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CONJUNTURA
Para a Fiesp, taxas elevadas alimentam a inflação e reduzem a competitividade da empresa no exterior
Produção encarece 10% com juros altos
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os altos juros cobrados hoje no
Brasil aumentam, em média, o
custo da produção industrial em
10%, segundo a Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo). Pior. Como têm peso importante na produção, os juros
acabam gerando um efeito contrário ao que deveriam: fazem os
preços dos produtos industriais
subir, alimentando a inflação, ao
invés de combatê-la.
Essas são as conclusões de estudo divulgado ontem pelo presidente da entidade, Horacio Lafer
Piva. Para o empresário, as altas
taxas de juros pagas pelos empréstimos fazem parte do chamado "custo Brasil", que onera a
produção das empresas brasileiras e as torna menos competitivas
no mercado internacional.
"Sempre se disse que [o "custo
Brasil"" precisa ser diminuído.
Mas ninguém fez um esforço sério para mensurá-lo ou para reduzi-lo", afirmou Piva.
Segundo as estimativas da
Fiesp, o custo dos juros varia de
3,8% a 10,34% do total da produção. Têm um custo de 3,8% as
empresas que conseguem empréstimos com juros de cerca de
15% ao ano. Para as empresas que
tomam recursos com juros de
45%, o custo sobe para 10,34% da
produção. Ou seja, para cada R$
100 produzidos, R$ 10,34 são destinados ao pagamento de juros.
"Mas poucas empresas conseguem captar dinheiro a 15%. São
as empresas privilegiadas que
buscam recursos no mercado internacional", diz Mario Bernardini, diretor da Fiesp.
Na avaliação de Bernardini, a
maioria das empresas tem que recorrer ao mercado doméstico, ficando sujeitas a pagar juros que
variam de 42% a 45% ao ano.
Segundo os representantes dos
industriais paulistas, os impactos
dos juros altos e dos impostos em
cascata encarecem os produtos
brasileiros em 20%.
Segundo Piva, os dois impactos
correspondem a mais de 60% do
"custo Brasil" e tornam a industria brasileira menos competitiva,
já que as concorrentes de outros
países pagam menos impostos e
juros mais baixos.
"É mais ou menos como colocar
um brasileiro para correr 100 metros rasos com uma mochila de 20
quilos nas costas e depois, se ele
perder, dizer que isso aconteceu
porque ele não é competitivo",
disse Piva.
O presidente da Fiesp cobrou
mais ousadia do Banco Central na
condução da política monetária.
"Nós entendemos o conservadorismo do BC, mas há espaço para
reduzir os juros."
"Podemos queimar gordura
sem comprometer a estabilidade
de preços" completou Bernardini.
O estudo apresentado pela
Fiesp calculou o impacto dos juros sobre o capital de giro das empresas. Mas as estimativas tendem a superestimar o efeito dos
juros. Para fazer o cálculo, os pesquisadores consideraram que as
empresas tomam emprestados
todos os recursos necessários em
cada etapa da produção.
Mas boa parte das empresas
tende a evitar os empréstimos
porque os juros são altos. Enquanto a participação das operações de crédito no PIB (Produto
Interno Bruto) é de 68% no Chile,
no Brasil a taxa fica em 28%.
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