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Governo "segura" definição
sobre zoneamento da cana
Lula vai a conferência, em SP, sem formalizar regras
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais de um ano depois de assumir compromissos de que a
produção de biocombustíveis
no país não avançaria sobre a
Amazônia nem tomaria áreas
de cultivos de alimentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegará à Conferência Internacional sobre Biocombustíveis sem formalizar as regras
do zoneamento da cana-de-açúcar.
Convocada pelo próprio Lula, a conferência ocorrerá na
próxima semana, em São Paulo. Às vésperas da reunião, porém, Lula optou por adiar o
anúncio das regras negociadas
exaustivamente no governo.
"O presidente avaliou que
não seria o momento adequado", afirmou o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura).
A expectativa agora, diz ele, é
anunciar o zoneamento ainda
antes de o ano terminar.
Na semana passada, em reunião com seis ministros, Lula
descartou o uso de uma medida
provisória para proibir a expansão da cana-de-açúcar na
Amazônia, no Pantanal e em
seu entorno -áreas que somam 4,6 milhões de quilômetros quadrados-, assim como
inibir a competição com o cultivo de alimentos, com medidas
que vão além do estímulo, via
crédito, para que a cana avance
sobre pastos degradados.
Discurso
Enquanto essas regras não
forem formalizadas, seguem no
discurso os compromissos de
Lula de que a expansão da cana
para a produção de álcool combustível se daria longe da floresta e não reduziria a produção de alimentos.
Segundo a Folha apurou, o
presidente considerou bastante restritivas as regras levadas a
ele pelos ministros, a ponto de
exigirem novas rodadas de negociações políticas.
Há pressões, por exemplo,
para liberar a área da bacia do
Alto Paraguai, no entorno do
Pantanal, região que já tem instaladas quatro usinas de produção de álcool.
A exclusão no entorno do
Pantanal da lista de áreas propícias à expansão da cana foi
um dos pontos mais polêmicos
da negociação interna no governo. Por ora, prevaleceu a
posição do ministro do Meio
Ambiente, Carlos Minc, amparada numa antiga resolução do
Conama (Conselho Nacional
do Meio Ambiente).
Desde 1985, uma resolução
do Conama proíbe a instalação
de novas usinas na região. Mas
há pedidos de licenciamento
tramitando nos órgãos ambientais de Mato Grosso e de
Mato Grosso do Sul. O governador Blairo Maggi (MT) se
empenha pessoalmente em liberar a área.
Amazônia
No bioma amazônico, que
Lula insiste não ser propício ao
cultivo da cana, documento da
Embrapa (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária)
apontou o crescimento do cultivo nos Estados do Acre, de
Roraima e do Pará.
Segundo projeção da empresa, vinculada ao Ministério da
Agricultura, o município acreano de Capixaba deveria, até
2012, multiplicar por dez a área
plantada.
A Folha contou oito usinas
funcionando e mais uma em
implantação na área onde a expansão da cana está para ser
proibida. No bioma amazônico,
no Pantanal e na bacia do Alto
Paraguai, a proposta dos ministros é impedir a instalação de
novos empreendimentos.
O objetivo do governo no zoneamento é orientar a expansão do cultivo de cana para
áreas de pasto já degradado.
O governo trabalha com estimativas segundo as quais as
plantações de cana deverão
crescer cerca de 7 milhões de
hectares na próxima década.
Isso corresponde a pouco mais
do que a soma dos territórios
dos Estados de Sergipe e do Espírito Santo.
Segundo o Ministério da
Agricultura, a safra de 2007/8
deverá alcançar 27 bilhões de
litros de álcool. A cana-de-açúcar responde por 16% da matriz energética do país. O consumo do álcool combustível supera o da gasolina.
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