São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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Flutuação tem riscos

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

A experiência de flutuação do dólar foi razoavelmente bem-sucedida ontem, mas uma série de riscos coloca em dúvida a possibilidade de permanência desse regime.
Como principal vantagem imediata, a livre flutuação estabiliza as reservas em dólar do Banco Central.
Os países que adotam o câmbio flutuante também se livram da desconfiança quanto a suas moedas, mas isso tudo não sai de graça, ainda mais em economias mais frágeis.
É impossível prever que patamar as cotações do dólar podem atingir. Podem oscilar como as Bolsas: uma notícia ruim e há uma alta de 10%; uma notícia boa e o real volta a se valorizar.
Isso significa imprevisibilidade e um grande problema para exportadores, importadores, bancos, empresas e pessoas que tenham compromissos e façam negócios em dólar.
Quanto mais o dólar sobe, maior o perigo de inflação. Os bens importados encarecem, entre eles petróleo e máquinas industriais.
Sem a âncora cambial para segurar os preços, os recursos à disposição do governo são a política fiscal e a política de juros. Volta-se, portanto, aos mesmos problemas de sempre: a necessidade de reduzir o déficit público e as restrições para a queda dos juros.
Cotações mais altas do dólar também significam dificuldades para pessoas e empresas endividadas em moeda estrangeira.

Alternativas
Fora o câmbio flutuante, há dois outros modelos básicos de regime cambial: o fixo, usado, por exemplo, na Argentina, e o câmbio administrado, empregado até anteontem no Brasil.
Esses regimes cambiais são combinados a graus variados de liberdade para transações em moeda estrangeira -do câmbio centralizado, em que o Banco Central assume todas ou quase todas as operações, ao câmbio livre.
Pelo câmbio fixo, a cotação do dólar -ou outra moeda forte de referência- não se altera. É eficiente em termos de controle da inflação, mas obriga a um ajuste duro e politicamente difícil da economia.
Para manter o câmbio fixo, por exemplo, o governo argentino só mantém em circulação um volume de pesos igual ao volume de dólares. Quando o capital estrangeiro deixa o país, como em 95, é preciso ajustar as contas públicas e promover recessão.
Como o nome indica, o câmbio administrado pressupõe a atuação regular do BC para a definição da taxa. Normalmente, a intervenção do BC segue uma regra, como as bandas cambiais.
A vantagem é que o governo pode manipular o câmbio combinando objetivos como o controle da inflação e o equilíbrio das contas externas. A desvantagem é a moeda nacional ficar sob desconfiança sempre que o mercado suspeita que os objetivos do governo não poderão ser cumpridos.



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