São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

O emprego e a virada do ministro


Em relação a 2008, país cria 612 mil empregos a menos; criação de vagas em março não evita alta do desemprego


DE JANEIRO a março de 2008, o país criou 612 mil empregos formais a mais do que no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, 2009 está num vermelho-sangue escuro em matéria de emprego formal.
As indústrias ligadas à produção de veículos, de material de transporte e metalúrgica são dois dos três subsetores que, proporcionalmente, mais demitiram no primeiro trimestre (o outro foi a indústria de materiais elétricos e comunicações).
Quando o governo renovou a redução do IPI sobre carros, disse que um "acordo de cavalheiros" suspenderia demissões. Depois de abril.
Evitar desemprego por decreto é um equívoco. Mas, ainda que seja para valer, o pacto dos cavalheiros, intermediado pelos sindicatos, cai um pouco no ridículo: muitas cabeças já foram cortadas no primeiro trimestre e no final de 2008. O pacto protege uma porta arrombada e escorrega no leite derramado.
Ontem, o governo disse que pretende arrumar uma redução de impostos também para os frigoríficos. Os produtores de carnes foram ao matadouro devido à queda violenta das exportações e, em alguns casos, devido a apostas alucinadas no preço do dólar. Apenas um grande frigorífico demitiu mais gente que a Embraer. A fabricante de aviões foi parar nos tribunais e mereceu um show de Lula, que considerava as demissões "inaceitáveis". São aceitáveis as demissões nos frigoríficos?
Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, março foi "o mês da virada do Brasil". Lupi destaca a informação, factualmente também correta, de que em março foram criados 34 mil empregos formais. Isto é, entre demitidos e contratados, sobraram 34 mil empregados em março deste ano (em março de 2008, sobraram 206 mil). É um número positivo, decerto. De novembro de 2008 até janeiro de 2009, mais gente havia sido demitida do que contratada: o "saldo" havia ficado negativo em 797 mil empregos formais. Na média, foram quase 266 mil empregos a menos por mês.
O problema da "virada" de Lupi reside no fato de que os brasileiros que passam a procurar emprego todos os anos mal vão perceber que o saldo de empregos foi de 34 mil em março. Vão sentir na pele é que, de novembro de 2008 até março de 2009, caiu em 753 mil a "criação" de empregos formais (em relação ao período de novembro de 2007 a março de 2008). A depender de quem faz a conta, estima-se que é preciso criar de 90 mil a 120 mil empregos formais por mês apenas para incorporar os novos trabalhadores.
Isto é, o desemprego formal cresce; assim, os novos empregos que sobram pagam menos, em média. Apenas a indústria de transformação (exclui a extrativa, como a de minérios) perdeu 501 mil empregos desde novembro de 2008. É o grande setor que paga salários maiores.
Enfim, note-se que foi na administração pública que o emprego mais cresceu, proporcionalmente, no trimestre (afora o subsetor de "ensino"). No governo. Bidu.
Muito bem que a desgraça no emprego tenha ficado menor. Em abril, felizmente, outra vez a tristeza deve ser um pouco menor. Mas os indícios presentes de despiora da economia apenas nos dizem que empobrecemos bem e, por ora, apenas paramos de ficar mais pobres.

vinit@uol.com.br


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