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Brasileiros que vivem nos EUA têm dificuldades de adaptação
MATHEUS PICHONELLI
RENATA BAPTISTA
DA AGENCIA FOLHA
Brasileiros que foram para os
Estados Unidos em busca do
chamado "sonho americano"
relatam dificuldades em se
adaptar à nova realidade no
epicentro da crise financeira
internacional. Falta de emprego e de perspectivas têm levado
a mudanças de hábitos no país
ou "forçado" a volta ao Brasil.
Após um ano e seis meses, o
paulista Bruno Cesar Pedro, 25,
está de malas prontas. Ele trabalhava para uma padaria em
Boston e não pensava em voltar
tão cedo. Mudou os planos após
o fechamento da empresa, que
demitiu todos os funcionários.
"A gente vê muita gente perdendo as casas, lojas gigantes
fechando. Eu trabalhava com
entregas, tinha salário e ganhava gorjeta, e isso caiu", afirma.
Juliana Nunes, 26, que voltou ao Brasil neste mês, conta
que a ocupação no hotel onde
era trainee em Palm Spring
(Califórnia) durante a semana
chegava a apenas 10% em setembro -a expectativa era que
fosse de 50%. "Minha chefe dizia: "O que está acontecendo?"
Ganhávamos por dia e o serviço
de quatro passou a ser feito só
por um. Tinha dia que eu chegava às 7h e já saía às 7h20."
Os que optaram por ficar estão se adaptando a mudanças.
Há 11 anos em Utah, a manauara Silvana Hoggan, 39, era
diretora de uma grande empresa do ramo farmacêutico e, demitida, tem prestado consultorias, vendido peças de artesanato pela internet e até cachorro-quente em bufê. Com marido e filha americanos, ela não
pensa, porém, em voltar. "Todos estão esperançosos após a
eleição de [Barack] Obama."
Gerente de construtora de
Massachusetts, o rondoniense
Miguel Gonçalves, 43, diz que a
empresa, com a crise imobiliária, cortou 13 de 16 funcionários e que 40% dos projetos foram cancelados.
Segundo a gerente do programa de estágios e trabalho no exterior da CI (Central de Intercâmbio) no Brasil, Gisele Mainardi, desde o meio de ano empresas americanas vêm diminuindo ofertas de trabalho.
O estudante de biologia Guilherme Lima, 23, de Brasília,
manteve o roteiro, mas quase
desistiu após a empresa que o
havia contratado cancelar a
proposta. Ele conseguiu vaga
por três meses num supermercado de Maryland e vai arriscar.
"É provável que eu seja colocado para fora após um mês."
Em Governador Valadares
(MG), o fluxo dos que voltam
cresceu. Segundo a Associação
dos Parentes e Amigos dos
Emigrantes, há 40 mil valadarenses nos EUA.
O vice-presidente da associação, Raimundo Santana, diz
que o irmão que mora lá fazia
parte de um grupo de 20 amigos brasileiros e que mais da
metade voltou. "As empresas
não estão cortando a gordura,
mas a carne." Santos disse que é
difícil quantificar quantos voltam, pois muitos são ilegais.
Silas Costa Jr., da Cooperativa de Poupança e Crédito do
Vale do Rio Doce, diz que o valor médio das remessas saltaram de R$ 908 de janeiro a setembro para R$ 1.423 em outubro. Para ele, pessoas podem
estar aproveitando a valorização do dólar para enviar dinheiro ou já preparam a volta.
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