São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Cúpula do partido espera que BC tome decisão "técnica" necessária; porta-voz nega aceitação de elevação da taxa

PT já espera alta do juro contra inflação

GUSTAVO PATÚ
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante das expectativas cada vez piores para a inflação de 2003, o PT enviou sinais ao governo federal de que espera uma decisão "técnica" do Banco Central para conter a escalada de preços.
Segundo a Folha ouviu na cúpula petista, espera-se que o Copom -o Comitê de Política Monetária do BC, que decide todo mês os juros- tome a medida que achar necessária para conter a inflação. Se for necessário elevar as taxas, afirma-se, que isso seja feito de imediato.
Oficialmente, o partido nega com veemência que aprove a alta de juros. "O governo eleito desautoriza qualquer aumento de juros", disse André Singer, porta-voz do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
A questão é, obviamente, delicada do ponto de vista político. Nos oito anos de governo FHC, o PT criticou a política de juros. Na campanha, economistas do partido chegaram a defender metas de inflação mais elásticas para permitir uma política monetária menos rígida.
Agora, segundo a Folha apurou, teme-se que os preços estourem justamente no primeiro ano de mandato de Lula da Silva e, por isso, considera-se melhor pagar já o preço de sacrificar o crescimento econômico do que arriscar a estabilidade da moeda mais à frente.
Na equipe de transição do PT, o coordenador, Antônio Palocci Filho, limitou-se ontem a declarações genéricas sobre o tema. Disse que não dará opinião "prévia nem posterior" sobre a decisão do Copom. "Todo o Brasil deseja a queda dos juros, mas essa não é uma decisão política."
O BC elevou os juros de 18% para 21% ao ano em outubro, numa reunião extraordinária do Copom. Na época candidato, Luiz Inácio Lula da Silva criticou a decisão. Já o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), considerou a medida "inevitável".

Preços públicos
Palocci disse que o governo Lula adotará uma "política rígida" para os preços públicos -caso de combustíveis, telefonia e energia elétrica, administrados direta ou indiretamente pelo Estado e temidos como os principais alimentadores da inflação em 2003.
A afirmação não veio acompanhada de maiores detalhes sobre o que poderia ser feito nessa área, em que as tarifas são fortemente influenciadas pela variação do dólar. "É fazer o mínimo do mínimo necessário", disse Palocci.
Na campanha eleitoral, Lula defendeu a renegociação dos contratos com as empresas de energia e telefonia, que prevêem reajustes corrigidos pelos IGPs da FGV, índices que captam o efeito do câmbio sobre os preços no atacado.


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