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OPINIÃO ECONÔMICA
Experiência valiosa
BENJAMIN STEINBRUCH
Terminou sob palmas a operação de venda pulverizada
de ações da Petrobras no Brasil e
no exterior. É pena que o sucesso
da operação tenha sido maior lá
fora do que aqui. Ao todo, 310 mil
trabalhadores compraram ações,
num total de R$ 1,6 bilhão, por
meio de fundos de investimentos,
utilizando recursos do Fundo de
Garantia. No exterior, cerca de 13
mil investidores aplicaram US$
2,6 bilhões para adquirir participação acionária na grande empresa estatal de petróleo brasileira.
Apesar do sucesso da operação,
ficou claro que milhares de trabalhadores brasileiros perderam a
oportunidade de entrar no mercado de ações. Deixaram de fazer
um grande negócio. Comprar
ações de companhias de petróleo
é um bom negócio em qualquer
parte do mundo, principalmente
no Brasil, onde a Petrobras opera
o monopólio oficial. Ninguém duvida de que, com ações da Petrobras, os trabalhadores teriam no
futuro muito mais recursos para
um eventual período de desemprego ou para a época da aposentadoria do que terão com o dinheiro aplicado no Fundo de Garantia.
O Fundo de Garantia é uma
aplicação de renda fixa, com juros baixíssimos, de 3% ao ano. A
Petrobras, por sua vez, a despeito
de todos os problemas advindos
da administração estatal, é uma
empresa ativa, com boas possibilidades de lucros e de valorização
no mercado de ações. É mais do
que razoável supor que, a longo
prazo, ter ações da Petrobras é
muito mais interessante do que
ter uma posição no FGTS.
Ora, se todos acreditam nisso,
por que então não se fez uma
campanha ampla para incentivar
os trabalhadores a trocar o Fundo
por ações da Petrobras? Parece
que faltou coragem. Essa campanha embutia um risco: o de que os
papéis da Petrobras venham a
apresentar eventual desvalorização a curto ou a médio prazos.
Nesse caso, o governo poderia ser
acusado de ter induzido os trabalhadores à perda de parte de seu
patrimônio, que antes estava seguramente guardado no FGTS.
Concordo com o argumento. Seria irresponsável deixar de alertar
os aplicadores para o risco que
correm ao utilizar os recursos do
FGTS para a compra de ações.
Mesmo mal remunerado na Caixa Econômica Federal, o Fundo
de Garantia representa uma poupança segura para a aposentadoria ou para eventuais fases de desemprego. Mas também acho que
a campanha publicitária que informou os interessados não precisaria ser tão tímida. Era essencial
alertar para o risco de perda de
patrimônio, tanto quanto seria
aconselhável lembrar, na publicidade oficial, que a possibilidade
de ganho a longo prazo é muito
maior do que o risco de perda.
A experiência do que ocorreu
na privatização da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) é reveladora para demonstrar que o
investimento em ações só tem
sentido se pensado a longo prazo.
Muitos trabalhadores da CSN
compraram cotas de um fundo
constituído pelos empregados da
empresa e só poderiam vendê-las
depois de dez anos. Ao longo do
tempo, porém, muitos decidiram
transformar suas cotas em dinheiro vivo antes do prazo de dez
anos. Isso criou um mercado paralelo, no qual as cotas são vendidas com enorme deságio. Ao vender suas ações nesse mercado paralelo, os trabalhadores estão dilapidando uma enorme parcela
de seu capital, em benefício de intermediários.
No caso da Petrobras, esse risco
do mercado paralelo praticamente não existe, porque os recursos
são bloqueados. Quem quiser
vender as ações da Petrobras só
poderá fazê-lo depois de um ano
e, assim mesmo, o dinheiro terá
de retornar ao FGTS, onde permanece bloqueado.
A operação Petrobras mostrou
que venda pulverizada é um caminho válido para privatizar estatais. Talvez não seja nem mesmo o mais eficiente. Na Inglaterra, ações de estatais privatizadas
adquiridas dessa forma foram recompradas por poucos grupos em
poucos meses. Apesar disso, o processo representou um importante
incentivo à ampliação do mercado de capitais. Antes do início das
privatizações havia 5 milhões de
acionistas na Inglaterra. Dez
anos depois, esse número havia
aumentado para 20 milhões.
A idéia de repetir a experiência
na venda de parte do capital pertencente ao Tesouro em Furnas e
na Vale do Rio Doce, portanto,
precisa ser levada adiante.
No início dos anos 70, o desastre
das Bolsas brasileiras provocou
prejuízos generalizados a pequenos acionistas que acabavam de
descobrir o mercado acionário.
Escaldados, eles nunca mais voltaram ao mercado. Quem sabe
não será essa uma oportunidade
para devolver a milhares de investidores o gosto pelo investimento de risco? Haverá então
mais capital disponível para investimento produtivo, mais capitalistas, mais produção, mais lucros e, sobretudo, mais empregos.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente dos conselhos de administração da Valepar e da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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