São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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Economista defende "mudança estrutural"

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista João Antonio de Paula, professor do departamento de economia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) diz que sem distribuir a riqueza e renegociar a dívida interna, o crescimento atual não se sustenta e não leva ao desenvolvimento. Para ele, o crescimento deste ano vai ter um papel paradoxal para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a partir do sucesso que vai obter, ele se sentirá confortável para manter o modelo. "Esse é o grande problema do governo, acreditar que pode ter um resultado diferente do governo Fernando Henrique fazendo a mesma política."

Folha - O país voltou a crescer, isso mostra que a política econômica do governo está no caminho certo?
João Antonio de Paula
- Nos últimos 20 anos assistimos a um processo de crescimento com altos e baixos: em 2000 o país cresceu 4,4% e em 2001, 1,5%, quando tivemos o apagão. Acho que esse fenômeno vai se repetir de novo. Os problemas estruturais que tolhem o crescimento sustentado não foram sanados.

Folha - Quais são os problemas?
Paula
- O problema mais importante é o potencial não explorado do mercado interno. Temos 80 milhões de pessoas com capacidade para consumir. Os outros 90 milhões que estão fora do mercado é que garantiriam uma mudança no país.

Folha - Como integrar essa massa no mercado consumidor?
Paula
- É preciso mexer na estrutura da propriedade, ou seja, naquilo que Celso Furtado chama de distribuição primária da renda. Se isso não ocorrer, não vamos ter mudança de fato nas mazelas históricas brasileiras.

Folha - O que é preciso fazer para mudar o país?
Paula
- Estamos falando da reparação de uma injustiça histórica: a França fez uma revolução social e também no ensino. Os EUA fizeram a lei de terras de 1863, fundamental para garantir acesso à riqueza. Todos os países que ficaram prósperos é porque em algum momento fizeram distribuição da riqueza. Não vamos chegar ao desenvolvimento se não mudarmos essa estrutura.

Folha - Qual é a saída?
Paula
- A saída é renegociar a dívida interna: chamar os banqueiros e dizer que a situação é insustentável do ponto de vista social e político. É preciso usar esses recursos para investimento em setores estratégicos como a agricultura voltada para o mercado interno e na construção civil.

Folha - O que fazer para mudar o país e reduzir as desigualdades?
Paula
- É preciso fazer a reforma agrária e a reforma do ensino. Celso Furtado falava em mudar a formação do capital humano, preparar as pessoas para usar as novas ferramentas e tecnologias. Para isso é preciso mudar a concepção da estrutura educacional brasileira. A qualidade do ensino é precaríssima. O Brasil é um dos últimos colocados em testes internacionais de matemática. Mudar isso passa por melhoria das escolas e dos salários dos professores.

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