São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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Hidrogênio é candidato a combustível do futuro

WOLFGANG REITZLE
DO "FINANCIAL TIMES"

O aquecimento global e o declínio das reservas de combustível fóssil estão erodindo um dos pilares do desenvolvimento econômico -o consumo de energia. As necessidades energéticas de populações e economias em crescimento não podem mais ser supridas por um abastecimento incerto de petróleo.
Recentemente, EUA, Japão, China e União Européia se voltaram para a tecnologia de hidrogênio como o mais provável alicerce do desenvolvimento continuado. O hidrogênio, o elemento mais abundante no universo, tem excelentes propriedades tanto como combustível quanto como transmissor de energia.
Quando combinado com uma célula de combustível, o hidrogênio oferece uma produção de eletricidade silenciosa e de alta eficácia. Mais significativo é que se poderia abrir o caminho para uma energia sem emissões em toda parte, de casas até carros. Nenhuma tecnologia isolada oferece oportunidades tão amplas.
A conclusão fundamental de um relatório de 500 páginas da Academia Nacional de Ciências dos EUA foi que "o hidrogênio tem o potencial para substituir essencialmente toda a gasolina e eliminar quase todo o CO das emissões de veículos nos próximos 50 anos" e que um programa de pesquisa com esse objetivo é "importante" para o país.
Ele acrescentou que o hidrogênio deveria fazer parte de um "portfólio equilibrado de iniciativas de P&D" (pesquisa e desenvolvimento), incorporando mais pesquisas em veículos totalmente elétricos, combustíveis híbridos e sintéticos. Essa é uma conclusão justa e válida. Todas as novas tecnologias terão uma parte a desempenhar quando deixarmos para trás a bomba de gasolina.

Aposta
O investimento substancial feito pelos fabricantes de automóveis, companhias de gás, o setor de energia e os governos melhorou o desempenho dos veículos com células de combustível de hidrogênio. Depois do sucesso de tentativas na Europa, serviços de ônibus com células de combustível começarão a funcionar em Pequim no próximo ano. Mesmo com o conhecimento existente, qualquer frota comercial poderá ser movida a hidrogênio em curto prazo. Aviões, trens, barcos, caminhões e empilhadeiras movidos a célula de combustível estão em desenvolvimento. Em abril, o estaleiro HDW lançou o primeiro de uma nova série de submarinos movido parcialmente por células de combustível.
Onde isso deixa os 500 milhões de carros do mundo? Em muitos países, os maiores aumentos nas emissões de CO vêm de veículos leves. O número de carros deverá aumentar para mais de 2 bilhões até 2030, principalmente devido ao crescimento na Ásia. Nos EUA e no Japão, as vendas iniciais de carros híbridos demonstraram que já existe uma demanda do consumidor por tecnologias verdes. Os governos estão certos ao considerar o hidrogênio um substituto potencial para o combustível dos veículos.
Os críticos afirmam que o armazenamento e a produção de hidrogênio não estão suficientemente desenvolvidos para que os veículos com célula de combustível sejam adotados e para que essas tecnologias sejam economicamente viáveis.
Enquanto o hidrogênio terá um papel na segunda metade do século, dizem os críticos, desafios significativos precisam ser superados. É verdade, especialmente para os carros. Mas levantar objeções de custos a uma tecnologia que ainda está em desenvolvimento faz pouco sentido enquanto o preço do petróleo sobe.
Apesar das interrupções de abastecimento, se a produção de petróleo chegar ao pico antes de 2010 -conforme prevê o Centro de Análises do Esgotamento de Petróleo, um instituto independente do Reino Unido-, as pressões de abastecimento aumentarão exponencialmente.
A aquisição febril dos estoques remanescentes poderá desligar o motor que movimenta a economia mundial. No ritmo em que estamos consumindo, o barril não está cheio pela metade -está vazio pela metade. Se deixarmos as decisões sobre uma alternativa para a segunda metade do século, será tarde demais.

Custos
Os críticos podem reagir aos custos estimados de uma infra-estrutura de hidrogênio -US$ 12 bilhões para abastecer 70% da população americana, segundo a General Motors-, mas considere que, no mês passado, a Câmara de Deputados dos EUA propôs um orçamento de US$ 275 bilhões para melhorar as estradas nos próximos seis anos.
A infra-estrutura inicial de hidrogênio exigiria de 20 a 30 anos de investimentos. A do petróleo -de equipamentos de perfuração a postos de gasolina- pode ter nos servido nos últimos 80 anos, mas terá custado ao mundo trilhões de dólares. O resultado dos primeiros poucos bilhões de dólares em pesquisa, uma fração dessa soma, nos permitirá planejar o caminho a seguir. Cada dólar gasto em hidrogênio nos poupará muitos mais quando começar a corrida final do petróleo.


Wolfgang Reitzle é executivo-chefe da Linde, cuja divisão de gás está envolvida na produção, armazenamento e distribuição de hidrogênio.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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