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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Nova economia explica propensão a guerrear
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Há uma bioeconomia para
explicar a propensão humana a guerrear. Se comida e sexo já não são os principais fatores explicativos, agora são "ativos intangíveis" como prestígio,
domínio e respeito que determinam a belicosidade global.
O diagnóstico, que parece talhado para explicar a situação
atual no planeta e em boa medida a reação dos EUA aos ataques
terroristas, surgiu há mais de
cinco anos. Seu autor é o economista Jack Hirschleifer, da Universidade da Califórnia e com
passagens pela Rand Corporation e pela Universidade de Chicago. Seus trabalhos vão de estudos sobre o efeito das emoções
sobre as ameaças e promessas a
estratégias evolutivas que conduzem ao aumento da cooperação, passando pelo estudo econômico dos conflitos (trabalhos
disponíveis em
www.econ.ucla.edu/).
Em 1993, Hirschleifer fez um
pronunciamento na Associação
Internacional de Economistas
do Ocidente analisando "o lado
negro da força". Trata-se da força do mercado ou das relações
econômicas e contratuais consideradas normais. O "lado negro" é o conflito, que ele recupera no pensamento de economistas como Schumpeter e mesmo
Marx. O erro de Marx, afirma o
economista, é ter acreditado que
todos os conflitos se resumem à
guerra entre classes.
Essa visão leva o conservadorismo a um tal extremo que ela
se aproxima de filosofias radicais ou revolucionárias. Admite
uma realidade que o manual
convencional deixa de lado.
Ao falar do "lado escuro da
força" muito antes da atual onda
militarista e terrorista global,
Hirschleifer acertou, pois hoje
parece evidente que o "Islã" e o
"Ocidente capitalista", antes de
mais nada representações ideológicas, orientam importantes
líderes políticos a tomar decisões violentas que parecem análogas e mutuamente vantajosas.
A visão neoliberal mais bem
comportada admite apenas que
os mercados são uma forma de
organização em que os melhores resultados possíveis são produzidos pela busca de vantagens. A razão está no comércio,
na troca mutuamente vantajosa.
Mobilizando a teoria dos jogos
e clássicos da filosofia política,
Hirschleifer sugere que se retire
da exploração, do confisco e do
conflito o caráter excepcional
que os manuais de economia
eventualmente reconhecem.
Em resumo, afirma Hirschleifer, o "lado negro" não é uma
mera península, mas "todo um
continente intelectual no mapa
da atividade econômica".
Agora que muitos parecem
crer que a ação dos EUA contra
o Iraque é irracional, as idéias de
Hirschleifer paradoxalmente
trazem luz ao lado escuro da
economia política mundial.
Ele afirma que a cooperação,
com poucas exceções, ocorre
apenas à sombra do conflito. Só
o estudo de ameaças e conflitos
se pode entender e atuar em
contextos de troca pacífica mutuamente vantajosa. Vale para
marido e mulher, capital e trabalho, nação contra nação.
Em sua visão inspirada em
Clausewitz, Hirschleifer afirma
também que geralmente as pessoas só cooperam para conspirar e agredir terceiros.
Nos últimos anos, falou-se
muito da "nova economia" como fruto das tecnologias de informação e comunicação. Sua
principal característica foi associada ao conhecimento, à melhoria das organizações, ao
aprendizado ao longo de toda a
vida e à emergência de uma cultura global convergente.
Na visão realista de Hirschleifer, os "intangíveis" podem ser
muito menos edificantes. Cético
ou cínico, Hirschleifer apresenta
uma atualíssima análise da propensão a guerrear.
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