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TRABALHO
Alta dos preços deve intensificar movimento por recomposição de perdas salariais neste semestre
Inflação recoloca salários em debate
FÁBIA PRATES
em São Paulo
A ameaça do "fantasma" da inflação, a partir do aumento das tarifas públicas e dos preços de outros produtos, como combustíveis e remédios, recoloca a recomposição das perdas salariais como
prioridade dos sindicalistas nas
campanhas deste semestre.
Apesar de, teoricamente, nunca
ter saído do discurso sindical, a
questão salários perdeu espaço
para o item emprego, nos anos de
estabilidade econômica pós-real.
Manter os postos de trabalho,
dizem os sindicalistas, continua
sendo preocupação fundamental,
mas não vai ser obstáculo para
que se busque a recuperação do
poder de compra do trabalhador.
Mesmo com a conjuntura desfavorável para eventual radicalização do movimento sindical
-taxas de desemprego altas e
economia em recessão-, representantes de categorias que têm
data-base a partir de setembro dizem que vão exigir mais dos empresários.
Querem instrumentos que garantam ganhos reais e protejam
os salários.
"Há uma posição concreta de
mais de 1 milhão de trabalhadores
que tem data-base no segundo semestre de se mobilizar para conseguir essa recuperação", diz o
petroleiro Antônio Carlos Spis, da
executiva nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Líder da greve que em 1995 parou por 32 dias as refinarias do
país, Spis reconhece que o temor
de perder o emprego pode ser
uma barreira para que se volte a
ter manifestações como a daquele
ano.
Gatilho
Na campanha salarial do ano
passado, os petroleiros pediram
reajuste de 2,99% a título de reposição das perdas inflacionárias referentes ao período de setembro
de 97 a agosto de 98. Não conseguiram nada.
Neste ano, além de pleitear a recomposição das perdas com a inflação de setembro do ano passado a agosto deste ano, que deve ficar em torno de 6%, a categoria
vai reivindicar recomposição das
perdas nos anos do real (37,25%,
segundo o sindicalista) e gatilho
de 5% a cada vez que a inflação
chegar a esse patamar.
"Se os empresários nos desafiarem, cortarem conquistas históricas e não colocarem o direito
econômico na mesa, podemos
voltar a ter greves", afirmou.
João Vaccari Neto, presidente
do Sindicato dos Bancários de
São Paulo, também defende mecanismo de proteção a cada vez
que a inflação ultrapassar 3%,
mas nega que esteja falando em
gatilho.
No ano passado, os bancários
pediram reajuste de 2,93% para
compensar o impacto da inflação, mas só conseguiram 1,2%.
Neste ano, querem reajuste de
4,67% para repor as perdas salariais de setembro de 98 a agosto
de 99, mais 4,58%, que seria resíduo inflacionário desde 94.
"É preciso ficar claro que os salários são vítimas, e não causadores da inflação. A discussão de salários nunca acabou, mas este
ano voltará com mais intensidade", afirmou.
Segundo ele, o sindicato dos
bancários está discutindo com
outros setores formas de pressionar o governo, mas acha "prematuro" falar em greves.
"Estamos tendo muita pressão
das bases. As perdas salariais passaram dos limites. É preciso recuperar o poder aquisitivo", disse o
coordenador da Confederação
Nacional dos Químicos e presidente do Sindicato dos Químicos
do ABC, Edilson de Paula.
Para ele, a adoção de um abono
para posterior incorporação ao
salário é uma forma de reduzir as
perdas.
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