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ENTREVISTA
Operadora terá pacotes para Parada Gay em SP, investirá em publicidade e manterá embarcação o ano todo no país
CVC cresce 20% e investe US$ 25 mi em navio
FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO
Um navio turístico em águas
brasileiras durante o ano todo é a
novidade que a CVC promete para os próximos dois anos.
A maior operadora de turismo
do país, com 60% do mercado, arrendou o Pacific da Pullmantur e,
com um investimento de US$ 25
milhões (R$ 64,6 milhões) até
2007, vai manter o navio no país o
ano todo, fazendo cruzeiros não
só pela costa como também pela
bacia amazônica e pela bacia do
rio da Prata. Será o único navio de
cruzeiro a ficar no país durante
todo o ano.
Essa é a novidade principal que
o presidente da companhia, Guilherme Paulus, deve anunciar hoje na abertura da 11ª edição do
Workshop CVC, evento em São
Paulo que revela a grandeza da
empresa, com 305 estandes, reunindo fornecedores, agentes e
embaixadores.
Em entrevista à Folha, Paulus
defende o "code-share" entre Varig e TAM e o pacote de ajuda do
governo à Varig.
Fala ainda dos planos para este
ano, quando a operadora pretende organizar pacotes para a Parada Gay de São Paulo, trazendo até
turistas estrangeiros, e do investimento em publicidade, que, só
em TV, deve alcançar R$ 10 milhões. E diz que a FG, companhia
aérea da operadora, deve começar
a voar neste ano.
Folha - Como foi
2004 para a CVC?
Guilherme Paulus - Tivemos um
grande crescimento, atingimos
1,2 milhão de passageiros, com 975
mil passageiros
transportados.
Um crescimento
superior a 20%.
Folha - Foi superior àquilo que vocês estimavam?
Paulus - Ah, sim.
A meta mais otimista era chegarmos a 1 milhão de passageiros. E
foi em pacotes nacionais, internacionais, cruzeiros...
Folha - E como tem sido esse crescimento da CVC? Algumas das
maiores operadoras do país quebraram, como Soletur, Stella Barros, Mundirama...
Paulus - Esses casos aconteceram por causa de foco, elas ficam
centradas no internacional, [que
depende do] dólar. A gente não
deixa o internacional ser mais de
30% de nossa carteira. Porque o
dólar está hoje a R$ 2,60, pode ser
que amanhã ele vá para R$ 3,20 e
aí? Como eu faço para embarcar o
passageiro que comprou a R$
2,60? Então o que a gente sempre
fez foi, a partir do momento em
que o cliente compra uma viagem
internacional, a gente já compra
os dólares, reserva e paga o hotel,
emite o bilhete aéreo.
Folha - E turismo de negócios?
Paulus - No ano passado houve
um crescimento grande por causa
da Unctad [congresso do braço da
ONU para comércio e desenvolvimento, realizado em São Paulo,
com organização da CVC]. Neste
ano, temos grandes eventos programados, um deles é a Parada Gay,
a expectativa é de
quase 2,5 milhões
de pessoas.
Folha - Vocês vão
trazer pessoas de
todo o Brasil?
Paulus - Do Brasil todo, da Argentina e dos Estados
Unidos.
Folha - E a companhia aérea? A licença já saiu...
Paulus - Acredito que até setembro, outubro, a FG
comece a operar.
Temos já praticamente acertado com a TAM, ela
vai nos arrendar quatro a seis
Fokker-100.
Folha - Não é um risco grande demais? Por que assumi-lo?
Paulus - Não sabemos se a TAM
vai poder colocar mais aviões a
nossa disposição no fretamento.
Com ela, nós garantimos o atendimento para nossos clientes e cobrimos até nosso próprio crescimento. Por exemplo, vou crescer
25% e a TAM me diz: "Não tenho
avião para isso". Então, se eu quero crescer 25%, tenho a FG, que
me permite pensar em crescer até
mais. Vamos com ela para o Nordeste e também Buenos Aires. A
temporada de Bariloche neste ano
está excepcional, com esse dólar,
vamos escrever "Brasiloche". Vai
ser o grande ano para Bariloche.
Já temos acertados dez aviões em
junho/julho.
Folha - E esse dólar baixo, ao favorecer o turismo para o exterior,
não prejudica o turismo interno?
Paulus - Não. Um país como o
nosso, se considerar uma camada
de 120 milhões de pessoas, tirando crianças e pessoas muito pobres, se 10% deles quiserem viajar,
já são 12 milhões de pessoas.
Folha - Se a temporada de verão
de 2004 foi a melhor da história da
CVC, que domina o mercado com os
60% que detém, como explicar a
quebradeira do setor aéreo?
Paulus - Isso é algo que elas trazem do passado e da má administração. A TAM também esteve em
dificuldade, agora teve lucro.
Folha - Mas o "code-share" ajudou bastante a TAM, não?
Paulus - Ajudou, o "code-share"
é uma coisa inteligente, pena que
o Cade [Conselho
Administrativo de
Defesa Econômica] esteja cortando. Claro, a Gol se
sentia prejudicada... Devia haver
um "code-share"
entre todas as
companhias, facilitaria para todos.
Folha - Mas o consumidor não perde
na questão preço?
A Gol ainda é mais
barata que TAM e
Varig...
Paulus - Sim,
mas, à medida que
ela cresce e recebe
mais aviões, o custo dela sobe,
mais funcionários, mais manutenção. Na hora em que ela ficar
do tamanho de uma TAM, uma
Varig, o preço vai ficar semelhante. E caberia ao governo fiscalizar
os preços.
Folha - O sr. é favorável a esse pacote de ajuda à Varig?
Paulus - Claro, a Varig jamais
pode parar. É uma companhia internacional, dificilmente as companhias teriam condições de cobrir, a TAM mesmo sabe disso.
Folha - E para 2005, quais são as
perspectivas?
Paulus - A CVC vai manter um
navio aqui no Brasil o ano todo.
Fechamos com a Pullmann Cruises o arrendamento do Pacific até
o final da temporada de 2007. É
claro que depois a gente vai fazer
uma nova avaliação da continuidade desse navio.
Folha - Quais são os investimentos para mantê-lo aqui?
Paulus - O contrato foi fechado
em US$ 15,5 milhões [R$ 40 milhões]. Com mais outros investimentos necessários, deve dar US$
25 milhões [R$ 64,6 milhões] ao
longo de dois anos.
Folha - É um navio top de linha?
Paulus -É um navio três estrelas,
mas muito confortável, recebeu
nota nove dos passageiros, numa
escala de zero a dez. E isso o torna
mais acessível. Além disso, como
não é um transatlântico, pode viajar pelos rios da Prata e da bacia
amazônica, que é o que deve
acontecer fora da alta temporada.
Folha - E quando deve mudar o
roteiro? Porque agora o Pacific está
fazendo a costa do Nordeste.
Paulus - Ele vai fazer a linha para
o Nordeste até o final de abril. Em
junho, deve fazer Nordeste e Norte, indo para Parintins, Festa do
Boi. E, em agosto e setembro, a
bacia do Prata.
Folha - Qual a previsão da CVC para passageiros para 2005?
Paulus - Bom, temos uma meta
de atender a 1,5 milhão de passageiros. Uma meta menos otimista
é atender a 1,3 milhão.
Folha - Há planos de abrir escritórios em outras cidades do exterior?
Paulus - Sim, temos o projeto
para Santiago e Espanha, mas ainda é só projeto.
Folha - E esses escritórios do exterior são sempre para trazer turistas
de fora para o Brasil?
Paulus - Sempre,
são escritórios de
captação de turistas, não de receptivo. Há ainda os
roteiros combinando aéreo, rodoviário e marítimo na Europa,
com cruzeiros pelo Mediterrâneo,
pelo [mar] Báltico
e pelas ilhas gregas. Teremos um
site melhorado,
vamos renovar
parcerias e ampliá-las com outros
provedores, será um grande portal de turismo.
Folha - E há mais planos?
Paulus -Vamos fazer um grande
investimento publicitário em todas as mídias. Só em TV são R$ 10
milhões, o maior investimento
que já fizemos e talvez que uma
operadora de turismo já tenha feito. Vamos focar na viagem por
menos de R$ 1.000. Um dos filmes
é uma mágica que vai tirando da
cartola os pacotes e, ao final, vendo que conseguiu tirar um pacote
de menos de R$ 1.000, nem ela
acredita. Creio que será um ano
bom para o país, com estabilidade, o que é bom para todos os negócios, principalmente para o turismo, que exige planejamento.
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