UOL


São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÊNDULO COMERCIAL

Co-presidente brasileiro diz que país vai buscar "configuração mínima" para evitar "colisão com iceberg"

Brasil "muda agenda" para viabilizar Alca

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Brasil mudou o tom em relação às negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e reafirmou ontem o compromisso de "tentar garantir" a formação do bloco comercial de 34 países em janeiro de 2005.
Segundo o co-presidente brasileiro da Alca, Adhemar Bahadian, Brasil e EUA concluíram ser "impossível manter o encaminhamento da Alca como está" e que "a solução é uma mudança na agenda, que deve ser consensual".
"Até a reunião de Trinidad e Tobago [há duas semanas], a Alca ia na direção de um iceberg. Agora, estamos tirando o processo da rota de colisão", afirmou.
Segundo o co-presidente brasileiro, Brasil e EUA devem manter, em linhas gerais, as atuais restrições de lado a lado nas negociações, mas tentarão "avançar minimamente onde for possível nas questões delicadas".
Bahadian disse que as negociações não podem ser tratadas em "clima de Fla-Flu, como se fosse uma partida de futebol", em referência ao popular clássico entre Flamengo e Fluminense.
As declarações de Bahadian foram dadas em Washington um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinar moderação no tom de autoridades brasileiras em relação à Alca.
O cargo de co-presidente da Alca tem como principal atribuição tornar possível o acordo e coordenar os debates relativos à formação do bloco. Embora nomeado pelo governo brasileiro, Bahadian não negocia formalmente pelo país -função do embaixador Luiz Felipe Macedo Soares.
No entanto, suas palavras enfáticas podem ser interpretadas como um enfraquecimento do tom mais confrontante da equipe de negociação comandada pelo chanceler Celso Amorim.
Bahadian encontrou-se nos dois últimos dias com o co-presidente norte-americano da Alca, Peter Allgeier. O americano deve vir ao Brasil na semana que vem para continuar as negociações.
Bahadian disse que o Brasil "vai tentar chegar a um acordo onde for possível", considerando as restrições de lado a lado. Ele disse que ao país "não interessa negociar regras para investimento, compras governamentais e questões de propriedade industrial, assim como aos EUA não interessa negociar subsídios e políticas antidumping".
Mas sinalizou que, mesmo nos pontos considerados "não-negociáveis" pelo Brasil, pode-se chegar a "configurações mínimas" para que a Alca avance. Ele não explicou o que seriam "configurações mínimas".
Bahadian disse considerar a posição de Allgeier "diferente" da de outros funcionários do Departamento de Comércio dos EUA -que vêm criticando a atitude brasileira nas negociações.
"O interesse da co-presidência é manter o compromisso assumido entre os dois presidentes [do Brasil e dos EUA] de concluir a Alca em 2005", disse.
Procurado pela Folha, Allgeier não quis se pronunciar. Há pouco mais de uma semana, Ross Wilson, representante dos EUA na última rodada de negociações da Alca, em Trinidad e Tobago, disse que o Brasil havia chegado a "uma posição de isolamento".
Reagindo aos rumores sobre uma eventual troca no processo de comando da Alca, o negociador brasileiro fez questão de afirmar -quase uma dezena de vezes- que "quem manda nas negociações é o chanceler Celso Amorim, seguindo as ordens diretas do presidente Lula".


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: "Não há clima de confronto"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.