UOL


São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANO DO DRAGÃO

Segundo Fundo, Brasil deve impedir a reindexação salarial; analistas sugerem aumento dos juros

FMI quer combate "mais agressivo" do BC à inflação

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O chefe das missões do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil, o economista Jorge Marquéz-Ruarte, disse ontem que o Banco Central não deveria mudar a meta de inflação para este ano, mas sim "ser mais agressivo" no combate à alta dos preços.
"Eu não sei se eles [o BC] vão mudar a meta. Eles têm somente que agir de forma mais agressiva para controlar a inflação", disse ele ao ser questionado pela Folha se o aumento recente das expectativas do mercado financeiro para a inflação em 2003 não preocupava o Fundo.
Ele não disse exatamente o que o BC deveria fazer, mas a frase indica que o FMI espera do Banco Central nova elevação dos juros ou aumento dos compulsórios (dinheiro retido dos bancos com baixa ou sem nenhuma remuneração), caso persistam ou aumentem as pressões sobre a inflação.
Outros economistas ouvidos pela Folha, como o diretor de pesquisas para mercados emergentes da Goldman Sachs, Paulo Leme, e Paulo Vieira da Cunha (ex-Lehman Brothers, de mudança para o HSBC), avaliam que o momento é de aperto da política monetária. Leme recomenda que o BC volte a aumentar a taxa de juros.
O economista do FMI ressaltou, contudo, que o BC tem atuado de forma correta para controlar a inflação. "As expectativas de inflação são muito importantes. Eventualmente, se traduzem em aumentos de salários, o que gera espiral inflacionária. Por isso é importante o que está fazendo o BC, que é mostrar que está disposto a tomar as medidas necessárias para barrar a inflação."
Ruarte lembrou também que a valorização recente do real ajuda a pressionar os preços para baixo. A indústria gasta menos para importar insumos e matéria-prima, portanto pode cobrar menos (ou aumentar menos os preços) por produtos no mercado interno.
A alta do câmbio no ano passado tem sido apontada pelo BC como a principal causa da elevação da inflação neste ano. "Eu acho que [o BC] tem de manter a política monetária apertada até que fique claro que as expectativas de inflação estejam caindo. Acho que isso é importante", disse Ruarte.
A expectativa do mercado financeiro para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano aumentou na semana passada, segundo levantamento semanal realizado pelo BC, de 12,22 % para 12,30 %.
O BC estabeleceu um mecanismo para poder aumentar a meta de inflação do ano, atualmente em 8,5%, caso os chamados preços administrados (reajustados por contratos, como energia elétrica e telefone) subam mais do que esperado pelo governo. O presidente do BC, Henrique Meirelles, explicou anteontem em Nova York que a expectativa da instituição é que os preços administrados tenham uma elevação de 14% neste ano. Mas, se ficarem em 17% ou mais, a meta de inflação subiria para 9,5%, o que daria mais folga para o BC na condução da política monetária, isto é, talvez não fosse necessário elevar juros para forçar a inflação para o alvo de 8,5%. Foi essa possibilidade de elevação da meta que o economista do FMI criticou.
Apesar da elevação das expectativas para a inflação, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, se disse tranquilo com a trajetória dos preços. Disse que a apreciação do real vai ajudar a conter o aumento da inflação. No entanto deu a entender que, se for necessário, o BC poderá manter os juros altos. "Vocês sabem que, no final do ano passado, tivemos um surto inflacionário perigoso, por isso iniciamos o ano com uma política austera, severa no plano fiscal e monetário [...] Precisamos estar vigilantes, não vamos negligenciar a necessidade de combater a inflação de maneira eficaz", ressaltou.
Para Paulo Vieira da Cunha, os recentes aumentos de juros não foram suficientes para garantir a tendência de queda da inflação. Em sua opinião, o BC perdeu a capacidade de guiar as expectativas do mercado.
Ele disse que o aumento da taxa básica (Selic) em três pontos percentuais realizado no final do ano passado, ainda na gestão do ex-presidente do BC Armínio Fraga, surtiu pouco efeito. Segundo ele, prevaleceram as incertezas sobre como seria a administração do BC no governo Lula. "O ideal seria ter deixado esse aumento para a administração seguinte, porque teve muito pouco impacto naquela conjuntura", disse.
Em janeiro, já comandado por Meirelles, o BC aumentou a Selic novamente em 0,5 ponto percentual. "Mas, de novo, o mercado não sabia ainda como seria a administração do Banco Central. Acho que agora se está consolidando a posição do BC."
Paulo Leme defende que o BC aumente os juros de novo, pelo menos uma vez, "talvez duas ". Ele entende que só deverá haver espaço para redução dos juros no final do ano.
Ontem, foi realizado em Nova York um evento sobre a economia brasileira do qual participaram o ministro Palocci e sua equipe, o funcionário do FMI e vários outros economistas.


Texto Anterior: Fiscalização: Receita eleva a cobrança de tributo atrasado
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.