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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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TRÉGUA NO MERCADO

Para deputado, dinheiro que entra no país, atraído por juros altos, é do tipo de "morte súbita"

Onda de otimismo é extravagante, diz Delfim

Patricia Santos - 19.dez.02/Folha Imagem
Delfim Netto (PP-SP), para quem é difícil saber até onde dólar cai


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O deputado federal Delfim Netto (PP-SP), 74, acha "extravagante" a onda atual de otimismo no país. "O Brasil melhorou muito, tem hoje uma imagem externa razoável, mas continua com um déficit nominal de 5% do PIB."
Para Delfim Netto, a queda do dólar se deve à entrada maciça de capital de fora atraído pelos juros altos. Como a inflação alta deverá adiar a redução dos juros, esse capital continuará entrando no país e forçando a baixa do dólar.
O problema, segundo Delfim Netto, é que se trata de um capital que pode sair a qualquer momento. "Se o Lula pega uma pneumonia asiática, esse dinheiro todo vai embora." Leia abaixo trechos de entrevista concedida à Folha.
 

Folha - Por que o otimismo?
Delfim Netto -
O país vai produzir um superávit primário de 4,25% do PIB neste ano, que é um número muito bom. A mensagem da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) só confirma que o governo está querendo fazer as coisas corretas. Além disso, o processo das reformas está se acelerando. Tudo isso ajuda, mas acho essa onda de otimismo extravagante, quando se olha para os fatos. O Brasil melhorou muito, tem hoje uma imagem externa razoável, mas continua com um déficit nominal de 5% do PIB. O país tem que se livrar das condições de dependência em que se encontra, tanto da dívida interna como da dívida externa. Nós ainda temos muitos constrangimentos. O ajuste externo ainda não foi feito.

Folha - Até onde o dólar pode cair?
Delfim -
É difícil saber para onde o dólar vai. Também não há como saber se já está num patamar bom ou não. Provavelmente está caindo mais do que o que seria desejável. O problema é que não tem muito o que fazer. Ninguém pode propor uma quarentena para o câmbio. Eu esperava que esse acerto no câmbio fosse feito via queda da taxa de juros, mas é muito pouco provável que o Banco Central decida baixar a Selic com a inflação caindo tão pouco.
Eu esperava uma redução um pouco mais rápida da inflação. O que atrai esse capital que entra no país são os lucros extraordinários que obtêm com a arbitragem de juros e sem riscos. Como a inflação não caiu no ritmo esperado e essa janela da arbitragem de juros não será mais fechada, esse capital vai continuar entrando no país. Agora, é o tipo do capital de morte súbita. Amanhã, se o Lula pega uma pneumonia asiática, esse dinheiro todo vai embora.

Folha - Esse otimismo pode se tornar uma frustração?
Delfim -
Ainda tem muita coisa a fazer no país. A situação é delicada. Se o BC tentar comprar dólar, crescerá a oferta de moeda na economia, o que só agrava a inflação. De qualquer forma, vivemos um bom momento. A confiança é muito grande no governo. O país deve aproveitar para pensar no setor real da economia.

Folha - Como assim?
Delfim -
Ninguém pensa na indústria e na agricultura. Só no setor financeiro. Não é possível continuar com esse nível de crédito. O governo deveria utilizar o BNDES e o Banco do Brasil como instrumento de políticas públicas. A queda das importações não aconteceu simplesmente porque o dólar subiu, mas porque não tem crédito no país.


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