|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Trabalhadores e industriais lançam campanha para elevar número de integrantes do Conselho Monetário
CUT e empresários defendem CMN ampliado
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes de empresários
e trabalhadores lançaram ontem
uma campanha pela ampliação
do CMN (Conselho Monetário
Nacional), órgão máximo do sistema financeiro brasileiro e responsável pela definição da política monetária.
Ontem, os presidentes da CUT
(Central Única dos Trabalhadores), da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e
da CNI (Confederação Nacional
da Indústria) assinaram carta em
que defendem a ampliação do número de integrantes do CMN.
Atualmente, o órgão é formado
por três membros: o presidente
do Banco Central e os ministros
da Fazenda e do Planejamento. A
proposta que os signatários da
carta pretendem entregar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
nos próximos dias é de expandir
para nove o número de membros,
sendo mais dois representantes
do governo, dois dos empresários
e dois dos trabalhadores.
Toda a política monetária é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), das regras das
operações de crédito imobiliário à
definição da meta de inflação que
o Banco Central deverá cumprir.
"Com todo esse poder para mudar a vida e o futuro do país, [o
CMN] não pode ser formado por
apenas três pessoas", diz Paulo
Skaf, presidente da Fiesp.
De maneira geral, os opositores
da atual estrutura do conselho criticam o que Júlio Sérgio Gomes de
Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), chamou de "problema de poder" no CMN, já que o
órgão é, na prática, controlado
pela Fazenda. "As reuniões do
CMN começam sempre em 2 a 1",
ironizou Luiz Marinho, da CUT,
fazendo alusão ao fato de a Fazenda e o BC votarem sempre juntos,
tornando irrelevante virtuais divergências do Planejamento.
Por trás da proposta, que também foi discutida na última reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), na semana passada, está a
insatisfação do setor produtivo
com a inflexibilidade do CMN, dizem empresários e trabalhadores,
ao definir as metas de inflação. O
CDES designou uma comissão
formada por sete conselheiros para estudar outra proposta de ampliação, que, na semana passada,
foi apresentada pela conselheira
Sonia Fleury, professora da Fundação Getulio vargas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A ampliação do conselho seria o
primeiro passo para aproximar a
política econômica do setor produtivo, que, dizem os críticos, é
preterido em favor dos interesses
do sistema financeiro.
A Fazenda, que perderia influência nas decisões do CMN, é
contra a ampliação. O presidente
Lula defendeu a proposta quando
era candidato, mas, na reunião da
semana passada, não deu sinais
de que pretende tirá-la do papel.
"Todos nós defendemos o controle da inflação, mas não estamos seguros de que a atual política [monetária] leva ao crescimento sustentado", disse Marinho. "A
política econômica se pauta muito por análises feitas pelo sistema
financeiro. Precisamos aproximar o CMN da economia real",
afirmou Armando Monteiro Neto, da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Skaf, da Fiesp, avalia que a ampliação do CMN aproximaria a
política econômica dos "atores da
produção". "É importante defender a moeda, mas a vida do país
não é só a moeda", afirma o presidente da entidade. "Nossa economia está há duas décadas sem direção. Há um descolamento da
política econômica em relação ao
setor real", completa Gomes de
Almeida, do Iedi.
Texto Anterior: Receita ortodoxa: Brasil deve ampliar hoje liderança em juros Próximo Texto: Conselho não segue sistema de outros países Índice
|