São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Para a Fiesp, taxas elevadas alimentam a inflação e reduzem a competitividade da empresa no exterior

Produção encarece 10% com juros altos

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os altos juros cobrados hoje no Brasil aumentam, em média, o custo da produção industrial em 10%, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Pior. Como têm peso importante na produção, os juros acabam gerando um efeito contrário ao que deveriam: fazem os preços dos produtos industriais subir, alimentando a inflação, ao invés de combatê-la.
Essas são as conclusões de estudo divulgado ontem pelo presidente da entidade, Horacio Lafer Piva. Para o empresário, as altas taxas de juros pagas pelos empréstimos fazem parte do chamado "custo Brasil", que onera a produção das empresas brasileiras e as torna menos competitivas no mercado internacional.
"Sempre se disse que [o "custo Brasil"" precisa ser diminuído. Mas ninguém fez um esforço sério para mensurá-lo ou para reduzi-lo", afirmou Piva.
Segundo as estimativas da Fiesp, o custo dos juros varia de 3,8% a 10,34% do total da produção. Têm um custo de 3,8% as empresas que conseguem empréstimos com juros de cerca de 15% ao ano. Para as empresas que tomam recursos com juros de 45%, o custo sobe para 10,34% da produção. Ou seja, para cada R$ 100 produzidos, R$ 10,34 são destinados ao pagamento de juros.
"Mas poucas empresas conseguem captar dinheiro a 15%. São as empresas privilegiadas que buscam recursos no mercado internacional", diz Mario Bernardini, diretor da Fiesp.
Na avaliação de Bernardini, a maioria das empresas tem que recorrer ao mercado doméstico, ficando sujeitas a pagar juros que variam de 42% a 45% ao ano.
Segundo os representantes dos industriais paulistas, os impactos dos juros altos e dos impostos em cascata encarecem os produtos brasileiros em 20%.
Segundo Piva, os dois impactos correspondem a mais de 60% do "custo Brasil" e tornam a industria brasileira menos competitiva, já que as concorrentes de outros países pagam menos impostos e juros mais baixos.
"É mais ou menos como colocar um brasileiro para correr 100 metros rasos com uma mochila de 20 quilos nas costas e depois, se ele perder, dizer que isso aconteceu porque ele não é competitivo", disse Piva.
O presidente da Fiesp cobrou mais ousadia do Banco Central na condução da política monetária. "Nós entendemos o conservadorismo do BC, mas há espaço para reduzir os juros."
"Podemos queimar gordura sem comprometer a estabilidade de preços" completou Bernardini.
O estudo apresentado pela Fiesp calculou o impacto dos juros sobre o capital de giro das empresas. Mas as estimativas tendem a superestimar o efeito dos juros. Para fazer o cálculo, os pesquisadores consideraram que as empresas tomam emprestados todos os recursos necessários em cada etapa da produção.
Mas boa parte das empresas tende a evitar os empréstimos porque os juros são altos. Enquanto a participação das operações de crédito no PIB (Produto Interno Bruto) é de 68% no Chile, no Brasil a taxa fica em 28%.



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