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ANÁLISE INTERNACIONAL
Economista acha que medida contribui para reduzir
juros e para a retomada do crescimento econômico
Sachs sugere flutuação permanente
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O economista norte-americano
Jeffrey Sachs, diretor do Instituto
para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard, sugere que o governo brasileiro mantenha indefinidamente o
regime de livre flutuação ontem
adotado, em vez de reintroduzir
bandas cambiais.
Mantida a livre flutuação, acha
Sachs, abre-se mais espaço para a
redução dos juros e, por extensão,
para a retomada da atividade econômica.
Sachs, que a revista "Time" chegou a definir como o "economista
mais importante do mundo", festejou, como era previsível, a livre
flutuação do real, medida que vinha defendendo faz tempo.
Agora, sugere, o governo brasileiro deveria estabelecer uma "forte e clara estratégia de promoção
das exportações".
Ele acha que não é suficiente a
natural competitividade que os
produtos brasileiros passarão a
ter, porque são necessários menos
dólares para comprar a mesma
quantidade de bens.
Com um programa de estímulo,
diz Sachs, "uma porção de coisas
que o Brasil produz para consumo
interno pode perfeitamente competir internacionalmente".
Outra sugestão do economista de
Harvard: que o governo brasileiro
dispense os conselhos tanto do
FMI (Fundo Monetário Internacional) como do governo norte-americano.
A opinião de Sachs se afina com a
emitida por jornais internacionais.
"É terrível, também, para a reputação do Fundo Monetário Internacional e do Departamento do Tesouro norte-americano", diz editorial do jornal britânico "Financial Times" sobre a crise brasileira.
Análise feita pelo jornal "The International Herald Tribune" dá
conta de que "o movimento feito
pelo Brasil (...) representou um
grande golpe para a credibilidade
das autoridades brasileiras assim
como para os EUA, seus parceiros
do G-7 e para o FMI".
Ácido e habitual crítico do FMI,
Sachs repetiu ontem a avaliação de
que o programa do FMI para o país
estava "matando a sua economia".
O economista chega ao ponto de
preferir que uma eventual reunião
de autoridades brasileiras com
banqueiros internacionais, para
convencê-los a retomar as linhas
de crédito para o Brasil, se realize
no próprio país, e não em Washington ou Nova York, como é habitual.
A sugestão chegou tarde, no entanto, dado que o ministro Pedro
Malan e o presidente do Banco
Central, Francisco Lopes, já estavam com viagem marcada para os
EUA, quando Sachs conversou por
telefone com a Folha, ontem no
fim da tarde.
Apesar da ressalva de que "a crise
permanece muito, muito, grave", o
economista de Harvard não esconde o otimismo com as perspectivas
brasileiras como decorrência da livre flutuação.
Ele diz que, de modo algum, o
governo brasileiro deve relaxar no
esforço para o ajuste fiscal, mas
acha que este se tornou mais fácil
por duas razões: primeiro porque,
aberto o espaço para a redução dos
juros, cairá naturalmente o gasto
do governo com eles. Segundo,
com a esperada recuperação do nível de atividade econômica, o governo arrecadará mais.
Sachs descarta a hipótese de que
a desvalorização traga de volta
uma "inflação galopante". Espera
apenas "um discreto avanço" dos
preços, a menos, claro, que o governo "faça muitas tolices".
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