São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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Piva quer tributo menor e "obsessão exportadora"

DA REPORTAGEM LOCAL

Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que não acredita mais -como no passado- em soluções radicais, de ruptura do modelo econômico. Na sua opinião, para o crescimento da economia desaguar no desenvolvimento no sentido amplo - de inserção social e melhoria das condições de vida da maioria da população-, é preciso vontade política do governo para avançar nas medidas que já vem tomando. O empresário cita as mudanças na estrutura tributária, a desoneração dos investimentos e a redução dos juros como pontos da política econômica a serem reforçados. A seguir trechos de entrevista à Folha. (SB)

Folha - O que precisa ser feito para que o crescimento econômico tenha sustentação e possa ser usufruído pelo conjunto da população?
Horacio Lafer Piva
- Nós, da indústria, temos três sugestões ao governo: estimular os investimentos, manter uma obsessão exportadora de forma a crescer 12% ao ano as exportações nos próximos cinco anos e racionalizar e cortar despesas públicas.

Folha - A retomada dos investimentos pela indústria não está muito lenta?
Piva
- Eu sinto um clima mais positivo. Porém ele ainda não está ocorrendo na velocidade que deveria, principalmente os investimentos externos. A razão disso é que nem todas as empresas têm margem e o custo de capital é alto.

Folha - Quais os instrumentos e práticas que precisam ser desmontados para dar solidez à economia?
Piva
- Tem muita coisa a ser feita na área da desburocratizarão e do crédito: irrigar o mercado com crédito a taxas mais baixas. As empresas têm de fazer um esforço para vender lá fora e ver como aumentar o consumo interno. Hoje menos de 40% da população está no mercado consumo.

Folha - Como agregar essa massa ao mercado consumidor?
Piva
- O Brasil tem que compreender que o processo de retomada de sua condição de grande potência se dá dentro de um prazo mais lento. Não acredito mais que se consiga ter soluções radicais, de ruptura. O país não consegue girar sua economia se não tiver recursos externos. Imaginar que podemos pensar em impor unilateralmente condições para o mercado internacional é ilusão.

Folha - Como o crescimento melhoraria a vida do brasileiro?
Piva
- Quanto mais crescimento, mais se distribui. O papel do governo, em parceria com o setor privado, é descobrir como distribuir melhor essa renda. Descobrir onde estão as vocações regionais para gerar mais empregos.

Folha - Qual o modelo de país que o senhor tem em mente?
Piva
- O Brasil não tem de acompanhar modelo, mas olhar como a Ásia desenvolveu ciência, tecnologia e a educação. Tem de se referenciar nos EUA no que se refere ao espírito empreendedor, na Europa que soube desenvolver um mercado de consumo e no exemplo do Chile no equacionamento da questão da previdência.

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