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NO EXTERIOR
Em férias na Europa, ex-presidente do BNDES se reúne
com investidores e recebe apoio a mudanças cambiais
Resende explica crise a francês
MARIANA SGARIONI
de Paris
O ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) André Lara
Resende foi convocado pelo governo para explicar aos investidores e
aos formadores de opinião da
França as mudanças no regime
cambial e a desvalorização do real.
Lara Resende almoçou com empresários, representantes do governo e da imprensa na residência
do embaixador do Brasil em Paris,
Marcos de Azambuja. Ele está passando férias na França e recebeu
um telefonema do ministro da Fazenda, Pedro Malan, pedindo que
aproveitasse a estada para tranquilizar o mercado francês.
A reunião de ontem, que, segundo Lara Resende, teve um caráter
informal, marcou a primeira vez
que o governo brasileiro se pronuncia diretamente à comunidade
internacional sobre a crise financeira dos últimos dias. Segundo
ele, a reação dos investidores foi de
compreensão e de solidariedade.
Depois da reunião de ontem,
Philippe Remond, diretor da Coface -que garante créditos de exportação na França- disse à Folha que ele e os analistas econômicos da empresa concordam com a
decisão de desvalorizar o real.
"Achamos que o melhor é desvalorizar a moeda para que as medidas orçamentárias sejam votadas.
Só assim o mercado vai voltar a
acreditar no Brasil", disse. Ele ressaltou que o mais importante no
momento é que o programa orçamentário seja colocado em vigor o
mais rápido possível.
De acordo com Lara Resende, a
principal preocupação dos investidores foi o andamento das questões fiscais no Congresso Nacional. "Para eles, é difícil entender as
atribuições do Poder Legislativo
brasileiro, tratado de forma inexistente pela comunidade internacional", disse ele, que caiu em novembro por envolvimento no escândalo dos grampos telefônicos.
Ressaltando que seu papel na
reunião foi apenas o de informar
melhor o processo de mudança na
economia brasileira, Lara Resende
defendeu a adoção do regime de
flutuação de câmbio, afirmando
que o impacto deve ser favorável
nos déficits em conta corrente e na
balança comercial.
O regime de flutuação do câmbio
poderia causar uma forte desvalorização do real, já que nesse sistema a cotação do dólar não tem limites. Para Lara Resende, os próximos dias serão de grande volatilidade da moeda, mas que deve-se
levar em conta a forte alta que as
principais Bolsas tiveram ontem.
"O Brasil ainda tem reservas
consideráveis. Em vez de perder as
reservas, optou-se pela flutuação,
que teve uma reação muito positiva. O governo tenta fazer uma revisão para dar uma maior flexibilidade e aprimoramento ao regime
cambial. Já faz dois anos que existe
um discreto aprimoramento da
política cambial do governo."
Sobre a revisão do acordo do governo brasileiro firmado no fim do
ano passado com o FMI, que estabelece a liberação de um empréstimo ao país de US$ 41,5 bilhões, Lara Resende disse que a imprensa
internacional erra ao falar em renegociação. "O que será feito é um
recálculo de metas", explicou.
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