São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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Para analistas, melhora é discreta e não é tendência

DA REPORTAGEM LOCAL

A melhora no fluxo de financiamentos externos ao país, verificada na primeira quinzena de outubro, é muito discreta e localizada, não indica uma tendência. "Não dá para perceber uma mudança estrutural no quadro", diz Rodolfo Soares, diretor do BankBoston.
Segundo Soares, trata-se de operações ligadas basicamente ao financiamento à exportação, concedidas apenas para empresas de primeiríssima linha e muito bem amarradas a contratos de exportação. "O fluxo de exportação é dado como garantia ao financiamento", diz ele.
Segundo o diretor de um importante banco europeu, nesses casos os prazos começam a esticar um pouco. Antes das eleições, eram de apenas um ano e, agora, já é possível obter-se financiamento para pagar em até dois anos. Também o "spread" - juros cobrado acima da taxa Libor- recuou de 10% ao ano para 4% ao ano.
Já os financiamentos à importação continuam difíceis, segundo Lúcio Moura, diretor do Lloyds TSB. Os bancos estrangeiros estariam evitando qualquer tipo de operação que implique em fechar contratos de câmbio no Brasil.
No caso das exportações, os bancos não correm o risco Brasil, pois o financiamento é pago ao banco, diretamente, pelo importador do produto brasileiro.
Segundo diretores de bancos internacionais ouvidos pela Folha, as taxas de juro para financiar a importação estão entre 4% e 5% ao ano, além da Libor. "Nesse patamar não sai negócio", diz Moura.
Na sua opinião tais taxas estão muito acima do risco Brasil. "Em todas as crises anteriores os negócios paravam quando o "spread" chegava em 3% ao ano", diz Moura. Mais do que isso, os grandes bancos e empresas locais não estariam dispostos a pagar, segundo ele.

Outras linhas
As operações bilaterais, em que um banco local oferece linhas de financiamento à importação e exportação, com funding externo, também não mostraram recuperação. E as operações de dívida pura - empréstimo a empresas brasileiras por bancos internacionais- sem vínculo com o comércio exterior, continuam suspensas.
Segundo Soares, do BankBoston, a dificuldade de financiamento às empresas não ocorre só no Brasil. "Há uma aversão generalizada ao risco, em todo o mundo", diz. Os "spreads" de crédito estão subindo nos EUA, no Japão e na Europa também para as empresas daqueles países, segundo Soares. "As empresas com rating abaixo de "A" são as que estão pagando juros mais altos nos financiamentos", diz.


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