São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Captação externa pode ficar mais difícil

Países emergentes devem encontrar dificuldades para fazer emissão de títulos da dívida, apesar de resultado de janeiro

No começo do ano, Brasil e Colômbia levantaram US$ 1 bi em "bonds" com vencimento em dez anos; Filipinas obtiveram US$ 1,5 bi


MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A janela de oportunidades que possibilitou a países emergentes fazer emissão de papéis de dívida soberana em janeiro pode não continuar "aberta e sustentável" no resto do ano, segundo Nick Chamie, economista-chefe para mercados emergentes do Royal Bank of Canada, em Toronto.
"Para a dívida soberana brasileira, eu acredito que a janela estará lá, num montante razoável, talvez, outros US$ 3 bilhões para o resto do ano. Mas eu acho que eles claramente querem muito mais que isso."
Brasil e Colômbia levantaram no começo de janeiro US$ 1 bilhão em "bonds" com vencimento em dez anos. As Filipinas atingiram US$ 1,5 bilhão, também em papéis com maturidade similar, enquanto a Turquia emitiu US$ 1 bilhão em títulos que vencem em 2017.
"Eu não tomaria janeiro como referência para o resto do ano", afirmou Chamie.
"As empresas no Brasil quase certamente não serão capazes de emitir com o tipo de habilidade requerida. Dos cerca de US$ 22 bilhões, muito pouco disso está sendo capaz de ser rolado no mercado internacional. Na verdade, menos de 50%, quer dizer, para cerca US$ 15 bilhões vão ter que buscar outras fontes, ou recursos domésticos, e neste contexto de liquidez muito mais apertada."
Para Chamie, todas as condições estão mudando no sentido de causar mais estresse financeiro e a possibilidade de problemas com crédito. "Certamente também para o Brasil."
Em entrevista à Folha, no Fórum Econômico Mundial, encerrado no dia 1º, na Suíça, o presidente do BC, Henrique Meirelles reconheceu que "a colocação de papéis está restrita para todo mundo". "Tanto que a colocação de papéis do Brasil foi considerada um sucesso, porque foi uma taxa considerada atraente, menor que a do México, por exemplo."
Segundo ele, o Brasil não tem tanta necessidade de rolagem e tem reservas elevadas. "O problema maior é de quem não têm reservas. E tem o financiamento do comércio, problema grande e imediato", disse. "A rolagem da dívida é um problema mais de médio prazo."
Do setor privado brasileiro, o número total de vencimentos entre 1º de outubro de 2008 e 31 de dezembro de 2009 somando empréstimos, leasing e juros dará um pouco mais de US$ 30 bilhões, de acordo com o presidente do BC.
"É exatamente a parte que nós vamos cobrir com o novo programa [de financiamento para empresas brasileiras com dívida externa]. Só que a rolagem está acontecendo hoje em dia numa faixa de 50%, existe uma expectativa de que deva existir uma demanda de cerca de metade disso, US$ 15 bilhões, ou , para ser conservador, um número superior, até de US$ 20 bilhões", afirmou.
Para Chamie, a diferença de taxas obtidas por Brasil e México está mais relacionada ao enfraquecimento do câmbio mexicano e a problemas domésticos do país. Ele também considera que o Brasil foi razoavelmente bem-sucedido. "Foi melhor que seus pares, mas ainda temos onze meses neste ano."
"O Brasil terá significativa pressão na balança de pagamentos, o colapso nos preços de commodities terá forte efeito no fluxo de dólar para o país, o Brasil está mais colado nas perspectivas de crescimento global e, claro, essas perspectivas continuam a piorar muito rapidamente", diz o canadense.
"Além do nível muito alto de estresse no mercado financeiro internacional, acredito que o Brasil continuará a encarar significativos ventos contrários."


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