São Paulo, Sexta-feira, 15 de Outubro de 1999
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POLÍTICA MONETÁRIA

Ele diz que "não há milagres" no que se refere à oferta de empregos e não quer ser cobrado por isso

FHC diz que não é "camelô de ilusões"

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao anunciar ontem medidas de redução de juros para o consumidor, afirmou que nunca foi "camelô de ilusões" porque, no que se refere à oferta de empregos, "não há milagres".
"Não adianta cobrar de mim a redução do desemprego como se isso fosse vontade política. Não. Cobrem de mim a consequência na condução dos rumos do país, custe o que custar, inclusive em termos pessoais. Isso eu estou fazendo. Com toda a sinceridade, com toda a honestidade, nós estamos lutando. E a expressão é essa mesma: lutando", afirmou FHC.
Definindo as medidas anunciadas ontem como "oportunidades de janela que se abrem" para que a economia do país possa crescer pelo menos 4% no próximo ano, FHC disse que elas fazem parte da nova visão do governo: "melhorar a vida e revalorizar cada pessoa, cada família, cada empresário e cada trabalhador".
FHC disse que as medidas anunciadas ontem só foram possíveis porque "o governo está fazendo sua lição de casa", como aumentar a arrecadação, e cobrou mudanças nas taxas de juros cobradas pelos bancos.
"Nada justifica uma taxa de 150% ao ano no crédito pessoal. Nada", afirmou o presidente, classificando as altas taxas como "um tiro no pé" das próprias instituições financeiras -pois elas acabam causando "mal-estar na economia", porque as margens de lucro excessivas resultam no aumento da inadimplência. "Tem de baixar, tem de denunciar quando houver abuso."
Se dizendo "emocionado e satisfeito" por conseguir atravessar o ano de turbulências na economia e chegar a outubro podendo anunciar medidas para que o país retome o crescimento, FHC fez um dos discursos mais otimistas dos últimos meses. "(Tudo o que foi anunciado) Me deixa muito contente", afirmou, ao encerrar sua intervenção.
A seguir, alguns dos principais pontos do discurso do presidente, feito no Palácio do Planalto:

CRÍTICOS E SIMPLISTAS -
Segundo o presidente, somente alguns "que estão calejados na condução do processo econômico brasileiro" é que sabem "o quão difícil foi segurar o leme (da economia) desde setembro do ano passado". FHC disse que está lutando "com muita incompreensão, com oposição desnecessária a medidas que são para o bem do Brasil por parte de políticos irresponsáveis". Para ele, esses políticos -ele não citou nomes nem sugeriu partidos- "transformam tudo, tudo, tudo mesmo, em factóide e em objeto de crítica irresponsável, até mesmo pessoal, ao presidente da República".
FHC disse que nos últimos meses, assim como no início do Plano Real, não faltaram "os de sempre com suas idéias simplistas", como as de controlar preços e de prender donos de supermercado. "Agora não faltou também quem começasse de novo a atacar o Real, como que torcendo pela inflação, como que imaginando: "Bom, dessa vez pegamos o governo, liquidamos". Não teriam pego o governo, teriam pego o país, teriam afundado o país".

TUDO PELO PEQUENO -
FHC disse que nos últimos dois meses mudou a direção da política econômica porque foram superadas as dificuldades maiores, especialmente na conjuntura internacional. "Peço a Deus que continuemos com essas previsões", afirmou. Segundo ele, "tudo agora passa a ser voltado para o dia-a-dia, para o cotidiano, para melhorar a vida das pessoas, do microempresário, da pessoa que produz na família, no campo, do pequeno fazendeiro e do pequeno empresário".
Segundo o presidente, as medidas microeconômicas que vêm sendo anunciadas nos últimos dias são necessárias para dar "carne à musculatura" do programa "Avança Brasil", que está no Congresso.

MALAN E FRAGA -
FHC voltou a dizer que "o equilíbrio fiscal é a bússola" do governo e que as medidas anunciadas não prejudicam o ajuste fiscal. O presidente afirmou que o ministro Pedro Malan (Fazenda) "é a pessoa que, na verdade, define os rumos e continuará definindo os rumos da economia". FHC elogiou ainda o presidente do BC, Armínio Fraga. "Ele é uma pessoa de visão positiva, que fica feliz quando toma medidas positivas e que tem a coragem de dizer que algumas dessas medidas são para controlar mais os bancos".

FIRMEZA E CONSTRANGIMENTO -
FHC afirmou que ano passado, antes mesmo da sua reeleição, disse "com muita firmeza ao país que medidas duras seriam tomadas, impopulares que fossem, para evitar que o Brasil perdesse o rumo". FHC disse que afirmou "com constrangimento" que o país precisaria recorrer ao Fundo Monetário Internacional para suportar as crises externas.
"Dei um sinal, também, de confiança ao dizer que a disposição que tínhamos de enfrentar as dificuldades não afastava do horizonte a preocupação obsessiva com o crescimento e o desenvolvimento".

TAXA DE JUROS E PREVIDÊNCIA -
FHC afirmou que a TJLP, que hoje está em 12%, pode baixar mais quanto mais depressa andarem as reformas constitucionais no Congresso, reduzindo o chamado "custo Brasil". Disse ainda que o governo vai procurar encontrar soluções para o déficit da Previdência, após a derrota sofrida na cobrança dos inativos. "O governo fez o que pôde. O governo não discute decisões do Supremo Tribunal Federal. Cumpre", disse FHC, reafirmando que esse déficit "não é questão de partido ou do presidente, mas de toda a sociedade".





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