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ANÁLISE
Crise emergente à vista
DO "FINANCIAL TIMES"
Os investidores estão
sempre se deixando atrair
pelos títulos de dívida de mercados emergentes, como alcoólatras
por um frigobar. Com freqüência,
uma moratória ou insolvência
causa ressaca que afeta toda a categoria de ativos. Mas os rendimentos são atraentes demais para que os investidores possam ignorá-los por muito tempo.
Cinco anos atrás, depois da moratória da dívida russa, o ágio do
índice de títulos de mercados
emergentes do JP Morgan com relação aos bônus do Tesouro norte-americano chegava a 16%.
Caiu agora a menos de 4%.
Com os juros de curto prazo
norte-americanos fixados em 1%
e os rendimentos dos bônus do
Tesouro dos Estados Unidos registrando seus mais baixos níveis
em 25 anos, em 2003, os investidores se viram forçados a redescobrir seu apetite pelo risco.
Nova bolha?
O declínio no ágio pago pelos títulos de mercados emergentes espelha a corrida do ano passado
em direção aos papéis corporativos de alto rendimento e ações do
setor de tecnologia.
Trata-se de uma nova bolha?
Nas duas últimas ocasiões em que
os títulos dos países emergentes
caíram tanto logo surgiram crises. A baixa de 1993 precedeu a
desvalorização do peso mexicano,
e a de 1997/98 foi seguida pela crise da dívida asiática e pela moratória russa.
Será que desta vez as coisas serão diferentes?
Certamente houve melhora nas
finanças dos mercados emergentes pelo mundo.
De acordo com a corretora
Dresdner Kleinwort Wasserstein,
o índice ponderado de classificação dos títulos de dívida de países
emergentes subiu em um grau
desde 1997. Em si, isso justificaria
uma melhora de 0,5% nos ágios.
Os mercados de países emergentes tradicionalmente são beneficiados pelo crescimento econômico mundial.
Portanto, as previsões de crescimento para 2004, acentuadamente mais elevadas que as do
ano anterior, decerto ajudaram.
A alta nos preços das commodities, que continuam a ser parte
importante das exportações de
muitas nações emergentes, é parte da mesma tendência.
Mas o problema para os mercados emergentes é nem tanto o que
acontece quando muito dinheiro
entra -um valor recorde de US$
87 bilhões em títulos de mercados
emergentes foram colocados no
mercado em 2002, de acordo com
dados da Thomson Financial-,
mas sim a situação criada quando o capital deseja partir.
Tempo
No momento, isso não parece
ser problema. As taxas de juros
dos países desenvolvidos estão
baixas e as moedas estão subindo,
o que encoraja o crescimento de
carteiras de investimento.
No passado, as crises foram precipitadas por uma combinação
de taxas de câmbio fixas e alto nível de dívida em moeda estrangeira.
Mas, dessa vez, menos países
têm âncoras cambiais explícitas, e
alguns têm a maior parte de sua
dívida denominada em moeda
nacional.
Mesmo assim, alguns sinais
preocupantes são claros.
O entusiasmo por papéis dos
mercados emergentes é generalizado e inclui até perspectivas dúbias como Colômbia e Venezuela,
que passam por situações de instabilidade clara. Isso sugere que o
ímpeto, e não o cálculo frio, vem
conduzindo os mercados.
Na Ásia, a dívida subiu muito
em proporção com o Produto Interno Bruto (PIB), com os governos arcando com o ônus de consertar a crise das empresas no final dos anos 90.
Se o crescimento econômico
mundial continuar forte neste
ano, e o Federal Reserve (Fed, o
banco central dos Estados Unidos) mantiver os juros baixos,
provavelmente será possível evitar calamidades em 2004.
Mas a questão, agora, não é se
uma nova crise ocorrerá, mas,
sim, quando.
Tradução de Paulo Migliacci
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