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Bolivianos criticam estudo ambiental e recusam projeto de usinas hidrelétricas
DO ENVIADO A BRASÍLIA
Apesar de ter cedido no preço
do gás e de propor parcerias para a construção de duas usinas,
o Brasil não convenceu a Bolívia a aceitar o projeto de duas
hidrelétricas próximas da fronteira com o país andino, consideradas prioritárias dentro do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento).
Durante a visita a Brasília, a
comitiva de Evo Morales insistiu em que, mesmo com a proposta de inclusão de seu país
num projeto binacional mais
amplo de exploração energética do rio Madeira, o estudo ambiental apresentado é insuficiente para demonstrar que
não haverá impacto do outro
lado da fronteira e chegou a pedir o cancelamento da atual
tramitação das duas represas.
O Ministério de Minas e
Energia vem repetindo que não
haverá nenhum impacto na Bolívia e quer licitar as duas hidrelétricas, Jirau e Santo Antônio,
até outubro, com investimento
previsto de R$ 18,4 bilhões. O
licenciamento ambiental ainda
está em tramitação no Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A afirmação de que não haverá impacto na Bolívia é contestada por um parecer do Inpa
(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) feito a pedido
do Ministério Público de Rondônia. De acordo com essa avaliação, existe o risco de as represas provocarem alagamentos permanentes no país vizinho, matando a vegetação.
Segundo o PAC, Santo Antônio deverá entrar em operação
até setembro de 2012, e Jirau,
em fevereiro de 2013. As obras,
localizadas no rio Madeira, em
Rondônia, são consideradas essenciais para evitar o desabastecimento de energia no Brasil
a médio prazo.
Na segunda-feira, a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil)
disse que o governo brasileiro
está disposto a negociar a construção de duas hidrelétricas
com a Bolívia, uma na fronteira
e outra no território do país vizinho. "Isso está resolvido, o
que eles [bolivianos] querem é
uma parceria nas usinas que estão do lado boliviano."
Uma fonte do governo boliviano que participou das reuniões, no entanto, disse à Folha
que não houve avanços em torno do tema e criticou o discurso de ontem do presidente Lula, que afirmou que "decidimos, explorar, também, a possibilidade de construir uma hidrelétrica binacional".
Segundo essa fonte, o comunicado conjunto de ontem deixa claro que o impasse continua ao se limitar a dizer que há
a "disposição de seguir dialogando sobre esse tema". Nenhum dos sete atos assinados
pelos dois governos está relacionado a projetos hidrelétricos no rio Madeira.
Os projetos brasileiros no rio
Madeira têm sofrido oposição
de movimentos sociais e ONGs
bolivianos, muitos afinados
com o governo Morales. No início do mês, cerca de 40 líderes
de organizações comunitárias
assinaram uma carta a Morales
e a Lula exigindo o cancelamento dos projetos.
Caso o projeto seja levado
adiante, as organizações ameaçam "adotar as medidas necessárias nas instâncias correspondentes para salvar a bacia
do rio Madeira e a vida da Amazônia e de seus habitantes".
(FM)
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