São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC mantém a cautela e vê instabilidade transitória

"Sólidos fundamentos da economia" dão mais estabilidade, diz ata do Copom

Banco reduz previsão para o aumento dos preços administrados e não prevê reajustes de gás de cozinha e gasolina neste ano


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As turbulências nos mercados financeiros nas últimas semanas são, para o Banco Central, mais uma "instabilidade transitória" que uma "crise".
Ainda assim, as incertezas em relação ao cenário externo, combinadas com uma retomada mais forte do crescimento, são os fatores apresentados pelo BC para justificar uma maior cautela no corte nos juros. A avaliação consta da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, reduziu a taxa básica Selic de 13% ao ano para 12,75%.
Sobre a turbulência no mercado, que derrubou Bolsas de todo o mundo, o BC diz que o fenômeno tem "caráter potencialmente transitório" e que, mesmo em caso de deterioração, o Brasil deve ser menos afetado devido "aos sólidos fundamentos da economia".
Mas, para analistas, as atenções do BC estão voltadas para a evolução do consumo. A preocupação estaria na possibilidade de a produção das empresas não ser suficiente para acompanhar o recente crescimento da demanda. Se a procura ultrapassa a oferta, o espaço para reajustes de preços é maior.
"É uma preocupação legítima do BC", diz Carlos Cintra, gerente de renda fixa do banco Prosper. Para Cintra, essa pressão ainda não é tão relevante porque parte dela tem sido atendida por importados, mais baratos com a queda do dólar. Ainda assim, afirma, o futuro dos juros agora dependerá da evolução do consumo.
Entre os fatores que impulsionam a demanda, segundo o BC, estão os maiores gastos do governo, a recuperação da renda e a expansão do crédito, fatores que tiveram forte impacto no nível de atividade em 2006 e devem continuar sendo os principais motores do crescimento da economia neste ano.
O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, também aponta o comportamento da demanda como um dos principais fatores no rumo dos juros. Em relatório enviado a seus clientes, Salomon diz que o conteúdo da ata do Copom "reforça a visão de que os cortes na taxa Selic vão continuar na casa do 0,25 ponto percentual".
Quem apostava na possibilidade de o Copom retomar os cortes de 0,5 ponto já começa a reconsiderar suas previsões. É o caso da LCA Consultores, que considerava a chance de o BC voltar a reduzir os juros de forma mais acelerada, devido à estabilidade da inflação.
"O tom precavido da ata, sobretudo em relação ao fortalecimento da demanda doméstica, parece diminuir a probabilidade de que seja retomado já no segundo trimestre um ritmo de corte da Selic de 0,5 ponto", diz relatório da LCA.
Por enquanto, porém, não há sinais de que a inflação possa fugir do controle do BC. O comportamento recente dos preços fez até com que o Copom reduzisse de 4,6% para 3,3% sua projeção para o reajuste médio das tarifas de energia elétrica neste ano. Já em relação ao preço da gasolina e do gás de cozinha, a expectativa é que não ocorram aumentos.
A projeção do BC é que o conjunto de preços administrados suba 4,5% neste ano. A estimativa do mercado é 3,8%.


Texto Anterior: Luiz Carlos Mendonça de Barros: Brasil: uma economia em mudanças
Próximo Texto: Varejo: Comércio reage, e vendas aumentam 1,8% em janeiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.