São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2006

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Estudo do Ipea já estava pronto antes das eleições

Órgão diz que não divulgou trabalho em agosto para não interferir no processo

Estudo vê dificuldades para o país crescer 5% ao ano se não forem feitas mudanças em setores da economia, como o de energia elétrica


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, decidiu esperar pelo fim das eleições para só então divulgar estudo que aponta as dificuldades que o país terá para crescer 5% ao ano caso não sejam feitas mudanças em diversos setores da economia.
O documento, intitulado "Uma agenda para o crescimento econômico e a redução da pobreza", tem 138 páginas, reúne nove artigos preparados por uma equipe de 16 pessoas e foi publicado anteontem no site do Ipea na internet.
O trabalho de maior repercussão, assinado por Paulo Levy e Fábio Giambiagi, aponta a impossibilidade de o país crescer 5% ao ano "nos próximos anos" devido a duas restrições: problemas no setor elétrico, que não seria capaz de fornecer energia para sustentar uma expansão dessa magnitude, e a baixa taxa de investimentos.
De acordo com os autores, a combinação desses dois fatores "impede uma expansão sustentada muito acima de 3,5% ao ano". Logo após o anúncio de sua reeleição, o presidente Lula afirmou que o Brasil crescerá 5% já em 2007.
"A proposta [de realização do estudo] partiu da direção do Ipea em abril. Com a proximidade do fim do governo, surgiu a idéia de fazer uma discussão em torno das políticas públicas no Brasil", afirma Levy, que é diretor de Estudos Macroeconômicos do instituto.
"O trabalho foi concluído preliminarmente em agosto, quando foi apresentado ao ministro do Planejamento, e apresentado agora, passada a eleição. Havia a preocupação de não interferir no processo eleitoral", afirma o diretor.
Levy diz que trabalho semelhante já havia sido feito no início do governo FHC (95-2002). Pesquisas como essa divulgada anteontem são publicadas regularmente pelo Ipea na internet e não refletem, obrigatoriamente, a opinião do instituto sobre os assuntos abordados. Segundo a assessoria de imprensa do Ipea, a decisão de publicar ou não um trabalho parte da diretoria do Ipea, sem influência do governo.
Giambiagi é economista do Ipea e trabalhou na assessoria econômica do Ministério do Planejamento quando José Serra era o titular da pasta.


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