São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incentivo à inovação sofre resistências

Área, que poderia ter até R$ 40 bilhões em quatro anos, não é uma das prioridades da Casa Civil no âmbito do PAC

Só 18% das empresas que investem em inovação no país contam com algum suporte do governo; nos EUA, percentual é de 30%

SHEILA D'AMORIM
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontado pelos próprios empresários como o caminho para o país ganhar competitividade independentemente da polêmica em torno dos altos juros e da valorização do real, o incentivo público à inovação de produtos e de processos de produção em geral na indústria brasileira enfrenta resistências dentro do governo.
Na era PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o Ministério da Ciência e Tecnologia sinaliza que o tema está entre as prioridades do governo e promete, inclusive, um plano específico para o setor (o PAC da inovação) com R$ 40 bilhões, que seriam liberados nos próximos quatro anos.
Para assegurar dinheiro público nesse bolo, porém, o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) terá que comprar uma briga com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Segundo a Folha apurou, inovação não é um tema da agenda de prioridades da ministra. Nem de outros colegas de ministério, que estão mais preocupados em deslanchar obras do PAC nas áreas de transportes, energia, saneamento e desonerar setores com potencial para sustentar o crescimento no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por outro lado, a pressão do empresariado nesse área é pequena, sobretudo em comparação à demanda para redução de impostos.
A ausência de representantes do primeiro escalão do governo na 1ª Conferência da Inovação Brasil-EUA, realizada na semana passada em Brasília, ilustra o interesse do governo com o assunto. Iniciada dois dias depois do anúncio do PAC da inovação, o evento reuniu empresários e autoridades brasileiras e americanas.
Incluída no pacote de bondades do governo no final de 2004, a Lei da Inovação ainda tem pontos considerados essenciais para o desenvolvimento dessa área que precisam de regulamentação. É o caso de subvenções e transferências de recursos públicos.
Entre os exemplos da atuação do governo hoje na área estão duas subvenções oferecidas pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a empresas, uma para projetos e outra para a contratação de mestres e doutores. No segundo caso, o governo paga um complemento ao salário dos profissionais contratados pela iniciativa privada.
Um dos destaques da conferência foi justamente um levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que aponta o baixo incentivo do governo.
Apenas 18% das empresas que estão investindo em inovação no país contam com algum suporte do governo. Enquanto isso, nos EUA, esse percentual chega a 30%.
"É preciso haver políticas que criem o espírito empreendedor nas empresas", destacou Howard Charney, vice-presidente da Cisco System, empresa norte-americana de tecnologia da informação. "O poder público tem um papel importante a desempenhar, oferecendo ferramentas e oportunidades para a juventude", disse Debora Wince-Smith, presidente do Conselho da Competitividade dos EUA, um dos organizadores do evento.

Emergentes
Mesmo assim, em comparação com outras economias emergentes, o Brasil ainda apresenta uma quantidade maior de empresas que investem por conta própria nessa área. Das 1.200 empresas pesquisadas, cerca de 25% inovam.
Na avaliação do ex-presidente do Ipea Glauco Arbix, essa é uma realidade que está passando despercebida pelos indicadores econômicos e que pode explicar, por exemplo, por que constantemente os economistas se surpreendem com as exportações brasileiras. Isso, apesar da chiadeira dos empresários por causa da valorização do real.
O gerente de projetos da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Roberto Alvarez, concorda com Arbix. "Se focarmos nossa atenção apenas na questão macroeconômica, vira miopia. Não que se negue a agenda macroeconômica, mas, se ficarmos somente nisso, perderemos o bonde da história", disse.
Para o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do grupo Gerdau e do Movimento Brasil Competitivo (MBC), independentemente de apoio do governo, o setor privado precisa "mudar a cabeça" e enxergar o novo cenário de competitividade que surge no mundo empresarial.


Texto Anterior: Yoshiaki Nakano: A inflação de preços de ativos
Próximo Texto: Tecnologia: País é 46º em ambiente de competição de TI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.