São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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NO EXTERIOR
Em férias na Europa, ex-presidente do BNDES se reúne com investidores e recebe apoio a mudanças cambiais
Resende explica crise a francês

MARIANA SGARIONI
de Paris

O ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) André Lara Resende foi convocado pelo governo para explicar aos investidores e aos formadores de opinião da França as mudanças no regime cambial e a desvalorização do real.
Lara Resende almoçou com empresários, representantes do governo e da imprensa na residência do embaixador do Brasil em Paris, Marcos de Azambuja. Ele está passando férias na França e recebeu um telefonema do ministro da Fazenda, Pedro Malan, pedindo que aproveitasse a estada para tranquilizar o mercado francês.
A reunião de ontem, que, segundo Lara Resende, teve um caráter informal, marcou a primeira vez que o governo brasileiro se pronuncia diretamente à comunidade internacional sobre a crise financeira dos últimos dias. Segundo ele, a reação dos investidores foi de compreensão e de solidariedade.
Depois da reunião de ontem, Philippe Remond, diretor da Coface -que garante créditos de exportação na França- disse à Folha que ele e os analistas econômicos da empresa concordam com a decisão de desvalorizar o real.
"Achamos que o melhor é desvalorizar a moeda para que as medidas orçamentárias sejam votadas. Só assim o mercado vai voltar a acreditar no Brasil", disse. Ele ressaltou que o mais importante no momento é que o programa orçamentário seja colocado em vigor o mais rápido possível.
De acordo com Lara Resende, a principal preocupação dos investidores foi o andamento das questões fiscais no Congresso Nacional. "Para eles, é difícil entender as atribuições do Poder Legislativo brasileiro, tratado de forma inexistente pela comunidade internacional", disse ele, que caiu em novembro por envolvimento no escândalo dos grampos telefônicos.
Ressaltando que seu papel na reunião foi apenas o de informar melhor o processo de mudança na economia brasileira, Lara Resende defendeu a adoção do regime de flutuação de câmbio, afirmando que o impacto deve ser favorável nos déficits em conta corrente e na balança comercial.
O regime de flutuação do câmbio poderia causar uma forte desvalorização do real, já que nesse sistema a cotação do dólar não tem limites. Para Lara Resende, os próximos dias serão de grande volatilidade da moeda, mas que deve-se levar em conta a forte alta que as principais Bolsas tiveram ontem.
"O Brasil ainda tem reservas consideráveis. Em vez de perder as reservas, optou-se pela flutuação, que teve uma reação muito positiva. O governo tenta fazer uma revisão para dar uma maior flexibilidade e aprimoramento ao regime cambial. Já faz dois anos que existe um discreto aprimoramento da política cambial do governo."
Sobre a revisão do acordo do governo brasileiro firmado no fim do ano passado com o FMI, que estabelece a liberação de um empréstimo ao país de US$ 41,5 bilhões, Lara Resende disse que a imprensa internacional erra ao falar em renegociação. "O que será feito é um recálculo de metas", explicou.



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