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INFRA-ESTRUTURA
Fundos compostos por bens públicos e receitas orçamentárias vão assegurar remuneração a investidores
PPP dá garantias inéditas para setor privado
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Proposta de PPP (Parceria Público-Privada) divulgada ontem
pelo governo prevê uma série de
garantias inéditas do Estado para
viabilizar investimentos em projetos sem retorno econômico
imediato. A estimativa oficial é
que o PPP poderá atrair R$ 36 bilhões de recursos privados no período de 2004 a 2007.
O ministro do Planejamento,
Guido Mantega, apresentou a minuta de projeto aos membros do
CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Dentro de duas semanas, o conselho
deverá entregar sugestões de mudanças no projeto a Mantega, que
pretende encaminhar o texto ao
Congresso até o fim do mês.
Antes do anúncio, Mantega deu
uma gafe e fez uma brincadeira de
mau gosto. "O lançamento do
PPP não tem nada a ver com o de
Alcântara", disse, em referência
ao desastre que matou 21 pessoas
em agosto passado, na base situada no Maranhão.
As garantias de retorno do investimento estão entre as principais novidades da proposta. O
PPP terá instrumentos que não
são usados na contratação de
obras públicas hoje.
Entre eles, a prioridade de pagamento em relação às demais obrigações contratuais do Estado, que
incluem obras feitas com base na
Lei de Licitações, por exemplo.
Outra garantia é a possibilidade
de que o empenho (documento
que autoriza a despesa pública)
seja liquidado em favor da instituição que financiou o projeto.
Além disso, o Estado poderá
constituir fundos para garantir os
pagamentos previstos nos contratos, que serão remunerados em
até 30 anos. Esses fundos poderiam ser formados com bens públicos móveis e imóveis e receitas
orçamentárias vinculadas.
"São investimentos de longo
prazo de duração e são necessários vários tipos de garantia", afirmou Fernando Haddad, assessor
especial de Mantega e um dos autores do projeto. Segundo ele, hoje as obras públicas são feitas sem
risco para o setor privado, que
passaria a existir no caso do PPP.
Apesar de o governo defender a
repartição de risco entre as duas
partes, as declarações de Mantega
indicam que o setor público vai
arcar com uma parcela maior dos
eventuais problemas econômicos
dos projetos. A intenção do governo é usar o modelo de PPP em
obras que não tenham atrativo
econômico imediato, mas que
possam dar retorno a médio e
longo prazos.
Mantega citou o exemplo da recuperação da BR-101, no trecho
entre Bahia e Rio Grande do Norte, cujo fluxo de veículos não garante o retorno de investimento
por meio da cobrança de pedágio.
Mas a aposta é que, com a recuperação da estrada, isso venha a
ocorrer no futuro. "Nesse caso, o
setor público garantiria o pagamento ao investidor até que o empreendimento seja rentável", observou Mantega. "Vai ter subsídio
do setor público."
O ministro diz que os projetos
que poderão ser realizados em
parceria com o setor privado estão previstos no PPA 2004-2007.
Segundo ele, são projetos "estruturantes", essenciais para o crescimento econômico do país.
O modelo PPP seria a alternativa à pouca disponibilidade de recursos públicos para investimentos. "O Estado volta a ter papel
importante, sinalizando projetos
estruturantes, mas sem que seja o
próprio Estado a realizar esses investimentos", disse.
O projeto estabelece as linhas
gerais do PPP, mas dá margem
para que o modelo de pagamento
e garantias sejam definidos em cada caso. Essa engenharia financeira "flexível", nas palavras de Haddad, permite remuneração em dinheiro e em diferentes formas de
cessão de direitos do Estado para
a iniciativa privada. A proposta
também permite a utilização do
PPP em todos os tipos de obras
públicas, de hospitais a metrôs.
Os empresários receberam bem
o projeto, mas ressaltaram que só
ele não será suficiente para atrair
investimentos. Para eles, isso só
ocorrerá com a definição do marco regulatório. "O setor privado
quer saber quais são as regras e
qual será o papel das agências reguladoras", afirmou o presidente
da Siemens, Adilson Primo.
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