São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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TRABALHO
Alta dos preços deve intensificar movimento por recomposição de perdas salariais neste semestre
Inflação recoloca salários em debate

FÁBIA PRATES
em São Paulo

A ameaça do "fantasma" da inflação, a partir do aumento das tarifas públicas e dos preços de outros produtos, como combustíveis e remédios, recoloca a recomposição das perdas salariais como prioridade dos sindicalistas nas campanhas deste semestre.
Apesar de, teoricamente, nunca ter saído do discurso sindical, a questão salários perdeu espaço para o item emprego, nos anos de estabilidade econômica pós-real.
Manter os postos de trabalho, dizem os sindicalistas, continua sendo preocupação fundamental, mas não vai ser obstáculo para que se busque a recuperação do poder de compra do trabalhador.
Mesmo com a conjuntura desfavorável para eventual radicalização do movimento sindical -taxas de desemprego altas e economia em recessão-, representantes de categorias que têm data-base a partir de setembro dizem que vão exigir mais dos empresários.
Querem instrumentos que garantam ganhos reais e protejam os salários.
"Há uma posição concreta de mais de 1 milhão de trabalhadores que tem data-base no segundo semestre de se mobilizar para conseguir essa recuperação", diz o petroleiro Antônio Carlos Spis, da executiva nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Líder da greve que em 1995 parou por 32 dias as refinarias do país, Spis reconhece que o temor de perder o emprego pode ser uma barreira para que se volte a ter manifestações como a daquele ano.

Gatilho
Na campanha salarial do ano passado, os petroleiros pediram reajuste de 2,99% a título de reposição das perdas inflacionárias referentes ao período de setembro de 97 a agosto de 98. Não conseguiram nada.
Neste ano, além de pleitear a recomposição das perdas com a inflação de setembro do ano passado a agosto deste ano, que deve ficar em torno de 6%, a categoria vai reivindicar recomposição das perdas nos anos do real (37,25%, segundo o sindicalista) e gatilho de 5% a cada vez que a inflação chegar a esse patamar.
"Se os empresários nos desafiarem, cortarem conquistas históricas e não colocarem o direito econômico na mesa, podemos voltar a ter greves", afirmou.
João Vaccari Neto, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, também defende mecanismo de proteção a cada vez que a inflação ultrapassar 3%, mas nega que esteja falando em gatilho.
No ano passado, os bancários pediram reajuste de 2,93% para compensar o impacto da inflação, mas só conseguiram 1,2%. Neste ano, querem reajuste de 4,67% para repor as perdas salariais de setembro de 98 a agosto de 99, mais 4,58%, que seria resíduo inflacionário desde 94.
"É preciso ficar claro que os salários são vítimas, e não causadores da inflação. A discussão de salários nunca acabou, mas este ano voltará com mais intensidade", afirmou.
Segundo ele, o sindicato dos bancários está discutindo com outros setores formas de pressionar o governo, mas acha "prematuro" falar em greves.
"Estamos tendo muita pressão das bases. As perdas salariais passaram dos limites. É preciso recuperar o poder aquisitivo", disse o coordenador da Confederação Nacional dos Químicos e presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Edilson de Paula.
Para ele, a adoção de um abono para posterior incorporação ao salário é uma forma de reduzir as perdas.


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