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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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LUÍS NASSIF

Fabricando na China

Uma empresa brasileira, a Braspelco, foi convidada por uma cliente de Taiwan a montar uma fábrica de calçados e manufaturas de couro no Brasil. Aceitou na hora. Quando fez as contas, recuou. Agora, a fábrica será levantada na China.
A Braspelco foi criada há 17 anos, investiu em inovação e, dias atrás, inaugurou a mais moderna fábrica do mundo em Itumbiara, com investimento de R$ 190 milhões, metade em ativo fixo, metade em capital de giro. A empresa exporta 85% da produção. Neste ano chegará aos US$ 180 milhões. Em dois anos, a previsão é saltar para US$ 300 milhões/ano.
Hoje em dia, a Braspelco é a maior produtora mundial de couro para móveis. De 60 dias para cá passou a fornecer couro para linha de carros da General Motors no Brasil. E está próxima de acertar com a Ford.o fornecimento com exclusividade para a América Latina.
No início do governo Fernando Henrique Cardoso, a empresa foi afetada de duas maneiras. O câmbio a jogou por terra. E a então ministra Dorothéa Werneck (Indústria, Comércio e Turismo) a estimulou a buscar qualidade em troca de estímulos oficiais. Durante dois anos a Braspelco testou o programa de qualidade. Depois, implantado, permitiu que produção saltasse de 800 mil para 2,4 milhões de couros/ano.
Hoje em dia a empresa tem escritórios em várias partes do mundo, inclusive na China. E está abrindo dois centros de distribuição nos Estados Unidos. Só que, para penetrar no mercado norte-americano, tem que passar pela intermediação de empresas chinesas ou do sul da Itália.
O problema maior do setor -cuja cadeia produtiva exporta 80% da produção- se chama "crédito tributário". Pela Lei Kandir, as exportações brasileiras foram desoneradas, assim como a venda de matérias-primas. A empresa adquire matéria-prima e se credita do ICMS, PIS e Cofins. Esse crédito serve para compensar com o imposto devido. Só que, como a maior parte da produção (não só dela, mas do setor) é exportada, não há como efetuar a compensação.
A dívida acumulada é pesada, menos com os Estados (ICMS), mais com a União (PIS-Cofins). Recentemente a empresa fez um cálculo sobre o custo financeiro dessa operação -comparando o pagamento antecipado do ICMS e o custo financeiro até o ressarcimento do imposto- e parou em US$ 35 milhões -o custo da fábrica que construiu em Itumbiara e que criará 2.800 empregos.
Para este ano, o faturamento previsto da empresa é de R$ 800 milhões. O crédito acumulado chegará a R$ 125 milhões, metade devida pelos Estados (ICMS) e metade pela União (PIS-Cofins).
A fábrica que seria construída no Brasil trabalharia com uma margem de lucro de 6%. Os créditos tributários correspondem a 15% do faturamento. A solução foi fechar aqui e levantar a fábrica na China, para dar emprego para chineses -ou para brasileiros imigrados.
Estima-se que os brasileiros que trabalham hoje na China produzam, em sapatos, o correspondente a toda a exportação brasileira.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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