São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Maioria dos analistas prevê manutenção da Selic neste mês, mas há apostas até em alta da taxa

Inflação mais baixa não deve mudar juro

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

As apostas sobre o resultado da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que começa amanhã vão de manutenção à elevação de até meio ponto percentual dos juros básicos. Mas a grande maioria de economistas de bancos e corretoras afirma que os dados sobre a inflação ainda são insuficientes para que o Copom reduza a taxa Selic.
Embora economistas do setor financeiro já tivessem essa expectativa de manutenção dos juros em 16,5% desde a última reunião, em janeiro, os indicadores de inflação divulgados recentemente tornaram ainda mais difícil a decisão que o Copom tem de tomar na quarta-feira.
Na ata da última reunião, o Banco Central assustou o mercado ao demonstrar forte preocupação com a inflação. As parciais do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe e do IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), além do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), vieram, porém, abaixo das expectativas.
"Inflação melhor não quer dizer que esteja bom", afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
Para ele, a inflação veio abaixo das expectativas porque desde o final de janeiro predominaram projeções mais pessimistas para o IPCA. "No início de janeiro, a expectativa era de 0,5%. Depois foi evoluindo para 0,60%, 0,65%, até chegar a 0,75%."
O núcleo por exclusão (exclui alimentação, preços monitorados e administrados) veio de 0,64%, melhor que o esperado, 0,7%. Repetiu o resultado de dezembro passado.

Sem incoerência
Economistas afirmam que, se o Banco Central agiu com cautela em janeiro, não tem motivos para mudar já. Seria necessário o acompanhamento das próximas prévias de indicadores, até porque o aumento da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) ainda não entrou em todos os índices.
"Ainda não está claro o patamar da inflação para 2004, se é permanente ou temporário", diz Thomas Malaga, economista-chefe do Banco Itaú. "A inflação melhorou em São Paulo, mas veio mais alta em outras capitais."
Para Malaga, a melhora do núcleo por expurgo é "alentadora, mas é preciso que a inflação cheia fique baixa".
Ainda que o Banco Central tivesse reduzido a taxa básica de juros em janeiro, o recomendável para a próxima reunião seria a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, segundo Kawall, do Citibank.
Para muitos analistas do mercado, um mês é insuficiente para concluir que já é baixo o risco de a inflação se afastar da meta e cortar juros agora soaria incoerente. Além disso, o cenário já não é mais tão otimista.
"O risco-país subiu, houve mudança de perspectiva em relação aos juros do Fed [Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos], o que gera incerteza quanto à redução da liquidez mundial", afirma Kawall.
Por outro lado, a produção industrial, que decepcionou em dezembro pela terceira vez consecutiva, mostra-se acomodada em níveis bem baixos.
"Ninguém vai deixar de investir porque os juros estão meio ponto percentual mais altos ou mais baixos. Mas, por falta de regras claras em modelos regulatórios, sim", diz Malaga.

Março
Se os próximos índices de inflação apresentarem queda, analistas afirmam que a redução de juros interrompida em janeiro pode vir a ser retomada em março.
O mercado de juros futuros aposta que há 30% de chance de uma queda de 0,25 ponto percentual na Selic na próxima reunião e que no mês que vem o Copom opte por corte de meio ponto, segundo analistas.



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