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Brasil foi "generoso" no acordo, diz Lula
Após negociação tensa, ele fala em "solidariedade" e "compreensão" com as necessidades dos países menores da região
Morales promete que cumprirá os contratos e que nunca faltará gás ao Brasil e diz que acordo aprofundará democracia em seu país
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Diante do colega Evo Morales, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva fez ontem um discurso no qual buscou justificar
o aumento do preço de importação do gás natural boliviano
como um ato de "generosidade" do Brasil, e não como um
fruto da pressão da Bolívia.
A fala de Lula ocorreu após
uma longa e desgastante negociação entre brasileiros e bolivianos, no dia anterior. Ontem
pela manhã, ao lado de Morales
no Palácio do Planalto, Lula
apresentou sua justificativa pelo aditivo no acordo de fornecimento de gás ao Brasil.
"Temos, sim, que prestar solidariedade, estabelecer parceria e compreender que são os
países mais fortes economicamente [...] que têm que ter a generosidade de compreender
que os acordos bilaterais ou os
acordos do bloco do Mercosul
sempre têm que levar em conta
as necessidades das economias
menores", disse Lula.
O boliviano acompanhou sisudo a fala de Lula e viu algumas vezes o colega brasileiro se
referir a ele como "Evos".
O petista falou ora de improviso ora seguindo o texto preparado. Explorou a idéia de
obrigação brasileira de ceder ao
pleito boliviano. "Não somos os
imperialistas que alguns dizem
que somos, não somos hegemonistas como alguns querem que
sejamos, mas, sim, somos um
país que tem a compreensão de
que, pela sua dimensão geográfica, pela sua importância econômica, pelo seu desenvolvimento científico e tecnológico,
não tem que disputar espaço
com nenhum país irmão."
E prosseguiu: "Em um relacionamento tão intenso, nem
sempre nossos pontos de vista
coincidem e nem todas as prioridades e soluções são as mesmas. Mas essas diferenças são
pequenas se compararmos com
aquilo que nos une".
No início da semana. Lula havia se queixado com Morales
por sua ameaça de cancelar a
visita caso as negociações não
estivessem adiantadas. "Reconheço de público a justeza de
todos os pleitos bolivianos para
melhorar a condição de vida do
seu povo", completou.
Morales, que considerou o
acordo "histórico", falou em seguida. Agradeceu ao "companheiro" e "irmão" Lula pelo
acordo que, segundo ele, ajudará no processo de mudanças na
Bolívia. "O acordo nos fortalece
neste processo de mudanças. O
acordo nos permite aprofundar
a democracia no país."
Para o boliviano, "encontraram um preço justo para o gás,
o que é importantíssimo para o
nosso país". E prometeu:
"Cumpriremos todos os contratos que temos com a empresa Petrobras e que nunca faltará gás ao Brasil, cumprindo
nosso contratos".
O boliviano lembrou dos encontros que teve com Lula nos
últimos anos e agradeceu ao colega brasileiro pelas dicas por
"paciência" no governo do país.
Morales disse ter captado as
mensagens e entendido o cargo
que ocupa. "Ser presidente é fazer bons negócios para o país."
Campo Grande
Após fechar o acordo com o
Brasil, Morales, precisou esperar 50 minutos em Campo
Grande (MS) para o reabastecimento do avião presidencial,
um jatinho da Força Aérea Boliviana, o FAB 001, com seis lugares para passageiros, que o
levou de volta ao seus país.
Antonio Mariaca, cônsul-geral da Bolívia em Mato Grosso
do Sul, afirmou que o jatinho,
cuja calda é pintada com as cores da bandeira boliviana, é
"muito pequeno, muito modesto e único para transportar os
presidentes [da República]".
Morales foi recepcionado pelo deputado estadual Júnior
Mochi (PMDB), representando
o governador peemedebista
André Puccinelli. Ele disse que
o governador estava em reunião com entidades filantrópicas: "O gerente da TAM nos cedeu a sala VIP para o presidente. Tomamos refrigerantes e
comemos pão de queijo".
Colaborou HUDSON CORRÊA, da Agência Folha, em Campo Grande
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