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TRÉGUA NO MERCADO
Para deputado, dinheiro que entra no país, atraído por juros altos, é do tipo de "morte súbita"
Onda de otimismo é extravagante, diz Delfim
Patricia Santos - 19.dez.02/Folha Imagem
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Delfim Netto (PP-SP), para quem é difícil saber até onde dólar cai |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O deputado federal Delfim Netto (PP-SP), 74, acha "extravagante" a onda atual de otimismo no
país. "O Brasil melhorou muito,
tem hoje uma imagem externa razoável, mas continua com um déficit nominal de 5% do PIB."
Para Delfim Netto, a queda do
dólar se deve à entrada maciça de
capital de fora atraído pelos juros
altos. Como a inflação alta deverá
adiar a redução dos juros, esse capital continuará entrando no país
e forçando a baixa do dólar.
O problema, segundo Delfim
Netto, é que se trata de um capital
que pode sair a qualquer momento. "Se o Lula pega uma pneumonia asiática, esse dinheiro todo vai
embora." Leia abaixo trechos de
entrevista concedida à Folha.
Folha - Por que o otimismo?
Delfim Netto - O país vai produzir um superávit primário de
4,25% do PIB neste ano, que é um
número muito bom. A mensagem da LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) só confirma que
o governo está querendo fazer as
coisas corretas. Além disso, o processo das reformas está se acelerando. Tudo isso ajuda, mas acho
essa onda de otimismo extravagante, quando se olha para os fatos. O Brasil melhorou muito, tem
hoje uma imagem externa razoável, mas continua com um déficit
nominal de 5% do PIB. O país tem
que se livrar das condições de dependência em que se encontra,
tanto da dívida interna como da
dívida externa. Nós ainda temos
muitos constrangimentos. O ajuste externo ainda não foi feito.
Folha - Até onde o dólar pode
cair?
Delfim - É difícil saber para onde
o dólar vai. Também não há como
saber se já está num patamar bom
ou não. Provavelmente está caindo mais do que o que seria desejável. O problema é que não tem
muito o que fazer. Ninguém pode
propor uma quarentena para o
câmbio. Eu esperava que esse
acerto no câmbio fosse feito via
queda da taxa de juros, mas é
muito pouco provável que o Banco Central decida baixar a Selic
com a inflação caindo tão pouco.
Eu esperava uma redução um
pouco mais rápida da inflação. O
que atrai esse capital que entra no
país são os lucros extraordinários
que obtêm com a arbitragem de
juros e sem riscos. Como a inflação não caiu no ritmo esperado e
essa janela da arbitragem de juros
não será mais fechada, esse capital
vai continuar entrando no país.
Agora, é o tipo do capital de morte súbita. Amanhã, se o Lula pega
uma pneumonia asiática, esse dinheiro todo vai embora.
Folha - Esse otimismo pode se
tornar uma frustração?
Delfim - Ainda tem muita coisa a
fazer no país. A situação é delicada. Se o BC tentar comprar dólar,
crescerá a oferta de moeda na economia, o que só agrava a inflação.
De qualquer forma, vivemos um
bom momento. A confiança é
muito grande no governo. O país
deve aproveitar para pensar no
setor real da economia.
Folha - Como assim?
Delfim - Ninguém pensa na indústria e na agricultura. Só no setor financeiro. Não é possível continuar com esse nível de crédito. O
governo deveria utilizar o BNDES
e o Banco do Brasil como instrumento de políticas públicas. A
queda das importações não aconteceu simplesmente porque o dólar subiu, mas porque não tem
crédito no país.
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