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BC mantém a cautela e vê instabilidade transitória
"Sólidos fundamentos da economia" dão mais estabilidade, diz ata do Copom
Banco reduz previsão para o aumento dos preços administrados e não prevê reajustes de gás de cozinha e gasolina neste ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As turbulências nos mercados financeiros nas últimas semanas são, para o Banco Central, mais uma "instabilidade
transitória" que uma "crise".
Ainda assim, as incertezas
em relação ao cenário externo,
combinadas com uma retomada mais forte do crescimento,
são os fatores apresentados pelo BC para justificar uma maior
cautela no corte nos juros. A
avaliação consta da ata da última reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC),
que, na semana passada, reduziu a taxa básica Selic de 13% ao
ano para 12,75%.
Sobre a turbulência no mercado, que derrubou Bolsas de
todo o mundo, o BC diz que o
fenômeno tem "caráter potencialmente transitório" e que,
mesmo em caso de deterioração, o Brasil deve ser menos
afetado devido "aos sólidos
fundamentos da economia".
Mas, para analistas, as atenções do BC estão voltadas para
a evolução do consumo. A preocupação estaria na possibilidade de a produção das empresas
não ser suficiente para acompanhar o recente crescimento
da demanda. Se a procura ultrapassa a oferta, o espaço para
reajustes de preços é maior.
"É uma preocupação legítima do BC", diz Carlos Cintra,
gerente de renda fixa do banco
Prosper. Para Cintra, essa pressão ainda não é tão relevante
porque parte dela tem sido
atendida por importados, mais
baratos com a queda do dólar.
Ainda assim, afirma, o futuro
dos juros agora dependerá da
evolução do consumo.
Entre os fatores que impulsionam a demanda, segundo o
BC, estão os maiores gastos do
governo, a recuperação da renda e a expansão do crédito, fatores que tiveram forte impacto
no nível de atividade em 2006 e
devem continuar sendo os
principais motores do crescimento da economia neste ano.
O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, também aponta o comportamento
da demanda como um dos principais fatores no rumo dos juros. Em relatório enviado a
seus clientes, Salomon diz que
o conteúdo da ata do Copom
"reforça a visão de que os cortes
na taxa Selic vão continuar na
casa do 0,25 ponto percentual".
Quem apostava na possibilidade de o Copom retomar os
cortes de 0,5 ponto já começa a
reconsiderar suas previsões. É
o caso da LCA Consultores, que
considerava a chance de o BC
voltar a reduzir os juros de forma mais acelerada, devido à estabilidade da inflação.
"O tom precavido da ata, sobretudo em relação ao fortalecimento da demanda doméstica, parece diminuir a probabilidade de que seja retomado já no
segundo trimestre um ritmo de
corte da Selic de 0,5 ponto", diz
relatório da LCA.
Por enquanto, porém, não há
sinais de que a inflação possa
fugir do controle do BC. O comportamento recente dos preços
fez até com que o Copom reduzisse de 4,6% para 3,3% sua
projeção para o reajuste médio
das tarifas de energia elétrica
neste ano. Já em relação ao preço da gasolina e do gás de cozinha, a expectativa é que não
ocorram aumentos.
A projeção do BC é que o conjunto de preços administrados
suba 4,5% neste ano. A estimativa do mercado é 3,8%.
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