São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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FHC diz que é cedo para falar em alta de juros

DO ENVIADO ESPECIAL A OXFORD

O presidente Fernando Henrique Cardoso acha "cedo" para falar de aumento da taxa de juros como resposta aos mais recentes índices inflacionários que mostraram uma elevação inquietante.
"Essa inflação é basicamente consequência da alta do dólar. O dólar diminuiu. Chegou a quase R$ 3,90 e está em R$ 3,50/R$ 3,60. Como não há indexação -acabar com a indexação foi a grande virtude que tivemos lá no Brasil-, não há transmissão automática para todos os preços. Sobe e pára naquele patamar. Não há uma continuidade da inflação, se o governo tomar as medidas necessárias", comentou FHC, ao deixar a Universidade de Oxford, ontem pela manhã, após receber o título de "doutor honoris causa".
O presidente acha que, agora, depende da "competência" do novo governo, "que espero que exista", combater a inflação, para o que é "preciso seguir certas regras, com o Fundo (Monetário Internacional) ou sem o Fundo".
Deu o seguinte exemplo extremo: "Suponhamos que se pague a dívida toda com o Fundo, como fiz em certa oportunidade. Não obstante, tem que manter o controle do gasto público, porque a idéia de que é possível produzir dinheiro via emissões já se viu que não funciona". Em todo o caso, FHC deixou uma brecha para o novo governo: "Em matéria de economia, sobretudo do governo, é arte, não há receita. Tem que saber se adaptar e tomar decisões".
Ele evitou em três momentos dar palpites sobre ações do próximo governo. Quando lhe perguntaram sobre a curiosidade dos mercados em torno da indicação do futuro presidente do BC, disse: "Curiosidade, há. Mas a gente tem que levar os mercados nos devidos termos. A regra que prevalece é a da eleição. O presidente novo tem que tomar decisões no momento que achar interessante".
Um jornalista quis saber sobre os crescentes rumores de que Armínio Fraga, atual presidente do BC, poderia ficar por um tempo no cargo, já no novo governo.
FHC respondeu: "Não quero me meter nisso porque daqui a pouco vão achar que estou querendo influenciar decisões do novo presidente, e não é meu objetivo. Ele tem que assumir a responsabilidade do modo que achar mais conveniente, porque tem a delegação do povo para isso".
Por fim, quando lhe perguntaram o que recomendaria a Lula para o encontro com o presidente George W. Bush, se o estilo "paz e amor" da campanha ou a dureza na crítica ao unilateralismo dos EUA, FHC respondeu: "Eu não preciso recomendar nada a ele. Vai defender os interesses do Brasil contra o unilateralismo. Acho que aí não há dúvida nenhuma".
No único assunto em que, sim, admitiu interferir junto ao futuro governo será a pedido do premiê britânico. FHC contou que Tony Blair lhe telefonou ontem, que falaram sobre vários assuntos, entre eles a crise do Iraque, e que o premiê pediu que falasse com Lula sobre a possibilidade de vir ao Reino Unido. (CLÓVIS ROSSI)

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