Folha.


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