São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Trabalhadores e industriais lançam campanha para elevar número de integrantes do Conselho Monetário

CUT e empresários defendem CMN ampliado

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes de empresários e trabalhadores lançaram ontem uma campanha pela ampliação do CMN (Conselho Monetário Nacional), órgão máximo do sistema financeiro brasileiro e responsável pela definição da política monetária.
Ontem, os presidentes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) assinaram carta em que defendem a ampliação do número de integrantes do CMN.
Atualmente, o órgão é formado por três membros: o presidente do Banco Central e os ministros da Fazenda e do Planejamento. A proposta que os signatários da carta pretendem entregar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias é de expandir para nove o número de membros, sendo mais dois representantes do governo, dois dos empresários e dois dos trabalhadores.
Toda a política monetária é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), das regras das operações de crédito imobiliário à definição da meta de inflação que o Banco Central deverá cumprir. "Com todo esse poder para mudar a vida e o futuro do país, [o CMN] não pode ser formado por apenas três pessoas", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
De maneira geral, os opositores da atual estrutura do conselho criticam o que Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), chamou de "problema de poder" no CMN, já que o órgão é, na prática, controlado pela Fazenda. "As reuniões do CMN começam sempre em 2 a 1", ironizou Luiz Marinho, da CUT, fazendo alusão ao fato de a Fazenda e o BC votarem sempre juntos, tornando irrelevante virtuais divergências do Planejamento.
Por trás da proposta, que também foi discutida na última reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), na semana passada, está a insatisfação do setor produtivo com a inflexibilidade do CMN, dizem empresários e trabalhadores, ao definir as metas de inflação. O CDES designou uma comissão formada por sete conselheiros para estudar outra proposta de ampliação, que, na semana passada, foi apresentada pela conselheira Sonia Fleury, professora da Fundação Getulio vargas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A ampliação do conselho seria o primeiro passo para aproximar a política econômica do setor produtivo, que, dizem os críticos, é preterido em favor dos interesses do sistema financeiro.
A Fazenda, que perderia influência nas decisões do CMN, é contra a ampliação. O presidente Lula defendeu a proposta quando era candidato, mas, na reunião da semana passada, não deu sinais de que pretende tirá-la do papel.
"Todos nós defendemos o controle da inflação, mas não estamos seguros de que a atual política [monetária] leva ao crescimento sustentado", disse Marinho. "A política econômica se pauta muito por análises feitas pelo sistema financeiro. Precisamos aproximar o CMN da economia real", afirmou Armando Monteiro Neto, da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Skaf, da Fiesp, avalia que a ampliação do CMN aproximaria a política econômica dos "atores da produção". "É importante defender a moeda, mas a vida do país não é só a moeda", afirma o presidente da entidade. "Nossa economia está há duas décadas sem direção. Há um descolamento da política econômica em relação ao setor real", completa Gomes de Almeida, do Iedi.


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