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ANO DO DRAGÃO
Segundo Fundo, Brasil deve impedir a reindexação salarial; analistas sugerem aumento dos juros
FMI quer combate "mais agressivo" do BC à inflação
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O chefe das missões do FMI
(Fundo Monetário Internacional)
ao Brasil, o economista Jorge
Marquéz-Ruarte, disse ontem
que o Banco Central não deveria
mudar a meta de inflação para este ano, mas sim "ser mais agressivo" no combate à alta dos preços.
"Eu não sei se eles [o BC] vão mudar a meta. Eles têm somente
que agir de forma mais agressiva para controlar a inflação", disse
ele ao ser questionado pela Folha
se o aumento recente das expectativas do mercado financeiro para
a inflação em 2003 não preocupava o Fundo.
Ele não disse exatamente o que
o BC deveria fazer, mas a frase indica que o FMI espera do Banco
Central nova elevação dos juros
ou aumento dos compulsórios
(dinheiro retido dos bancos com
baixa ou sem nenhuma remuneração), caso persistam ou aumentem as pressões sobre a inflação.
Outros economistas ouvidos
pela Folha, como o diretor de pesquisas para mercados emergentes
da Goldman Sachs, Paulo Leme, e
Paulo Vieira da Cunha (ex-Lehman Brothers, de mudança para o
HSBC), avaliam que o momento é
de aperto da política monetária.
Leme recomenda que o BC volte a
aumentar a taxa de juros.
O economista do FMI ressaltou,
contudo, que o BC tem atuado de
forma correta para controlar a inflação. "As expectativas de inflação são muito importantes. Eventualmente, se traduzem em aumentos de salários, o que gera espiral inflacionária. Por isso é importante o que está fazendo o BC,
que é mostrar que está disposto a
tomar as medidas necessárias para barrar a inflação."
Ruarte lembrou também que a
valorização recente do real ajuda
a pressionar os preços para baixo.
A indústria gasta menos para importar insumos e matéria-prima,
portanto pode cobrar menos (ou
aumentar menos os preços) por
produtos no mercado interno.
A alta do câmbio no ano passado tem sido apontada pelo BC como a principal causa da elevação
da inflação neste ano. "Eu acho
que [o BC] tem de manter a política monetária apertada até que fique claro que as expectativas de inflação estejam caindo. Acho que
isso é importante", disse Ruarte.
A expectativa do mercado financeiro para o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
neste ano aumentou na semana
passada, segundo levantamento
semanal realizado pelo BC, de
12,22 % para 12,30 %.
O BC estabeleceu um mecanismo para poder aumentar a meta
de inflação do ano, atualmente
em 8,5%, caso os chamados preços administrados (reajustados
por contratos, como energia elétrica e telefone) subam mais do
que esperado pelo governo. O
presidente do BC, Henrique Meirelles, explicou anteontem em
Nova York que a expectativa da
instituição é que os preços administrados tenham uma elevação
de 14% neste ano. Mas, se ficarem
em 17% ou mais, a meta de inflação subiria para 9,5%, o que daria
mais folga para o BC na condução
da política monetária, isto é, talvez não fosse necessário elevar juros para forçar a inflação para o
alvo de 8,5%. Foi essa possibilidade de elevação da meta que o economista do FMI criticou.
Apesar da elevação das expectativas para a inflação, o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
se disse tranquilo com a trajetória
dos preços. Disse que a apreciação do real vai ajudar a conter o
aumento da inflação. No entanto
deu a entender que, se for necessário, o BC poderá manter os juros altos. "Vocês sabem que, no final do ano passado, tivemos um
surto inflacionário perigoso, por
isso iniciamos o ano com uma política austera, severa no plano fiscal e monetário [...] Precisamos
estar vigilantes, não vamos negligenciar a necessidade de combater a inflação de maneira eficaz",
ressaltou.
Para Paulo Vieira da Cunha, os
recentes aumentos de juros não
foram suficientes para garantir a
tendência de queda da inflação.
Em sua opinião, o BC perdeu a capacidade de guiar as expectativas
do mercado.
Ele disse que o aumento da taxa
básica (Selic) em três pontos percentuais realizado no final do ano
passado, ainda na gestão do ex-presidente do BC Armínio Fraga,
surtiu pouco efeito. Segundo ele,
prevaleceram as incertezas sobre
como seria a administração do BC
no governo Lula. "O ideal seria ter
deixado esse aumento para a administração seguinte, porque teve
muito pouco impacto naquela
conjuntura", disse.
Em janeiro, já comandado por
Meirelles, o BC aumentou a Selic
novamente em 0,5 ponto percentual. "Mas, de novo, o mercado
não sabia ainda como seria a administração do Banco Central.
Acho que agora se está consolidando a posição do BC."
Paulo Leme defende que o BC
aumente os juros de novo, pelo
menos uma vez, "talvez duas ".
Ele entende que só deverá haver
espaço para redução dos juros no
final do ano.
Ontem, foi realizado em Nova
York um evento sobre a economia brasileira do qual participaram o ministro Palocci e sua equipe, o funcionário do FMI e vários
outros economistas.
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