São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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Brasileiros que vivem nos EUA têm dificuldades de adaptação

MATHEUS PICHONELLI
RENATA BAPTISTA
DA AGENCIA FOLHA

Brasileiros que foram para os Estados Unidos em busca do chamado "sonho americano" relatam dificuldades em se adaptar à nova realidade no epicentro da crise financeira internacional. Falta de emprego e de perspectivas têm levado a mudanças de hábitos no país ou "forçado" a volta ao Brasil.
Após um ano e seis meses, o paulista Bruno Cesar Pedro, 25, está de malas prontas. Ele trabalhava para uma padaria em Boston e não pensava em voltar tão cedo. Mudou os planos após o fechamento da empresa, que demitiu todos os funcionários.
"A gente vê muita gente perdendo as casas, lojas gigantes fechando. Eu trabalhava com entregas, tinha salário e ganhava gorjeta, e isso caiu", afirma.
Juliana Nunes, 26, que voltou ao Brasil neste mês, conta que a ocupação no hotel onde era trainee em Palm Spring (Califórnia) durante a semana chegava a apenas 10% em setembro -a expectativa era que fosse de 50%. "Minha chefe dizia: "O que está acontecendo?" Ganhávamos por dia e o serviço de quatro passou a ser feito só por um. Tinha dia que eu chegava às 7h e já saía às 7h20."
Os que optaram por ficar estão se adaptando a mudanças.
Há 11 anos em Utah, a manauara Silvana Hoggan, 39, era diretora de uma grande empresa do ramo farmacêutico e, demitida, tem prestado consultorias, vendido peças de artesanato pela internet e até cachorro-quente em bufê. Com marido e filha americanos, ela não pensa, porém, em voltar. "Todos estão esperançosos após a eleição de [Barack] Obama."
Gerente de construtora de Massachusetts, o rondoniense Miguel Gonçalves, 43, diz que a empresa, com a crise imobiliária, cortou 13 de 16 funcionários e que 40% dos projetos foram cancelados.
Segundo a gerente do programa de estágios e trabalho no exterior da CI (Central de Intercâmbio) no Brasil, Gisele Mainardi, desde o meio de ano empresas americanas vêm diminuindo ofertas de trabalho.
O estudante de biologia Guilherme Lima, 23, de Brasília, manteve o roteiro, mas quase desistiu após a empresa que o havia contratado cancelar a proposta. Ele conseguiu vaga por três meses num supermercado de Maryland e vai arriscar. "É provável que eu seja colocado para fora após um mês."
Em Governador Valadares (MG), o fluxo dos que voltam cresceu. Segundo a Associação dos Parentes e Amigos dos Emigrantes, há 40 mil valadarenses nos EUA.
O vice-presidente da associação, Raimundo Santana, diz que o irmão que mora lá fazia parte de um grupo de 20 amigos brasileiros e que mais da metade voltou. "As empresas não estão cortando a gordura, mas a carne." Santos disse que é difícil quantificar quantos voltam, pois muitos são ilegais.
Silas Costa Jr., da Cooperativa de Poupança e Crédito do Vale do Rio Doce, diz que o valor médio das remessas saltaram de R$ 908 de janeiro a setembro para R$ 1.423 em outubro. Para ele, pessoas podem estar aproveitando a valorização do dólar para enviar dinheiro ou já preparam a volta.


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