São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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OPINIÃO ECONÔMICA

TV digital, sem ofensas e paixões

PAULO SAAB

A escolha de um padrão tecnológico para a implantação da TV digital em nosso país ganhou contornos mais acirrados na medida em que se aproxima a decisão sobre qual sistema será escolhido. Existem três padrões, chamados de "europeu" (DVB), "americano" (ATSC) e "japonês" (ISDB), diretamente envolvidos na disputa.
A decisão, que será tomada após estudos que se arrastam há uma década e que envolveram diferentes visões dentro do próprio governo, está cercada de fortes interesses, não só pela grandeza do mercado brasileiro e pela possibilidade de ampliar nossas exportações, mas também pela mudança de padrões de comportamento e consumo que a TV digital vai representar.
No aspecto do negócio em si, o acirramento se ampliou na medida em que, além da escolha do padrão técnico propriamente dito, entraram em cena interesses de empresas de telecomunicações, visando ganhar espaço num mercado até aqui dominado pelos radiodifusores.
Nesse cenário, a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) chamou a si -como é inerente a um setor que visa atender o comprador final- a tarefa de representar e de avaliar o processo em nome daquele que é a razão de ser desse setor: o consumidor. Some-se a isso o fato de existir, dentro da entidade, empresas ligadas aos três padrões em avaliação.
Dessa forma, acima da escolha de um padrão, a Eletros voltou-se para defender a definição de um modelo de negócios que dê ao consumidor brasileiro, independentemente do sistema técnico adotado, a possibilidade de acesso à nova tecnologia dentro do menor prazo de tempo e nas melhores condições possíveis, de forma aberta, como é hoje a TV analógica, e sem maiores investimentos além da escolha do aparelho e da marca de seu receptor -também da forma como ocorre hoje na TV analógica.
Cabe destacar, nessa discussão acirrada, que os números e projeções até agora apresentados são, em sua maioria, dissociados da realidade e significam ensaios feitos sobre perspectivas ou possibilidades -e não sobre a realidade do mercado nacional.
Dentro dessa condição -de estar atenta ao mercado e, certamente, dentro da missão de defender a economia brasileira-, a Eletros tem se dedicado a oferecer sua contribuição e seu conhecimento, por meio da experiência dos fabricantes a ela associados, como subsídio à decisão final sobre o padrão e também como forma de estimular um modelo de negócio que viabilize a implantação dentro dos parâmetros da realidade do país, sem sonhos ou paixões -como às vezes ocorre com alguns agentes envolvidos na questão.
Essa oferta de conhecimento e experiência deve se dar em um ambiente de estudos e discussões sobre a TV digital, onde tudo seja absolutamente transparente e onde o consumidor possa ser esclarecido sobre o que é de fato a TV digital -o que até hoje não aconteceu, pois as sondagens de opinião mostram amplo desconhecimento sobre o que será a TV digital. A percepção do público, por enquanto, está associada apenas a um de seus benefícios: melhores imagem e som.
Ao insistir de público na transparência dos estudos, a Eletros deixa evidente sua intenção de colaborar no processo decisório. A contribuição do setor é no sentido de que o país adote um modelo de negócio e um padrão que permitam ao Brasil ter uma indústria produtora de receptores de sinais de TV que atenda aos interesses e às possibilidades de seus consumidores, que permita inserir o Brasil na competição pelo mercado mundial e gere, com isso, divisas e empregos no país -sem que fatores emocionais e políticos que envolvem decisões importantes prevaleçam sobre a racionalidade dos fatos.
Ao consumidor brasileiro cabe ainda esclarecer: TV analógica, como é hoje, e TV digital, como virá em breve (com melhor som, melhor imagem e muitas outras funções a serem mais bem esclarecidas), conviverão por pelo menos uma década e meia no mercado, sem prejuízo para o comprador de qualquer tipo de aparelho receptor de sinal de TV. À parte as discussões em andamento, tranqüilize-se, portanto, o consumidor. A indústria nacional precisa dele -e por ele seguirá lutando.


Paulo Saab é presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos).

Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Paulo Nogueira Batista Jr.


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