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FHC diz que é cedo para falar em alta de juros
DO ENVIADO ESPECIAL A OXFORD
O presidente Fernando Henrique Cardoso acha "cedo" para falar de aumento da taxa de juros
como resposta aos mais recentes
índices inflacionários que mostraram uma elevação inquietante.
"Essa inflação é basicamente
consequência da alta do dólar. O
dólar diminuiu. Chegou a quase
R$ 3,90 e está em R$ 3,50/R$ 3,60.
Como não há indexação -acabar
com a indexação foi a grande virtude que tivemos lá no Brasil-,
não há transmissão automática
para todos os preços. Sobe e pára
naquele patamar. Não há uma
continuidade da inflação, se o governo tomar as medidas necessárias", comentou FHC, ao deixar a
Universidade de Oxford, ontem
pela manhã, após receber o título
de "doutor honoris causa".
O presidente acha que, agora,
depende da "competência" do
novo governo, "que espero que
exista", combater a inflação, para
o que é "preciso seguir certas regras, com o Fundo (Monetário Internacional) ou sem o Fundo".
Deu o seguinte exemplo extremo: "Suponhamos que se pague a
dívida toda com o Fundo, como
fiz em certa oportunidade. Não
obstante, tem que manter o controle do gasto público, porque a
idéia de que é possível produzir
dinheiro via emissões já se viu que
não funciona". Em todo o caso,
FHC deixou uma brecha para o
novo governo: "Em matéria de
economia, sobretudo do governo,
é arte, não há receita. Tem que saber se adaptar e tomar decisões".
Ele evitou em três momentos
dar palpites sobre ações do próximo governo. Quando lhe perguntaram sobre a curiosidade dos
mercados em torno da indicação
do futuro presidente do BC, disse:
"Curiosidade, há. Mas a gente tem
que levar os mercados nos devidos termos. A regra que prevalece
é a da eleição. O presidente novo
tem que tomar decisões no momento que achar interessante".
Um jornalista quis saber sobre
os crescentes rumores de que Armínio Fraga, atual presidente do
BC, poderia ficar por um tempo
no cargo, já no novo governo.
FHC respondeu: "Não quero
me meter nisso porque daqui a
pouco vão achar que estou querendo influenciar decisões do novo presidente, e não é meu objetivo. Ele tem que assumir a responsabilidade do modo que achar
mais conveniente, porque tem a
delegação do povo para isso".
Por fim, quando lhe perguntaram o que recomendaria a Lula
para o encontro com o presidente
George W. Bush, se o estilo "paz e
amor" da campanha ou a dureza
na crítica ao unilateralismo dos
EUA, FHC respondeu: "Eu não
preciso recomendar nada a ele.
Vai defender os interesses do Brasil contra o unilateralismo. Acho
que aí não há dúvida nenhuma".
No único assunto em que, sim,
admitiu interferir junto ao futuro
governo será a pedido do premiê
britânico. FHC contou que Tony
Blair lhe telefonou ontem, que falaram sobre vários assuntos, entre
eles a crise do Iraque, e que o premiê pediu que falasse com Lula
sobre a possibilidade de vir ao
Reino Unido.
(CLÓVIS ROSSI)
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