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OPINIÃO ECONÔMICA
TV digital, sem ofensas e paixões
PAULO SAAB
A escolha de um padrão
tecnológico para a implantação da TV digital em nosso país
ganhou contornos mais acirrados
na medida em que se aproxima a
decisão sobre qual sistema será
escolhido. Existem três padrões,
chamados de "europeu" (DVB),
"americano" (ATSC) e "japonês"
(ISDB), diretamente envolvidos
na disputa.
A decisão, que será tomada
após estudos que se arrastam há
uma década e que envolveram diferentes visões dentro do próprio
governo, está cercada de fortes interesses, não só pela grandeza do
mercado brasileiro e pela possibilidade de ampliar nossas exportações, mas também pela mudança
de padrões de comportamento e
consumo que a TV digital vai representar.
No aspecto do negócio em si, o
acirramento se ampliou na medida em que, além da escolha do padrão técnico propriamente dito,
entraram em cena interesses de
empresas de telecomunicações,
visando ganhar espaço num mercado até aqui dominado pelos radiodifusores.
Nesse cenário, a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de
Produtos Eletroeletrônicos) chamou a si -como é inerente a um
setor que visa atender o comprador final- a tarefa de representar
e de avaliar o processo em nome
daquele que é a razão de ser desse
setor: o consumidor. Some-se a
isso o fato de existir, dentro da entidade, empresas ligadas aos três
padrões em avaliação.
Dessa forma, acima da escolha
de um padrão, a Eletros voltou-se
para defender a definição de um
modelo de negócios que dê ao
consumidor brasileiro, independentemente do sistema técnico
adotado, a possibilidade de acesso à nova tecnologia dentro do
menor prazo de tempo e nas melhores condições possíveis, de
forma aberta, como é hoje a TV
analógica, e sem maiores investimentos além da escolha do aparelho e da marca de seu receptor
-também da forma como ocorre hoje na TV analógica.
Cabe destacar, nessa discussão
acirrada, que os números e projeções até agora apresentados são,
em sua maioria, dissociados da
realidade e significam ensaios feitos sobre perspectivas ou possibilidades -e não sobre a realidade
do mercado nacional.
Dentro dessa condição -de estar atenta ao mercado e, certamente, dentro da missão de defender a economia brasileira-, a
Eletros tem se dedicado a oferecer
sua contribuição e seu conhecimento, por meio da experiência
dos fabricantes a ela associados,
como subsídio à decisão final sobre o padrão e também como forma de estimular um modelo de
negócio que viabilize a implantação dentro dos parâmetros da
realidade do país, sem sonhos ou
paixões -como às vezes ocorre
com alguns agentes envolvidos na
questão.
Essa oferta de conhecimento e
experiência deve se dar em um
ambiente de estudos e discussões
sobre a TV digital, onde tudo seja
absolutamente transparente e onde o consumidor possa ser esclarecido sobre o que é de fato a TV
digital -o que até hoje não aconteceu, pois as sondagens de opinião mostram amplo desconhecimento sobre o que será a TV digital. A percepção do público, por
enquanto, está associada apenas a
um de seus benefícios: melhores
imagem e som.
Ao insistir de público na transparência dos estudos, a Eletros
deixa evidente sua intenção de
colaborar no processo decisório.
A contribuição do setor é no sentido de que o país adote um modelo de negócio e um padrão que
permitam ao Brasil ter uma indústria produtora de receptores
de sinais de TV que atenda aos interesses e às possibilidades de
seus consumidores, que permita
inserir o Brasil na competição pelo mercado mundial e gere, com
isso, divisas e empregos no país
-sem que fatores emocionais e
políticos que envolvem decisões
importantes prevaleçam sobre a
racionalidade dos fatos.
Ao consumidor brasileiro cabe
ainda esclarecer: TV analógica,
como é hoje, e TV digital, como
virá em breve (com melhor som,
melhor imagem e muitas outras
funções a serem mais bem esclarecidas), conviverão por pelo menos uma década e meia no mercado, sem prejuízo para o comprador de qualquer tipo de aparelho
receptor de sinal de TV. À parte as
discussões em andamento, tranqüilize-se, portanto, o consumidor. A indústria nacional precisa
dele -e por ele seguirá lutando.
Paulo Saab é presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes
de Produtos Eletroeletrônicos).
Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Paulo Nogueira Batista Jr.
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