São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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CONSUMO

Para aquisição de veículos, queda é de 48 para 24 meses, em média

Prazo para financiamento cai 50%

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de pagar mais caro pelo crédito, o consumidor vai ter de enfrentar a partir deste mês a redução pela metade nos prazos de financiamento das lojas e das financeiras -consequência da escassez de reais na economia por conta da corrida ao dólar.
O financiamento de automóveis, que chegava a 48 meses, vai ficar em 24 meses, em média. O crédito pessoal (quando o cliente empresta dinheiro do banco para comprar um bem) e o crediário de lojas caem de 12 para 6 meses.
"O efeito é de dominó. O crédito ficou mais difícil para o Brasil lá fora, o que reflete nos bancos, nas financeiras e nas lojas. O jeito é apertar o prazo para ter retorno mais rápido do dinheiro que sobrou no mercado", diz José Arthur Assunção, vice-presidente da Acrefi, associação das financeiras.
A Casas Bahia, uma das redes que mais chama a atenção dos consumidores ao oferecer crédito longo, decidiu neste mês atrair o cliente para os planos menores, de 6 meses. "Mas, se a opção do freguês for pelo crediário de 15 meses, nós também vendemos", afirma Michael Klein, diretor.
Com o crédito mais escasso e, como consequência, mais caro, o próprio consumidor,diz, já prefere comprar em prazos mais curtos. É o que constata também o Magazine Luiza, a Lojas Cem e o banco Cacique, que administra o crediário de 1.200 redes no país.
O plano médio escolhido pelos consumidores do banco Cacique, que era de 8,15 parcelas, em julho, já caiu para 7,82 parcelas neste mês. A previsão do banco é que reduza mais até o final do mês.
Os setores mais afetados com esse corte nos prazos para os consumidores serão os mais dependentes de financiamento, como eletroeletrônicos e veículos. "O pior é que esses dois setores carregam parte da economia. Se eles vão mal, o ritmo de atividade do país vai mal", afirma Fernando Sarti, economista da Unicamp.
A redução dos prazos de financiamento e a elevação dos juros (em torno de 0,40 ponto percentual ao mês para o consumidor) preocupa a Eletros, associação da indústria eletroeletrônica. Os fabricantes, que previam antes crescimento de 6,8% para o setor neste ano, falam agora em algo próximo de 1% a 1,5%.
"Se o dólar se mantiver elevado, o crédito caro e os prazos curtos, as fábricas não descartam a possibilidade de parar a produção bem quando deveriam estar trabalhando em ritmo mais acelerado para o final do ano", afirma Paulo Saab, presidente da Eletros.
Arthur Assunção, da Acrefi, diz que em julho -pela primeira vez desde dezembro de 99- caiu o volume de financiamento para veículos, crediário de lojas e crédito pessoal -de R$ 60,2 bilhões em junho para R$ 59,6 bilhões em julho. "Parece pouco, mas em julho houve inversão da tendência de alta nos empréstimos. Se essa crise persistir, a queda nos volume de financiamento será maior." Ruim para o país, diz, que precisa de crédito para crescer.


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