São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

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Brasil foi "generoso" no acordo, diz Lula

Após negociação tensa, ele fala em "solidariedade" e "compreensão" com as necessidades dos países menores da região

Morales promete que cumprirá os contratos e que nunca faltará gás ao Brasil e diz que acordo aprofundará democracia em seu país


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Diante do colega Evo Morales, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso no qual buscou justificar o aumento do preço de importação do gás natural boliviano como um ato de "generosidade" do Brasil, e não como um fruto da pressão da Bolívia.
A fala de Lula ocorreu após uma longa e desgastante negociação entre brasileiros e bolivianos, no dia anterior. Ontem pela manhã, ao lado de Morales no Palácio do Planalto, Lula apresentou sua justificativa pelo aditivo no acordo de fornecimento de gás ao Brasil.
"Temos, sim, que prestar solidariedade, estabelecer parceria e compreender que são os países mais fortes economicamente [...] que têm que ter a generosidade de compreender que os acordos bilaterais ou os acordos do bloco do Mercosul sempre têm que levar em conta as necessidades das economias menores", disse Lula.
O boliviano acompanhou sisudo a fala de Lula e viu algumas vezes o colega brasileiro se referir a ele como "Evos".
O petista falou ora de improviso ora seguindo o texto preparado. Explorou a idéia de obrigação brasileira de ceder ao pleito boliviano. "Não somos os imperialistas que alguns dizem que somos, não somos hegemonistas como alguns querem que sejamos, mas, sim, somos um país que tem a compreensão de que, pela sua dimensão geográfica, pela sua importância econômica, pelo seu desenvolvimento científico e tecnológico, não tem que disputar espaço com nenhum país irmão."
E prosseguiu: "Em um relacionamento tão intenso, nem sempre nossos pontos de vista coincidem e nem todas as prioridades e soluções são as mesmas. Mas essas diferenças são pequenas se compararmos com aquilo que nos une".
No início da semana. Lula havia se queixado com Morales por sua ameaça de cancelar a visita caso as negociações não estivessem adiantadas. "Reconheço de público a justeza de todos os pleitos bolivianos para melhorar a condição de vida do seu povo", completou.
Morales, que considerou o acordo "histórico", falou em seguida. Agradeceu ao "companheiro" e "irmão" Lula pelo acordo que, segundo ele, ajudará no processo de mudanças na Bolívia. "O acordo nos fortalece neste processo de mudanças. O acordo nos permite aprofundar a democracia no país."
Para o boliviano, "encontraram um preço justo para o gás, o que é importantíssimo para o nosso país". E prometeu: "Cumpriremos todos os contratos que temos com a empresa Petrobras e que nunca faltará gás ao Brasil, cumprindo nosso contratos".
O boliviano lembrou dos encontros que teve com Lula nos últimos anos e agradeceu ao colega brasileiro pelas dicas por "paciência" no governo do país.
Morales disse ter captado as mensagens e entendido o cargo que ocupa. "Ser presidente é fazer bons negócios para o país."

Campo Grande
Após fechar o acordo com o Brasil, Morales, precisou esperar 50 minutos em Campo Grande (MS) para o reabastecimento do avião presidencial, um jatinho da Força Aérea Boliviana, o FAB 001, com seis lugares para passageiros, que o levou de volta ao seus país.
Antonio Mariaca, cônsul-geral da Bolívia em Mato Grosso do Sul, afirmou que o jatinho, cuja calda é pintada com as cores da bandeira boliviana, é "muito pequeno, muito modesto e único para transportar os presidentes [da República]".
Morales foi recepcionado pelo deputado estadual Júnior Mochi (PMDB), representando o governador peemedebista André Puccinelli. Ele disse que o governador estava em reunião com entidades filantrópicas: "O gerente da TAM nos cedeu a sala VIP para o presidente. Tomamos refrigerantes e comemos pão de queijo".


Colaborou HUDSON CORRÊA, da Agência Folha, em Campo Grande

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