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Flutuação tem riscos
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
A experiência de flutuação do dólar foi razoavelmente bem-sucedida ontem, mas uma série de riscos coloca em dúvida a possibilidade de permanência
desse regime.
Como principal vantagem
imediata, a livre flutuação
estabiliza as reservas em
dólar do Banco Central.
Os países que adotam o
câmbio flutuante também
se livram da desconfiança
quanto a suas moedas, mas
isso tudo não sai de graça,
ainda mais em economias
mais frágeis.
É impossível prever que
patamar as cotações do dólar podem atingir. Podem
oscilar como as Bolsas: uma
notícia ruim e há uma alta
de 10%; uma notícia boa e o
real volta a se valorizar.
Isso significa imprevisibilidade e um grande problema para exportadores, importadores, bancos, empresas e pessoas que tenham
compromissos e façam negócios em dólar.
Quanto mais o dólar sobe,
maior o perigo de inflação.
Os bens importados encarecem, entre eles petróleo e
máquinas industriais.
Sem a âncora cambial para segurar os preços, os recursos à disposição do governo são a política fiscal e a
política de juros. Volta-se,
portanto, aos mesmos problemas de sempre: a necessidade de reduzir o déficit
público e as restrições para
a queda dos juros.
Cotações mais altas do
dólar também significam
dificuldades para pessoas e
empresas endividadas em
moeda estrangeira.
Alternativas
Fora o câmbio flutuante,
há dois outros modelos básicos de regime cambial: o
fixo, usado, por exemplo,
na Argentina, e o câmbio
administrado, empregado
até anteontem no Brasil.
Esses regimes cambiais
são combinados a graus variados de liberdade para
transações em moeda estrangeira -do câmbio centralizado, em que o Banco
Central assume todas ou
quase todas as operações,
ao câmbio livre.
Pelo câmbio fixo, a cotação do dólar -ou outra
moeda forte de referência- não se altera. É eficiente em termos de controle da inflação, mas obriga a
um ajuste duro e politicamente difícil da economia.
Para manter o câmbio fixo, por exemplo, o governo
argentino só mantém em
circulação um volume de
pesos igual ao volume de
dólares. Quando o capital
estrangeiro deixa o país, como em 95, é preciso ajustar
as contas públicas e promover recessão.
Como o nome indica, o
câmbio administrado pressupõe a atuação regular do
BC para a definição da taxa.
Normalmente, a intervenção do BC segue uma regra,
como as bandas cambiais.
A vantagem é que o governo pode manipular o câmbio combinando objetivos
como o controle da inflação
e o equilíbrio das contas externas. A desvantagem é a
moeda nacional ficar sob
desconfiança sempre que o
mercado suspeita que os
objetivos do governo não
poderão ser cumpridos.
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