São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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ANÁLISE INTERNACIONAL
Economista acha que medida contribui para reduzir juros e para a retomada do crescimento econômico
Sachs sugere flutuação permanente

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O economista norte-americano Jeffrey Sachs, diretor do Instituto para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard, sugere que o governo brasileiro mantenha indefinidamente o regime de livre flutuação ontem adotado, em vez de reintroduzir bandas cambiais.
Mantida a livre flutuação, acha Sachs, abre-se mais espaço para a redução dos juros e, por extensão, para a retomada da atividade econômica.
Sachs, que a revista "Time" chegou a definir como o "economista mais importante do mundo", festejou, como era previsível, a livre flutuação do real, medida que vinha defendendo faz tempo.
Agora, sugere, o governo brasileiro deveria estabelecer uma "forte e clara estratégia de promoção das exportações".
Ele acha que não é suficiente a natural competitividade que os produtos brasileiros passarão a ter, porque são necessários menos dólares para comprar a mesma quantidade de bens.
Com um programa de estímulo, diz Sachs, "uma porção de coisas que o Brasil produz para consumo interno pode perfeitamente competir internacionalmente".
Outra sugestão do economista de Harvard: que o governo brasileiro dispense os conselhos tanto do FMI (Fundo Monetário Internacional) como do governo norte-americano.
A opinião de Sachs se afina com a emitida por jornais internacionais. "É terrível, também, para a reputação do Fundo Monetário Internacional e do Departamento do Tesouro norte-americano", diz editorial do jornal britânico "Financial Times" sobre a crise brasileira.
Análise feita pelo jornal "The International Herald Tribune" dá conta de que "o movimento feito pelo Brasil (...) representou um grande golpe para a credibilidade das autoridades brasileiras assim como para os EUA, seus parceiros do G-7 e para o FMI".
Ácido e habitual crítico do FMI, Sachs repetiu ontem a avaliação de que o programa do FMI para o país estava "matando a sua economia".
O economista chega ao ponto de preferir que uma eventual reunião de autoridades brasileiras com banqueiros internacionais, para convencê-los a retomar as linhas de crédito para o Brasil, se realize no próprio país, e não em Washington ou Nova York, como é habitual.
A sugestão chegou tarde, no entanto, dado que o ministro Pedro Malan e o presidente do Banco Central, Francisco Lopes, já estavam com viagem marcada para os EUA, quando Sachs conversou por telefone com a Folha, ontem no fim da tarde.
Apesar da ressalva de que "a crise permanece muito, muito, grave", o economista de Harvard não esconde o otimismo com as perspectivas brasileiras como decorrência da livre flutuação.
Ele diz que, de modo algum, o governo brasileiro deve relaxar no esforço para o ajuste fiscal, mas acha que este se tornou mais fácil por duas razões: primeiro porque, aberto o espaço para a redução dos juros, cairá naturalmente o gasto do governo com eles. Segundo, com a esperada recuperação do nível de atividade econômica, o governo arrecadará mais.
Sachs descarta a hipótese de que a desvalorização traga de volta uma "inflação galopante". Espera apenas "um discreto avanço" dos preços, a menos, claro, que o governo "faça muitas tolices".



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