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TELEFONIA
Atento nasce como maior empresa de telemarketing do país, irritando concorrentes e intrigando acionistas
Novo negócio da Telefônica cria polêmica
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
Ao anunciar ontem um novo empreendimento no Brasil, no setor
de centrais de atendimento telefônico, a Telefônica de Espanha
criou mais uma polêmica em torno
de si.
Com um investimento de US$ 70
milhões, a Atento Brasil, pertencente ao grupo espanhol, nasce como a maior empresa de telemarketing e serviços de atendimento do
país -"call center"-, irritando as
demais empresas do setor e deixando desconfiados os acionistas
minoritários da antiga Telesp.
As concorrentes reclamam que a
Telefônica é sua única provedora
de linhas de telefone em São Paulo
enquanto a empresa "espelho" não
começa a operar, o que torna desleal a participação da Atento no
mercado.
"A Atento poderá ter acesso a informações privilegiadas sobre
nosso tráfego de ligações", diz Alexandre Jau, presidente do Sindicato das Empresas de Telemarketing
de São Paulo (Sintelmark).
"Isso seria antiético por parte da
Telefônica. Nós não temos acesso a
informações de dentro dela", rebate Agnaldo Calbucci, diretor comercial da Atento.
O sindicato também teme que a
Atento tenha condições de oferecer preços mais baixos. Calbucci
diz que a empresa pagará tarifas de
mercado.
A disputa é acirrada e a justificativa é simples. O que está em questão é uma das atividades que mais
crescem hoje no país. O segmento
de "call centers" tem crescido a
uma taxa de 30% ao ano no Brasil
desde 94 e em 98 gerou negócios da
ordem de R$ 44 bilhões- incluindo prestadoras de serviços e centrais próprias de empresas.
Só em São Paulo existem hoje
300 empresas prestadoras desse
serviço, que empregam 36 mil pessoas. No país, são 50 mil empregos.
Além de incomodar a concorrência, a abertura da Atento deixa os
acionistas minoritários da Telefônica brasileira "atentos".
Isso porque a Atento passará a
operar boa parte dos serviços de
atendimento da própria Telefônica, como 102, 103 e outros.
A Atento não tem vínculo acionário algum com a Telefônica brasileira. Ela é uma empresa da Atento Holding, que, por sua vez, tem
100% do seu capital controlado pela Telefônica na Espanha.
Assim, alguns analistas têm
questionado se a terceirização dos
serviços de atendimento não representaria uma transferência de
resultados para uma empresa
100% da matriz espanhola, em prejuízo dos acionistas minoritários
da Telefônica brasileira, que detêm
80% do seu capital.
A assessoria de imprensa da Telefônica contesta essa tese e diz que
o efeito será o oposto. "O objetivo
da terceirização do serviço com a
Atento é o de reduzir custos, entre
25% e 30%. O acionista minoritário sairá ganhando", informa.
O analista de telecomunicações
do Banco BBA, Carlos Constantini,
concorda que deve haver preocupação do minoritário, mas alerta
para avaliações precipitadas.
"Pode haver transferência de lucro para a Atento, mas pode ser
que isso não ocorra", afirma ele.
Segundo Constantini, isso só poderá ser avaliado quando a Telefônica publicar resultados que levem
em conta a nova estrutura. "Aí será
possível avaliar se a Telefônica está
gastando com a terceirização um
preço justo ou superfaturado."
O Sintelmak diz que a contratação da Atento para os serviços de
atendimento como 102 fere a legislação do setor, pois a Telefônica
deveria ter ido a mercado.
Segundo analistas do setor, a legislação fixa critérios para a contratação de fornecedores de equipamentos, mas não há nada específico sobre a contratação de serviços periféricos.
A Telefônica argumenta que a
Atento é uma empresa brasileira,
que contratará mão-de-obra local.
"E isso é o que conta pelos critérios
da Anatel (agência fiscalizadora do
setor)", diz a assessoria de imprensa da empresa.
A Anatel não atendeu ao pedido
de entrevista da Folha.
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