São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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ONU pede mudança na agricultura para garantir segurança alimentar

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A ONU pediu ontem mudanças urgentes na agricultura mundial para reduzir os perigos causados pelo encarecimento dos alimentos. Uma comissão da organização apontou a produção de álcool como um dos motivos do aumento de preços que esvazia o prato dos mais pobres e já ameaça a estabilidade de alguns países.
Com o preço dos produtos agrícolas batendo recordes, aumentou a preocupação mundial com a segurança alimentar e esquentou o debate em torno do uso de grãos como matéria-prima para combustíveis. O relator da ONU para Direito à Alimentação, Jean Ziegler, voltou a chamar a atenção para o problema na segunda-feira ao chamar os biocombustíveis de "crime contra a humanidade".
O preço da farinha subiu 130% desde março do ano passado, e o da soja, 87%. Os alimentos em geral encareceram 83% nos últimos três anos. O estudo patrocinado por cinco agências da ONU adverte que essa inflação está corroendo o poder de compra das populações carentes e pode levar a mais protestos, como os ocorridos em Haiti, Egito e Filipinas.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), que colaborou com o estudo, os alimentos representam de 60% a 80% da despesa dos consumidores nos países em desenvolvimento, enquanto no mundo desenvolvido a proporção fica entre 10% e 20%. Essa distorção só poderá ser corrigida, diz o documento, com reformas na agricultura mundial, como a redução do protecionismo.
O problema é que os benefícios trazidos pelos avanços na produção são mal distribuídos, afirma o diretor da comissão, Robert Watson. "Em geral, os pobres ganham pouco ou nada, e 850 milhões de pessoas continuam famintas ou desnutridas, com outros 4 milhões entrando nesse grupo todo ano."
O chefe das negociações agrícolas da OMC, Crawford Falconer, disse que um acordo na estagnada Rodada Doha não conteria a escalada de preços. "A rodada terá um impacto positivo no futuro. Mas não tem a resposta a curto prazo de que o mundo real necessita."


Com agências internacionais


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