São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Regras não devem mudar já, diz Gabrielli

Presidente da Petrobras defende revisão do marco regulatório do setor, mas não para os casos atuais, em que já houve licitações

Executivo também afirma que "ainda não há dados suficientes" para conclusões sobre o potencial do novo campo na bacia de Santos


MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A CANCÚN

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou ontem em Cancún, no México, que ainda não existem condições de afirmar nada sobre o potencial da descoberta na bacia de Santos. "Estamos perfurando o poço a 3.000 metros. O objetivo é chegar a cerca de 7.000 metros. Só então saberemos algo sobre a descoberta", disse Gabrielli. Ele acrescentou que em três meses pode se confirmar ou não a descoberta. O poço pode ser seco ou antieconômico ou ainda ser necessário fazer outras perfurações.
"Fizemos um "statement" de que estamos em fase preliminar. Não temos dados para confirmar as descobertas", disse Gabrielli, que está no México para participar do Fórum Econômico Mundial, na América Latina. O presidente da Petrobras é um dos participantes especiais do evento, que começou ontem na cidade de Cancún.
A uma repórter mexicana que se enganou ao questionar o presidente da empresa sobre o "anúncio da Petrobras", Gabrielli respondeu: "Não anunciamos nada. Houve essa informação no mercado. A informação que foi dada não é de nossa responsabilidade", disse. "Não temos dados para confirmar as descobertas." O anúncio foi feito pelo diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima.
À Folha, Gabrielli também defendeu uma mudança no marco regulatório do setor, mas não para já. "Sim, precisa mudar [o marco regulatório], mas para o futuro, não para estes casos. Já houve licitação para todos eles", afirmou.
Ele comentou também a proposta feita pelo presidente do México, Felipe Calderón, na semana passada, de flexibilizar as regras de modo a permitir maior liberdade para parcerias com empresas estrangeiras.
O petróleo do México pode acabar, a menos que invista mais em exploração, que, totalmente estatal, é vetada ao investimento privado doméstico e externo. Do contrário, o país pode vir a ter de importar petróleo dentro de uma década.
A Pemex, empresa mexicana, precisa do tipo de tecnologia em que a Petrobras é líder mundial. A brasileira está presente no México apenas como prestadora de serviços, o que é permitido pela Constituição.
A seguir, trechos de entrevista concedida à Folha.

 

FOLHA - Como estão os trabalhos [no novo campo]?
JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI
- Estamos perfurando em cerca de 3.000 metros. O objetivo é chegar a cerca de 6.000 ou 7.000 metros -os geólogos vão dizer o que será necessário exatamente.

FOLHA - É possível que se descubra que o poço é seco ou inviável economicamente?
GABRIELLI
- Tudo pode ser, não temos dados suficientes ainda...

FOLHA - Até mesmo pode ocorrer essa constatação de que o poço seja seco, inviável comercialmente?
GABRIELLI
- Tudo pode. Veja bem o que estou dizendo: poder pode tudo, porque não temos as informações ainda.

FOLHA - Foi precipitado esse anúncio do diretor-geral da ANP? O que tem de verdadeiro no que declarou?
GABRIELLI
- Não sabemos, se não temos informações suficientes... Não posso comentar nada.

FOLHA - A possibilidade de a região ter um grande potencial traz de volta a necessidade de discutir um novo marco regulatório? Ao menos na camada do pré-sal?
GABRIELLI
- Sim, precisa mudar [o marco regulatório], mas para o futuro, não para estes casos. Já houve licitação para todos eles, não só para a BM-S-9. A situação é bem diferente de quando o risco exploratório era muito alto. Hoje no pré-sal não precisa ter mais aquelas regras. Não precisa mais oferecer um retorno do investimento tão alto. Já se sabe que é bilhete premiado. Mas é o Congresso, a sociedade que tem de decidir isso. Não é nem a Petrobras nem o governo federal. O problema é se o pré-sal é contínuo ou não.

FOLHA - O presidente Felipe Calderón fez uma proposta na semana passada para flexibilizar as regras de modo a permitir maior liberdade para parcerias com empresas estrangeiras. O México precisa do tipo de tecnologia em que a Petrobras é líder mundial. Já há alguma discussão em torno disso? Há interesse?
GABRIELLI
- Não posso comentar porque é uma decisão interna do México. Se houver mudança nas leis, vamos estudar, considerando todas as possibilidades de investimentos que temos, inclusive no Brasil.


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