São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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ENTREVISTA

Operadora terá pacotes para Parada Gay em SP, investirá em publicidade e manterá embarcação o ano todo no país

CVC cresce 20% e investe US$ 25 mi em navio

FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO

Um navio turístico em águas brasileiras durante o ano todo é a novidade que a CVC promete para os próximos dois anos.
A maior operadora de turismo do país, com 60% do mercado, arrendou o Pacific da Pullmantur e, com um investimento de US$ 25 milhões (R$ 64,6 milhões) até 2007, vai manter o navio no país o ano todo, fazendo cruzeiros não só pela costa como também pela bacia amazônica e pela bacia do rio da Prata. Será o único navio de cruzeiro a ficar no país durante todo o ano.
Essa é a novidade principal que o presidente da companhia, Guilherme Paulus, deve anunciar hoje na abertura da 11ª edição do Workshop CVC, evento em São Paulo que revela a grandeza da empresa, com 305 estandes, reunindo fornecedores, agentes e embaixadores.
Em entrevista à Folha, Paulus defende o "code-share" entre Varig e TAM e o pacote de ajuda do governo à Varig.
Fala ainda dos planos para este ano, quando a operadora pretende organizar pacotes para a Parada Gay de São Paulo, trazendo até turistas estrangeiros, e do investimento em publicidade, que, só em TV, deve alcançar R$ 10 milhões. E diz que a FG, companhia aérea da operadora, deve começar a voar neste ano.
 

Folha - Como foi 2004 para a CVC?
Guilherme Paulus -
Tivemos um grande crescimento, atingimos 1,2 milhão de passageiros, com 975 mil passageiros transportados. Um crescimento superior a 20%.

Folha - Foi superior àquilo que vocês estimavam?
Paulus -
Ah, sim. A meta mais otimista era chegarmos a 1 milhão de passageiros. E foi em pacotes nacionais, internacionais, cruzeiros...

Folha - E como tem sido esse crescimento da CVC? Algumas das maiores operadoras do país quebraram, como Soletur, Stella Barros, Mundirama...
Paulus -
Esses casos aconteceram por causa de foco, elas ficam centradas no internacional, [que depende do] dólar. A gente não deixa o internacional ser mais de 30% de nossa carteira. Porque o dólar está hoje a R$ 2,60, pode ser que amanhã ele vá para R$ 3,20 e aí? Como eu faço para embarcar o passageiro que comprou a R$ 2,60? Então o que a gente sempre fez foi, a partir do momento em que o cliente compra uma viagem internacional, a gente já compra os dólares, reserva e paga o hotel, emite o bilhete aéreo.

Folha - E turismo de negócios?
Paulus -
No ano passado houve um crescimento grande por causa da Unctad [congresso do braço da ONU para comércio e desenvolvimento, realizado em São Paulo, com organização da CVC]. Neste ano, temos grandes eventos programados, um deles é a Parada Gay, a expectativa é de quase 2,5 milhões de pessoas.

Folha - Vocês vão trazer pessoas de todo o Brasil?
Paulus -
Do Brasil todo, da Argentina e dos Estados Unidos.

Folha - E a companhia aérea? A licença já saiu...
Paulus -
Acredito que até setembro, outubro, a FG comece a operar. Temos já praticamente acertado com a TAM, ela vai nos arrendar quatro a seis Fokker-100.

Folha - Não é um risco grande demais? Por que assumi-lo?
Paulus -
Não sabemos se a TAM vai poder colocar mais aviões a nossa disposição no fretamento. Com ela, nós garantimos o atendimento para nossos clientes e cobrimos até nosso próprio crescimento. Por exemplo, vou crescer 25% e a TAM me diz: "Não tenho avião para isso". Então, se eu quero crescer 25%, tenho a FG, que me permite pensar em crescer até mais. Vamos com ela para o Nordeste e também Buenos Aires. A temporada de Bariloche neste ano está excepcional, com esse dólar, vamos escrever "Brasiloche". Vai ser o grande ano para Bariloche. Já temos acertados dez aviões em junho/julho.

Folha - E esse dólar baixo, ao favorecer o turismo para o exterior, não prejudica o turismo interno?
Paulus -
Não. Um país como o nosso, se considerar uma camada de 120 milhões de pessoas, tirando crianças e pessoas muito pobres, se 10% deles quiserem viajar, já são 12 milhões de pessoas.

Folha - Se a temporada de verão de 2004 foi a melhor da história da CVC, que domina o mercado com os 60% que detém, como explicar a quebradeira do setor aéreo?
Paulus -
Isso é algo que elas trazem do passado e da má administração. A TAM também esteve em dificuldade, agora teve lucro.

Folha - Mas o "code-share" ajudou bastante a TAM, não?
Paulus -
Ajudou, o "code-share" é uma coisa inteligente, pena que o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] esteja cortando. Claro, a Gol se sentia prejudicada... Devia haver um "code-share" entre todas as companhias, facilitaria para todos.

Folha - Mas o consumidor não perde na questão preço? A Gol ainda é mais barata que TAM e Varig...
Paulus -
Sim, mas, à medida que ela cresce e recebe mais aviões, o custo dela sobe, mais funcionários, mais manutenção. Na hora em que ela ficar do tamanho de uma TAM, uma Varig, o preço vai ficar semelhante. E caberia ao governo fiscalizar os preços.

Folha - O sr. é favorável a esse pacote de ajuda à Varig?
Paulus -
Claro, a Varig jamais pode parar. É uma companhia internacional, dificilmente as companhias teriam condições de cobrir, a TAM mesmo sabe disso.

Folha - E para 2005, quais são as perspectivas?
Paulus -
A CVC vai manter um navio aqui no Brasil o ano todo. Fechamos com a Pullmann Cruises o arrendamento do Pacific até o final da temporada de 2007. É claro que depois a gente vai fazer uma nova avaliação da continuidade desse navio.

Folha - Quais são os investimentos para mantê-lo aqui?
Paulus -
O contrato foi fechado em US$ 15,5 milhões [R$ 40 milhões]. Com mais outros investimentos necessários, deve dar US$ 25 milhões [R$ 64,6 milhões] ao longo de dois anos.

Folha - É um navio top de linha?
Paulus -
É um navio três estrelas, mas muito confortável, recebeu nota nove dos passageiros, numa escala de zero a dez. E isso o torna mais acessível. Além disso, como não é um transatlântico, pode viajar pelos rios da Prata e da bacia amazônica, que é o que deve acontecer fora da alta temporada.

Folha - E quando deve mudar o roteiro? Porque agora o Pacific está fazendo a costa do Nordeste.
Paulus -
Ele vai fazer a linha para o Nordeste até o final de abril. Em junho, deve fazer Nordeste e Norte, indo para Parintins, Festa do Boi. E, em agosto e setembro, a bacia do Prata.

Folha - Qual a previsão da CVC para passageiros para 2005?
Paulus -
Bom, temos uma meta de atender a 1,5 milhão de passageiros. Uma meta menos otimista é atender a 1,3 milhão.

Folha - Há planos de abrir escritórios em outras cidades do exterior?
Paulus -
Sim, temos o projeto para Santiago e Espanha, mas ainda é só projeto.

Folha - E esses escritórios do exterior são sempre para trazer turistas de fora para o Brasil?
Paulus -
Sempre, são escritórios de captação de turistas, não de receptivo. Há ainda os roteiros combinando aéreo, rodoviário e marítimo na Europa, com cruzeiros pelo Mediterrâneo, pelo [mar] Báltico e pelas ilhas gregas. Teremos um site melhorado, vamos renovar parcerias e ampliá-las com outros provedores, será um grande portal de turismo.

Folha - E há mais planos?
Paulus -
Vamos fazer um grande investimento publicitário em todas as mídias. Só em TV são R$ 10 milhões, o maior investimento que já fizemos e talvez que uma operadora de turismo já tenha feito. Vamos focar na viagem por menos de R$ 1.000. Um dos filmes é uma mágica que vai tirando da cartola os pacotes e, ao final, vendo que conseguiu tirar um pacote de menos de R$ 1.000, nem ela acredita. Creio que será um ano bom para o país, com estabilidade, o que é bom para todos os negócios, principalmente para o turismo, que exige planejamento.


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