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LUÍS NASSIF
Hélio Costa e a TV digital
Pelos prazos de desincompatibilização para as próximas eleições, provavelmente o
ministro das Comunicações,
Hélio Costa, não participará da
decisão final sobre o padrão da
TV digital brasileira. Não será
ruim para o país.
Em sua recente participação
no "Observatório da Imprensa"
-programa de televisão transmitido pela Rede Educativa-,
ele dividiu em dois os grupos de
discussão: os que têm visão técnica e isenta, e querem o melhor
para o Brasil (ele), e os críticos,
que servem aos interesses das
empresas de telefonia fixa. É
uma simplificação que não cola.
Primeiro, vamos demarcar
posições:
1) O ministro defende o interesse dos radiodifusores. É direito dele, mas não venha com a
história de que sua motivação é
técnica e isenta;
2) Embora insista em dizer
que "para o governo brasileiro"
o padrão japonês é o melhor, o
ministro definitivamente não
fala pelo governo brasileiro. No
seu nível têm os ministérios do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior e o da Ciência e Tecnologia e, acima deles,
a Casa Civil;
3) Quando sustenta que o sistema japonês é o melhor "hoje",
e diz que o americano atenderá
às especificações exigidas em julho, está admitindo cinco meses
de diferença no estágio tecnológico entre ambos. Esse prazo é
suficiente para jogar para segundo plano critérios de política
industrial, tecnológica, potencial exportador, modelo de negócio?;
4) O ministro não tem a menor idéia do que serão os modelos futuros de negócio dos diversos setores envolvidos no tema:
radiodifusores, telefonia fixa,
celular e produtores independentes. Virá uma nova lei em
breve, unificando a Lei Geral de
Telecomunicações e a Lei de Radiodifusão, definindo as regras
para a convergência digital e o
ministro patrocina um padrão
sem levar em conta o que será
esse futuro.
Posto isso, vamos às bandeiras
legítimas que, representando os
radiodifusores, o ministro defende. Primeiro, a proibição de
que as empresas de telefonia sejam produtoras de conteúdo. A
nova legislação tem que delimitar claramente o papel do operador de rede (o que distribui
conteúdo), o produtor de conteúdo e o distribuidor (o que
junta produtores em torno de
um modelo de vendas único). E
tem que preservar a produção
de conteúdo em mãos nacionais. Em qualquer outro ramo
de atividade, quem domina a
transmissão não pode deter o
monopólio dos serviços. Segundo, as TVs abertas têm o direito
de vender sua imagem pelos celulares sem passar pelo crivo das
operadoras.
O ministro tem razão quando
fala na desproporção de força
entre as empresas de telefonia
(grandes multinacionais) e as
emissoras brasileiras (de capital
nacional, com faturamento sensivelmente inferior). Mas não
aborda, em nenhum momento,
a concentração de poder na
área, nem anunciou medida alguma para impedir movimentos de associação que podem levar à monopolização do setor.
Um modelo civilizado de regulação tem que delimitar claramente a atividade de cada
agente, impedir a concentração
de poder, defender as emissoras
nacionais contra as teles multinacionais, mas defender o produtor nacional contra o poder
de oligopólio do atual modelo
de radiodifusão.
Email: Luisnassif@uol.com.br
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