|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Incentivo à inovação sofre resistências
Área, que poderia ter até R$ 40 bilhões em quatro anos, não é uma das prioridades da Casa Civil no âmbito do PAC
Só 18% das empresas que investem em inovação no país contam com algum suporte do governo; nos EUA, percentual é de 30%
SHEILA D'AMORIM
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado pelos próprios empresários como o caminho para
o país ganhar competitividade
independentemente da polêmica em torno dos altos juros e
da valorização do real, o incentivo público à inovação de produtos e de processos de produção em geral na indústria brasileira enfrenta resistências dentro do governo.
Na era PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento), o
Ministério da Ciência e Tecnologia sinaliza que o tema está
entre as prioridades do governo
e promete, inclusive, um plano
específico para o setor (o PAC
da inovação) com R$ 40 bilhões, que seriam liberados nos
próximos quatro anos.
Para assegurar dinheiro público nesse bolo, porém, o ministro Sérgio Rezende (Ciência
e Tecnologia) terá que comprar
uma briga com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Segundo a Folha apurou,
inovação não é um tema da
agenda de prioridades da ministra. Nem de outros colegas
de ministério, que estão mais
preocupados em deslanchar
obras do PAC nas áreas de
transportes, energia, saneamento e desonerar setores com
potencial para sustentar o crescimento no segundo mandato
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Por outro lado, a pressão do
empresariado nesse área é pequena, sobretudo em comparação à demanda para redução de
impostos.
A ausência de representantes do primeiro escalão do governo na 1ª Conferência da
Inovação Brasil-EUA, realizada na semana passada em Brasília, ilustra o interesse do governo com o assunto. Iniciada
dois dias depois do anúncio do
PAC da inovação, o evento reuniu empresários e autoridades
brasileiras e americanas.
Incluída no pacote de bondades do governo no final de
2004, a Lei da Inovação ainda
tem pontos considerados essenciais para o desenvolvimento dessa área que precisam de
regulamentação. É o caso de
subvenções e transferências de
recursos públicos.
Entre os exemplos da atuação do governo hoje na área estão duas subvenções oferecidas
pela Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos), vinculada
ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a empresas, uma para
projetos e outra para a contratação de mestres e doutores.
No segundo caso, o governo paga um complemento ao salário
dos profissionais contratados
pela iniciativa privada.
Um dos destaques da conferência foi justamente um levantamento feito pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que aponta o
baixo incentivo do governo.
Apenas 18% das empresas
que estão investindo em inovação no país contam com algum
suporte do governo. Enquanto
isso, nos EUA, esse percentual
chega a 30%.
"É preciso haver políticas
que criem o espírito empreendedor nas empresas", destacou
Howard Charney, vice-presidente da Cisco System, empresa norte-americana de tecnologia da informação. "O poder
público tem um papel importante a desempenhar, oferecendo ferramentas e oportunidades para a juventude", disse
Debora Wince-Smith, presidente do Conselho da Competitividade dos EUA, um dos organizadores do evento.
Emergentes
Mesmo assim, em comparação com outras economias
emergentes, o Brasil ainda
apresenta uma quantidade
maior de empresas que investem por conta própria nessa
área. Das 1.200 empresas pesquisadas, cerca de 25% inovam.
Na avaliação do ex-presidente do Ipea Glauco Arbix, essa é
uma realidade que está passando despercebida pelos indicadores econômicos e que pode
explicar, por exemplo, por que
constantemente os economistas se surpreendem com as exportações brasileiras. Isso, apesar da chiadeira dos empresários por causa da valorização do
real.
O gerente de projetos da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Roberto Alvarez, concorda com
Arbix. "Se focarmos nossa
atenção apenas na questão macroeconômica, vira miopia.
Não que se negue a agenda macroeconômica, mas, se ficarmos somente nisso, perderemos o bonde da história", disse.
Para o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente
do grupo Gerdau e do Movimento Brasil Competitivo
(MBC), independentemente de
apoio do governo, o setor privado precisa "mudar a cabeça" e
enxergar o novo cenário de
competitividade que surge no
mundo empresarial.
Texto Anterior: Yoshiaki Nakano: A inflação de preços de ativos Próximo Texto: Tecnologia: País é 46º em ambiente de competição de TI Índice
|