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VINICIUS TORRES FREIRE
Ministério da integração nacional
Gabinete luliano confirma irrelevância de "reformas ministeriais" e do debate sobre a política real do país
OS VICIADOS em política diziam que o governo estava
parado porque Lula não nomeava um ministério. "Political junkies", como dizem os americanos
sobre os intérpretes obsessivos da
ninharia política, da "politique politicienne", política politiqueira, como dizem os franceses. Os viciados
em política reclamaram por quatro
meses o resultado dessa irrelevância
convoluta, desse universo paralelo
de caraminholas que é a distribuição
de prebendas ministeriais.
Não queriam música? Agora, dancem. Dancem com o PMDB de Geddel Lima, Odílio Balbinotti e grande
elenco, mais um ministério da integração nacional, da comunhão nacional da mediocridade que somos
nós mesmos: o país não é muito melhor ou pior do que isso. Basta ver o
plantel de parlamentares, muitos
eleitos para o programa de proteção
dos processados por crimes que vão
de tiro a roubo: a imunidade parlamentar e o foro privilegiado.
Fisiologia? Conversa para boi dormir. "Fragilidade do sistema partidário?" Conversa para boi dormir de
politólogos. No Brasil, é comum a
confusão entre as legendas formalmente registradas com os partidos
"realmente existentes", os quais
transcendem siglas e se reorganizam diante de cada interesse em jogo, formando bancadas disso ou daquilo, a ruralista, a dos banqueiros, a
das TVs, a da saúde etc.
Em especial, formam-se as bancadas de governo e oposição, udenistas
e pessedistas, liberais e conservadores, saquaremas e luzias, embora tenha havido certa sofisticação nessas
bipartições, o suficiente para se adequar à complexidade social do país,
que aumentou nas últimas décadas.
Mas nada muito além disso.
Ministros tentarão, sim, tirar casquinhas de seus ministérios. Quanto
mais dinheiro, mais casquinha -ou
corrupção mesmo. Mas as políticas
são definidas pelos ministros?
Talvez os ministros mais ativos,
decentes e preparados consigam dar
mais ou menos ênfase a essas ou
àquelas políticas de longo prazo, que
foram definidas pela Constituição,
por vinculações orçamentárias, pelo
corpo burocrático estável mais técnico e preparado ou até por diretrizes definidas por meio de conselhos
com participação social, como no
caso da Saúde, da Assistência Social
ou da Previdência.
O grosso das possibilidades da administração, de resto, é dado pela
Presidência da República -o Congresso em geral se ocupa de casquinhas, basta ver como é votado o Orçamento federal. Os demais limites
são dados pelas decisões do Ministério da Fazenda e do Banco Central.
Por fim, restam as determinações
impostas pela ineficiência e pelo
despreparo crônico de um país de
gente em geral ineducada para administrar ou cobrar o governo.
FHC conseguiu circunscrever
uma área mínima de racionalidade
programática, tenha-se gostado dos
programas ou não. Reservou para
seu grupo o essencial da área econômica, Saúde e Educação. De resto,
deixou correr a inépcia administrativa (apagão) e correu para o abraço
da ninharia política, para a integração nacional dos votos no Congresso, arrebanhados para atender a esse ou aquele interesse social mais
forte. O inapetente Lula "delegou"
mais e governa apenas a economia.
O resto é quase só resto.
vinit@uol.com.br
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