São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2005

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VAREJO

Agosto registra queda de 0,38% nas vendas em relação a julho; IBGE vê "acomodação e desaceleração" do setor

Crédito menor provoca recuo no comércio

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após cinco meses de expansão, o comércio patinou em agosto: o volume de mercadorias comercializadas no varejo caiu 0,38% na comparação livre de efeitos sazonais com julho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em julho, as vendas haviam subido 0,24%.
Já na comparação com 2004, o comércio segue aquecido. As vendas subiram 6,47% ante agosto de 2004. Foi o 21º mês consecutivo de expansão. No ano, as vendas do varejo acumulam alta de 4,86%.
Para Reinaldo Pereira, economista de Comércio e Serviços do IBGE, os dados relevam "uma acomodação e uma desaceleração" do setor, sob efeito do menor ritmo de crescimento do crédito.
Na avaliação de Pereira, muitas famílias chegaram a um limite de endividamento e não têm mais condições de tomar novos empréstimos, o que leva o crédito a se expandir mais lentamente. "Parece que há uma tendência de arrefecimento do crédito", disse.
Por conta dessa tendência, as vendas de móveis e eletrodomésticos ficaram paradas em agosto (+0,03%), e as de tecidos, vestuário e calçados caíram (-2,37%).
O economista Carlos Thadeu de Freitas, da CNC (Confederação Nacional do Comércio), diz que o "crédito vem perdendo fôlego lentamente". Ele avalia, porém, que a renda, em recuperação, proporcionará que o crédito volte a ter o vigor de antes, já que as famílias quitam dívidas antigas e ficam livres para novos empréstimos.
"É natural que a capacidade de endividamento esteja limitada depois de tanto tempo com o crédito em expansão, mas não vejo o fim do ciclo de aumento do crédito", afirma Freitas. Um sinal que reforça sua análise, diz, é que a inadimplência não está em alta.
Para Freitas, o comércio também sofre com os juros elevados. Se o Banco Central tivesse começado a cortar os juros antes, diz, o setor não estaria vivendo esse momento de "acomodação". O BC só reduziu a Selic em setembro após um ano de aperto monetário, de 19,75% ao ano para 19,5%.
Freitas diz, porém, que a expansão da renda nos últimos meses, em razão da queda dos índices de preço e do aumento do salário mínimo e dos dissídios acima da inflação, permitiu o avanço das vendas de bens não-duráveis (alimentos), tendência que deve se manter até o final do ano.
Em agosto, os super e hipermercados venderam 0,53% a mais do que em julho, no indicador com ajuste sazonal. O ramo, diz, deve ser o destaque nos próximos meses, liderando as vendas do setor.
A CNC prevê que as vendas voltem a subir no último trimestre do ano. Para 2005, vê crescimento de 4,5%. "O que é muito bom em cima de uma base elevada de 2004, que teve alta de 9,3%", diz Freitas. O IBV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo) diz, em relatório, que o comércio "já ensaia um recuo", dada a contínua desaceleração dos últimos cinco meses, quando as vendas perderam fôlego. Na atual trajetória, o IBV estima alta de 4,5% nas vendas do varejo em 2005.


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