São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009

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Sob pressão, Vale anuncia em MG investimento já previsto

Dos R$ 9,5 bi anunciados, R$ 4,4 bi eram previstos em plano divulgado há um ano

Por enquanto, nenhum dos três investimentos foi aprovado pelo conselho da empresa, que está sob ataque do governo Lula

BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Em meio a críticas cada vez mais fortes do governo à sua gestão, o presidente da Vale, Roger Agnelli, anunciou ontem, em Belo Horizonte, ao lado do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), investimentos de R$ 9,5 bilhões no Estado até 2013. Mas quase metade dos investimentos já era prevista há mais de um ano.
Os projetos da Vale Minas -Estado em que a empresa dispensou 260 pessoas na crise, de um total de 1.300 em todo o mundo- haviam sido duramente afetados com a recessão global porque as minas mineiras têm custo de produção maior. Diante da necessidade de ajustar a produção à demanda, a Vale usou esse critério para fazer os cortes.
O projeto de Apolo, no valor de R$ 4,4 bilhões, já constava do plano de investimento divulgado há um ano, e resistiu no programa mesmo quando, em janeiro, já enfrentando a queda nas vendas de minério de ferro de 30%, a Vale anunciou adiamento de R$ 10 bilhões em investimentos previstos inicialmente para 2009.
Os outros dois investimentos são duas novas usinas de processamento de minério de ferro, no valor total de R$ 5 bilhões, em minas já existentes.
Os investimentos da Vale anunciados ontem devem gerar cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos.
Nenhum dos três investimentos foi aprovado, por enquanto, pelo conselho de administração da Vale, a instância máxima de decisões estratégicas. Ele tem 11 membros, representando principalmente Previ (o fundo de pensão do Banco do Brasil), Bradesco e BNDES.
Para o analista Gilberto Cardoso, do Banif Securities, o anúncio foi visto com surpresa. "Pode ter sido feito com o objetivo de mostrar fatos positivos em um momento ruim", diz.
Antônio Ruiz, analista do Banco do Brasil, lembra que, em cinco anos, o investimento não chega a ser relevante. E diz que a situação nas minas do Estado já não é tão ruim. "A demanda se recupera mais rapidamente do que esperávamos."
Mesmo diante de um pré-candidato opositor à Presidência da República, Agnelli não escapou de cobranças do governo mineiro. Aécio, assim como Lula, cobrou publicamente de Agnelli investimentos em agregação de valor ao minério de ferro extraído em Minas.
"Queremos que essa parceria continue avançando. É muito importante que nós tenhamos em Minas Gerais, no futuro, novos investimentos que agreguem ainda maior valor à matéria-prima aqui extraída", disse Aécio no Palácio da Liberdade em ato com diretores da Vale, empresários e políticos.
A falta de beneficiamento do minério de ferro pela Vale no Brasil é uma das principais críticas do presidente Lula a Agnelli, a ponto de ele ter dado sinal verde para a ofensiva do empresário Eike Batista para adquirir ações da Vale em mãos do Bradesco -fiador de Agnelli na presidência da companhia- e de fundos de pensão estatais.
O presidente também reclama que navios usados para embarque do minério extraído no Brasil vêm sendo encomendados no exterior, em detrimento da indústria naval brasileira.
Em reunião reservada antes da solenidade, Aécio cobrou de Agnelli a construção de uma siderúrgica no Estado. Segundo o governo mineiro, a diretoria da Vale disse que iria estudar o assunto.
Sem citar o governo federal ou os atritos com o presidente Lula, Agnelli disse, em discurso de cinco minutos, que a Vale está preparada para não "frustrar as expectativas" de Minas.
"A parceria com Aécio Neves tem sido muito positiva e importante. Nunca nos faltou apoio aqui em Minas, e a gente não vai frustrar nenhum tipo de expectativa que os mineiros tenham em relação à Vale."
Agnelli e os diretores da Vale deixaram o Palácio da Liberdade pelos fundos, sem falar com a imprensa. Agnelli tinha compromissos agendados, segundo sua assessoria.


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