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LUÍS NASSIF
Fabricando na China
Uma empresa brasileira,
a Braspelco, foi convidada por uma cliente de Taiwan
a montar uma fábrica de calçados e manufaturas de couro
no Brasil. Aceitou na hora.
Quando fez as contas, recuou.
Agora, a fábrica será levantada na China.
A Braspelco foi criada há 17
anos, investiu em inovação e,
dias atrás, inaugurou a mais
moderna fábrica do mundo em
Itumbiara, com investimento
de R$ 190 milhões, metade em
ativo fixo, metade em capital
de giro. A empresa exporta
85% da produção. Neste ano
chegará aos US$ 180 milhões.
Em dois anos, a previsão é saltar para US$ 300 milhões/ano.
Hoje em dia, a Braspelco é a
maior produtora mundial de
couro para móveis. De 60 dias
para cá passou a fornecer couro para linha de carros da General Motors no Brasil. E está
próxima de acertar com a Ford.o fornecimento com exclusividade para a América Latina.
No início do governo Fernando Henrique Cardoso, a empresa foi afetada de duas maneiras. O câmbio a jogou por
terra. E a então ministra Dorothéa Werneck (Indústria, Comércio e Turismo) a estimulou
a buscar qualidade em troca de
estímulos oficiais. Durante dois
anos a Braspelco testou o programa de qualidade. Depois,
implantado, permitiu que produção saltasse de 800 mil para
2,4 milhões de couros/ano.
Hoje em dia a empresa tem
escritórios em várias partes do
mundo, inclusive na China. E
está abrindo dois centros de
distribuição nos Estados Unidos. Só que, para penetrar no
mercado norte-americano,
tem que passar pela intermediação de empresas chinesas
ou do sul da Itália.
O problema maior do setor
-cuja cadeia produtiva exporta 80% da produção- se
chama "crédito tributário". Pela Lei Kandir, as exportações
brasileiras foram desoneradas,
assim como a venda de matérias-primas. A empresa adquire matéria-prima e se credita
do ICMS, PIS e Cofins. Esse crédito serve para compensar com
o imposto devido. Só que, como
a maior parte da produção
(não só dela, mas do setor) é
exportada, não há como efetuar a compensação.
A dívida acumulada é pesada, menos com os Estados
(ICMS), mais com a União
(PIS-Cofins). Recentemente a
empresa fez um cálculo sobre o
custo financeiro dessa operação -comparando o pagamento antecipado do ICMS e o
custo financeiro até o ressarcimento do imposto- e parou
em US$ 35 milhões -o custo
da fábrica que construiu em
Itumbiara e que criará 2.800
empregos.
Para este ano, o faturamento
previsto da empresa é de R$
800 milhões. O crédito acumulado chegará a R$ 125 milhões,
metade devida pelos Estados
(ICMS) e metade pela União
(PIS-Cofins).
A fábrica que seria construída no Brasil trabalharia com
uma margem de lucro de 6%.
Os créditos tributários correspondem a 15% do faturamento. A solução foi fechar aqui e
levantar a fábrica na China,
para dar emprego para chineses -ou para brasileiros imigrados.
Estima-se que os brasileiros
que trabalham hoje na China
produzam, em sapatos, o correspondente a toda a exportação brasileira.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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