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ONU pede mudança na agricultura para garantir segurança alimentar
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A ONU pediu ontem mudanças urgentes na agricultura
mundial para reduzir os perigos causados pelo encarecimento dos alimentos. Uma comissão da organização apontou
a produção de álcool como um
dos motivos do aumento de
preços que esvazia o prato dos
mais pobres e já ameaça a estabilidade de alguns países.
Com o preço dos produtos
agrícolas batendo recordes, aumentou a preocupação mundial com a segurança alimentar
e esquentou o debate em torno
do uso de grãos como matéria-prima para combustíveis. O relator da ONU para Direito à Alimentação, Jean Ziegler, voltou
a chamar a atenção para o problema na segunda-feira ao chamar os biocombustíveis de "crime contra a humanidade".
O preço da farinha subiu
130% desde março do ano passado, e o da soja, 87%. Os alimentos em geral encareceram
83% nos últimos três anos. O
estudo patrocinado por cinco
agências da ONU adverte que
essa inflação está corroendo o
poder de compra das populações carentes e pode levar a
mais protestos, como os ocorridos em Haiti, Egito e Filipinas.
Segundo a FAO (Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), que colaborou com o estudo, os alimentos representam de 60% a
80% da despesa dos consumidores nos países em desenvolvimento, enquanto no mundo
desenvolvido a proporção fica
entre 10% e 20%. Essa distorção só poderá ser corrigida, diz
o documento, com reformas na
agricultura mundial, como a redução do protecionismo.
O problema é que os benefícios trazidos pelos avanços na
produção são mal distribuídos,
afirma o diretor da comissão,
Robert Watson. "Em geral, os
pobres ganham pouco ou nada,
e 850 milhões de pessoas continuam famintas ou desnutridas,
com outros 4 milhões entrando
nesse grupo todo ano."
O chefe das negociações agrícolas da OMC, Crawford Falconer, disse que um acordo na estagnada Rodada Doha não conteria a escalada de preços. "A
rodada terá um impacto positivo no futuro. Mas não tem a
resposta a curto prazo de que o
mundo real necessita."
Com agências internacionais
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