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POLÍTICA MONETÁRIA
Ele diz que "não há milagres" no que se refere à oferta de empregos e não quer ser cobrado por isso
FHC diz que não é "camelô de ilusões"
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao anunciar ontem
medidas de redução de juros para
o consumidor, afirmou que nunca foi "camelô de ilusões" porque,
no que se refere à oferta de empregos, "não há milagres".
"Não adianta cobrar de mim a
redução do desemprego como se
isso fosse vontade política. Não.
Cobrem de mim a consequência
na condução dos rumos do país,
custe o que custar, inclusive em
termos pessoais. Isso eu estou fazendo. Com toda a sinceridade,
com toda a honestidade, nós estamos lutando. E a expressão é essa
mesma: lutando", afirmou FHC.
Definindo as medidas anunciadas ontem como "oportunidades
de janela que se abrem" para que
a economia do país possa crescer
pelo menos 4% no próximo ano,
FHC disse que elas fazem parte da
nova visão do governo: "melhorar a vida e revalorizar cada pessoa, cada família, cada empresário e cada trabalhador".
FHC disse que as medidas
anunciadas ontem só foram possíveis porque "o governo está fazendo sua lição de casa", como
aumentar a arrecadação, e cobrou
mudanças nas taxas de juros cobradas pelos bancos.
"Nada justifica uma taxa de
150% ao ano no crédito pessoal.
Nada", afirmou o presidente,
classificando as altas taxas como
"um tiro no pé" das próprias instituições financeiras -pois elas
acabam causando "mal-estar na
economia", porque as margens
de lucro excessivas resultam no
aumento da inadimplência. "Tem
de baixar, tem de denunciar
quando houver abuso."
Se dizendo "emocionado e satisfeito" por conseguir atravessar
o ano de turbulências na economia e chegar a outubro podendo
anunciar medidas para que o país
retome o crescimento, FHC fez
um dos discursos mais otimistas
dos últimos meses. "(Tudo o que
foi anunciado) Me deixa muito
contente", afirmou, ao encerrar
sua intervenção.
A seguir, alguns dos principais
pontos do discurso do presidente,
feito no Palácio do Planalto:
CRÍTICOS E SIMPLISTAS - Segundo o presidente, somente alguns "que estão calejados na condução do processo econômico
brasileiro" é que sabem "o quão
difícil foi segurar o leme (da economia) desde setembro do ano
passado". FHC disse que está lutando "com muita incompreensão, com oposição desnecessária
a medidas que são para o bem do
Brasil por parte de políticos irresponsáveis". Para ele, esses políticos -ele não citou nomes nem
sugeriu partidos- "transformam tudo, tudo, tudo mesmo,
em factóide e em objeto de crítica
irresponsável, até mesmo pessoal, ao presidente da República".
FHC disse que nos últimos meses, assim como no início do Plano Real, não faltaram "os de sempre com suas idéias simplistas",
como as de controlar preços e de
prender donos de supermercado.
"Agora não faltou também quem
começasse de novo a atacar o
Real, como que torcendo pela inflação, como que imaginando:
"Bom, dessa vez pegamos o governo, liquidamos". Não teriam
pego o governo, teriam pego o
país, teriam afundado o país".
TUDO PELO PEQUENO - FHC
disse que nos últimos dois meses
mudou a direção da política econômica porque foram superadas
as dificuldades maiores, especialmente na conjuntura internacional. "Peço a Deus que continuemos com essas previsões", afirmou. Segundo ele, "tudo agora
passa a ser voltado para o dia-a-dia, para o cotidiano, para melhorar a vida das pessoas, do microempresário, da pessoa que
produz na família, no campo, do
pequeno fazendeiro e do pequeno empresário".
Segundo o presidente, as medidas microeconômicas que vêm
sendo anunciadas nos últimos
dias são necessárias para dar
"carne à musculatura" do programa "Avança Brasil", que está
no Congresso.
MALAN E FRAGA - FHC voltou
a dizer que "o equilíbrio fiscal é a
bússola" do governo e que as medidas anunciadas não prejudicam o ajuste fiscal. O presidente
afirmou que o ministro Pedro
Malan (Fazenda) "é a pessoa que,
na verdade, define os rumos e
continuará definindo os rumos
da economia". FHC elogiou ainda o presidente do BC, Armínio
Fraga. "Ele é uma pessoa de visão
positiva, que fica feliz quando toma medidas positivas e que tem a
coragem de dizer que algumas
dessas medidas são para controlar mais os bancos".
FIRMEZA E CONSTRANGIMENTO - FHC afirmou que ano
passado, antes mesmo da sua reeleição, disse "com muita firmeza
ao país que medidas duras seriam
tomadas, impopulares que fossem, para evitar que o Brasil perdesse o rumo". FHC disse que
afirmou "com constrangimento"
que o país precisaria recorrer ao
Fundo Monetário Internacional
para suportar as crises externas.
"Dei um sinal, também, de confiança ao dizer que a disposição
que tínhamos de enfrentar as dificuldades não afastava do horizonte a preocupação obsessiva
com o crescimento e o desenvolvimento".
TAXA DE JUROS E PREVIDÊNCIA - FHC afirmou que a TJLP,
que hoje está em 12%, pode baixar mais quanto mais depressa
andarem as reformas constitucionais no Congresso, reduzindo
o chamado "custo Brasil". Disse
ainda que o governo vai procurar
encontrar soluções para o déficit
da Previdência, após a derrota sofrida na cobrança dos inativos.
"O governo fez o que pôde. O governo não discute decisões do Supremo Tribunal Federal. Cumpre", disse FHC, reafirmando que
esse déficit "não é questão de partido ou do presidente, mas de toda a sociedade".
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